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Vera Holtz traz a Fortaleza peça que fala da formação da sociedade
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Vera Holtz traz a Fortaleza peça que fala da formação da sociedade

Peça "Ficções", estrelada por Vera Holtz, discute a formação da sociedade com situações que exploram a infelicidade humana
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Vera Holtz estrela espetáculo
Foto: Guga Melgar/Divulgação Vera Holtz estrela espetáculo "Ficções"

O ser humano se diferencia de outras espécies porque é capaz de criar ficções e pensar coletivamente, resultando em nações, leis, religiões, sistemas políticos ou mesmo empresas. Ainda assim, não são capazes de serem felizes como seus ancestrais. Essa premissa está na obra "Sapiens", de Yuval Noah Harari, que inspira o espetáculo "Ficções", escrito por Rodrigo Portella.

Em cartaz dos dias 3 a 5 deste mês, no Cineteatro São Luiz, a montagem é estrelada por Vera Holtz, que transita entre personagens durante a narrativa, incluindo uma "sapiens fêmea" que é a narradora da humanidade. "A Vera Holtz está narrando a história do Homo Sapiens e a criação da humanidade e pede ajuda, ora para um professor, que, na verdade, é um asno; ora para uma carcaça de um fóssil; e ora para uma mulher que resolveu que aquela largar tudo e virar nômade. Então esses personagens vão contando a história do recorte que Rodrigo Portella resolveu fazer do livro", anuncia a atriz, em terceira pessoa.

Na peça, todos esses elementos se misturam e interagem entre si. Para a construção da trama, a montagem conta com Federico Puppi, autor e performer da trilha sonora original, que divide palco com a atriz. "Alguns acessos emocionais só a música chega, por isso ela entra nessa complementação da dinâmica do espetáculo", relata Vera.

Federico destaca: "O espetáculo não tem uma narrativa linear, ele tem bolhas de conteúdo e a gente vai pulando de uma bolha para outra. Tem momentos para rir, tem para chorar, tem para cantar junto, tem momento no qual a gente chama a plateia para participar de alguma forma do espetáculo. Então, ele passa por diversas disciplinas teatrais".

Sobre a dinâmica em cena, Vera relata que tem prazer em assumir diversas personagens em cena, que isso faz parte do seu trabalho: "Esse é o jogo do ator. Quanto mais você pode transitar e pular de um personagem para o outro, fazer uma dinâmica de tragédia, comédia, tragicomédia, drama, mais gostoso. Porque essa dinâmica é do teatro, esse é o play, esse é nosso o jogo. O nosso jogo são as escolhas, o maior desafio de um ator são as escolhas".

Nesse aspecto, os dois apontam que a peça se assemelha ao Teatro de Revista — gênero popular no País no século passado — devido ao seu caráter não-linear, das dinâmicas apresentadas e aos diferentes recortes. Vera compara: "A revista é uma sequência de esquetes, em que, a cada esquete, surge uma história nova. Ela é normalmente acompanhada por música, tem um número dramático, tem números de plateia, isso significa a revista tradicional". Complementando a atriz, o músico afirma que "Ficções" é uma "revista filosófica e fluida que atravessa vários gêneros teatrais".

Vera Holtz estrela espetáculo "Ficções"(Foto: Flavia Canavarro / Divulgação)
Foto: Flavia Canavarro / Divulgação Vera Holtz estrela espetáculo "Ficções"

Com 250 apresentações ao longo de dois anos apresentando o espetáculo pelo Brasil, Federico conta que a peça "foi ganhando musculatura" e ficando cada vez mais "sólida" ao longo do tempo. "A obra é muito profunda, pode ter várias camadas de entendimento dentro dela. Então, nesses dois anos, a gente foi mergulhando fundo nesses assuntos e nossa compreensão do espetáculo e do texto foi ficando cada vez mais profunda".

Vera destaca que um dos pontos de amadurecimento a partir de tantas apresentações foi perceber a percepção do público, que demonstra "energia vibrante" durante e depois da montagem.

"De alguma forma, as pessoas que vão ver a peça vão para ver Mãe Lucinda, ou a Santana, ou a Dona Redonda, porque elas já têm uma identificação afetiva com aquela entidade Vera Holtz. É uma identificação da memória de trabalhos que a Vera Holtz fez, talvez isso colabore para aproximar o público de mim em 'Ficções'", argumenta a atriz sobre sua relação com o público do espetáculo.

Sobre a sonorização da peça, Federico destaca que a trilha sonora foi criada junto à encenação e possui violoncelo acústico, violoncelo elétrico, teclado, piano e sintetizadores. "Eu pensei toda a trilha em surround, para a gente ter uma aproximação imersiva da plateia no espetáculo através do som. No teatro todo, há momentos em que o som circula ao redor do público", diz.

Questionados sobre a parte favorita do espetáculo, os artistas responderam de maneiras opostas. Federico prefere o início, nos "segundos antes de tudo acontecer", por sentir que é "um momento de conexão". Já a atriz, com muita empolgação, fala que a melhor parte favorita é o fim.

"É como se fosse um termômetro: quando termina o espetáculo e tem uma pausa, você sente a energia das palmas, você consegue entender qual foi o nível de compreensão da plateia do espetáculo", afirma.

Ela finaliza narrando situações que a fazem preferir o fim do espetáculo: "Depois que acaba, a gente conversa com a plateia e as pessoas vêm nos contar o que elas sentiram durante a peça. Eles falam assim: 'Alugou todo o triplex na minha cabeça'. Outras pessoas falam assim: 'Meu Deus, vocês me viraram do avesso'. Tem também as que falam assim: 'Eu vou ficar pensando sobre esse assunto durante uma semana'. A gente encontra pessoas na rua e elas falam assim: 'Eu não tiro a peça da minha cabeça'".

Ficções

  • Quando: 3 a 5 de outubro, às 19 horas
  • Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 - Centro)
  • Quanto: a partir de R$ 21, vendas em sympla.com.br

 

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