Fruta-do-conde, fruta-pinha, ata, pinha… A múltipla nomenclatura da fruta verde, cheia de gominhos e levemente misteriosa pode representar também a pluralidade que está por trás da marca carioca Fruto do Conde. A começar pelos seus criativos.
“Eu sou engenheira e fashion designer. O Gil (Haguenauer), meu marido, é designer de produto e cenógrafo e a Rebecca (Faertes), minha filha, artista visual e designer gráfica”, conta Denise Faertes, 67 anos, proprietária da marca.
O resultado dessa mistura de referências, vivências e gerações é uma marca autoral, manual, artesanal e artística. Denise explica que a maior parte das peças são pintadas à mão livre, concretizando a proposta de trazer arte para as roupas, “fazer arte móvel”, descreve.
As pinceladas nos mais diversos tecidos têm sempre um objetivo: contar uma história. E, antes mesmo dos primeiros desenhos, existe a trajetória da criadora da marca. Denise trabalhou como engenheira por 34 anos.
No currículo, o título de doutora em engenharia divide espaço com de designer de moda pelo Instituto Europeu de Design (IED) do Rio de Janeiro.
“Eu não tinha experiência em moda, mas eu pinto desde criança, sempre pintei. E a minha família, de imigrantes, tinha muito medo de eu ser artista plástica. Eu nunca parei de pintar. Então eu fiz IED e passei a ter experiência com muitos coletivos e grandes eventos de moda”, narra.
Em 2020, ganhou bolsa para fazer mestrado em Fashion Design & Business em Milão, na Itália. Poucos meses depois, precisou retornar ao Brasil devido à pandemia da Covid-19. Em 2023, retomou os estudos e terminou o curso com louvor.
Para o trabalho de conclusão de curso, Denise criou o "Corpo Fechado", manto pintado manualmente a partir de estudos de teses sobre africanismo e amuletos afro-brasileiros, aliado à cultura judaica, de seus antepassados.
Na Fruto do Conde, o processo de criação começa com a escolha do conceito, por um dos três integrantes. Em seguida, é feita uma pesquisa aprofundada sobre o tema e todos dão sugestões, a partir de suas referências e vivências.
Essa mescla de conhecimentos é o que torna a marca única. “Moda é isso. E, como eu pinto, é uma forma de expressão muito forte, porque é mais soul. É importante você perceber sua energia na roupa. Somos muito perfeccionistas.”
Na lista de temas favoritos da criativa está a cultura brasileira, passando pelo folclore, fauna, flora e cores. “É macunaíma. Absorve, tritura e cospe.”
O último trabalho da marca foi apresentado aos cearenses no DFB Festival. A coleção “Do Kabuki ao Cangaço” traz 20 looks, entre roupas e acessórios, feitos também com sobras e retalhos de tecidos, metais, madeira e rolha de cortiça.
Antes de apresentar este primeiro grande desfile da história da marca, Denise realizou em 2021 uma exposição no Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro, da coleção Floresta Olímpica, de roupas e acessórios esportivos agêneros criados em homenagem às Olimpíadas de Tóquio.
Também assinou alguns figurinos da novela Rock Story (2016) e da série Desalma (2020), protagonizada por Cassia Kis, juntamente com a figurinista Beth Filipeck.
Olhando para o trabalho artesanal com otimismo, a designer acredita que, cada vez mais, ele será sinônimo de preciosidade. Mesmo sem negar a importância da tecnologia, afirma que o ser humano precisa aprender a existir de outra maneira, com uma visão diferenciada, de mais autonomia e menos “coisas”.
Para ela, o pintar à mão está relacionado à transformação, ressignificando as roupas que já existem; às escolhas, como o não uso de couro natural; e às novas práticas, como o uso do látex de seringueiras da Amazônia, ambientalmente amistosa e socialmente mais justa e inclusiva.
“A gente não pode imaginar um futuro e continuar queimando roupa. E nem vou falar do trabalho escravo. É preciso ter essa consciência de prestigiar o trabalho local, tem que gerar emprego e renda.” Para ela, praticar o desapego e ignorar o acúmulo não impedem o belo.
Para as próximas temporadas, a designer afirma que seguirá com o trabalho artesanal, com mão-de-obra cada vez mais especializada e incorporando novas práticas, processos e metodologias. Os planos também incluem uma linha de acessórios veganos.
“Vamos criar modelos cada vez mais ambientalmente amistosos e socialmente mais justos”, planeja. Na lista de desejos está o reconhecimento do seu trabalho e do DNA da marca, proporcionando identificação por parte das pessoas e a escolha de uso como uma declaração identitária.
E completa: “Eu gosto de moda divertida. E adoro provocar reação nas pessoas. Trazer alegria, sem limites, sem preconceito, sem idade, atemporal, inclusiva. Eu faço roupa para todo mundo, não tem problema de tamanho, é para quem quiser.”
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