Logo O POVO+
Músico cearense usa disco de estreia como jornada de autoconhecimento
Vida & Arte

Músico cearense usa disco de estreia como jornada de autoconhecimento

Artista cearense Briar lança primeiro álbum solo focado no acesso ao passado como parte do processo de autoconhecimento
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Artista Briar (Foto: Jamille Queiroz/Divulgação)
Foto: Jamille Queiroz/Divulgação Artista Briar

Aguarrás é um tipo de solvente, derivado ou não do petróleo, que auxilia na preservação da cor e do brilho de tintas e paredes. A substância também intitula o álbum de estreia de Briar, cearense natural de Camocim. O disco já está disponível nas plataformas digitais de música.

O trabalho começou a ser "gestado" em 2020, conta o músico. "Foi quando eu decidi que eu mesmo produziria um trabalho solo e me dedicaria a estudar e pesquisar sobre produção musical para executar esse plano", relembra. A partir daí, conta Briar, ele começou a se debruçar sobre composições antigas e também a dar forma a algumas ideias novas. "Tentei imaginar um álbum que fizesse sentido a partir das possibilidades que eu tinha de gravar e produzir", conta o artista independente. 

"Nesse meio tempo, o projeto de gravação foi aprovado no edital da Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (Secultfor) da Lei Paulo Gustavo, e aí consegui finalizar esse processo da melhor forma, remunerando o time de pessoas que já tinham entrado nessa empreitada junto comigo antes mesmo do projeto ser aprovado. Garanti o custo de alguns processos como aluguel de estúdio, logísticas, dentre outras coisas", detalha Briar, cujo contato com a música iniciou ainda na infância.

Atuante também na área de sonoplastia, o camocinense aprendeu a tocar violão na igreja evangélica. "Mas até sair, com uns 15 anos, eu tive a experiência de aprender quase todos os instrumentos da igreja, tinha tempo e liberdade para 'mexer' nos instrumentos e descobrir como eles funcionavam", relembra.

"Também aprendi a harmonizar vozes e formas diferentes de usar minha própria voz, foi realmente uma escola", destaca o artista, que atualmente cursa graduação em Música na Universidade Federal do Ceará. O ponto de virada para trilhar a carreira nessa linguagem artística também veio cedo, aos 17 anos.

"Eu tocava música brasileira em bares e restaurantes, todo fim de semana, acho que foi um outro momento muito pedagógico para minha carreira artística. Mas quando eu morei em Sobral, mais precisamente no ano de 2018, vivendo a efervescência cultural/artística muito grande que estava acontecendo na cidade, eu entendi que seria difícil priorizar alguma coisa na minha vida que não tivesse a ver com música", revela Briar.

Inicialmente, o músico não sabia qual seria o conceito do álbum, embora já tivesse o título e o subtítulo definidos: "Aguarrás - Como Preservar o Brilho da Memória". "Apesar dessa escolha, eu não sabia (pelo menos não conscientemente) sobre o que o álbum falava no geral ou que tema perpassa todas as canções".

"Mas, no meio de alguma das crises que tive durante a produção, eu resolvi sair de um processo de negação que havia adotado no início do processo em relação a canções antigas. Decidi que usaria elas no repertório, sim, e eu lembro que essa escolha mudou todo o curso do processo", salienta o artista cearense.

"Então, eu entendi que olhar pra trás poderia, sim, ser uma possibilidade de imaginar futuros. Acessar minhas memórias era um processo importante de autoconhecimento. Sem saudosismo, apego, nem nada disso, mas usando dessa memória como repertório pra saber o que eu quero ou não continuar construindo", pontua o cantor, que também atua como técnico de áudio.

O processo criativo, então, percorre o mesmo caminho da jornada de autoconhecimento de Briar. "Sinto que no processo inicial do álbum, com o fato de estar aprendendo a produzir, eu entrei em algumas obsessões de que precisava fazer coisas muito novas e vanguardistas ou precisava me reinventar completamente".

"Mas quando mergulhei mais em mim e na minha história, entendi que tinha traços criativos valiosos que poderiam ser potencializados ao invés de adaptados. Testei e experimentei muitas formas e métodos, mas a maioria das canções que foram pro álbum nasceram no violão e com algumas palavras escritas nos meus caderninhos ou bloco de notas", detalha o músico, que após usar o método analógico para começar a compor complexificava as canções no computador "criando arranjos e gravando múltiplos instrumentos".

Inclusive, assumir toda a produção do projeto foi o principal desafio durante a feitura dele. "Foi o que mais me custou nesse processo, o álbum demorou muito e eu passei por momentos muito difíceis, de duvidar de mim e da minha obra, já que eu estava fazendo tudo de uma forma muito solitária. Então, eu escrevia, eu gravava, editava, julgava se estava bom ou não. Dentro desse jogo foi difícil não ter uma crise uma hora ou outra", revela.

"Mas por fim, eu acabei chamando várias pessoas amigas e que eu admirava muito pra participar, e esse peso acabou sendo dividido. Apesar de ser um álbum solo e de eu assinar a produção, foi um trabalho feito a muitas mãos", salienta o artista.

A experimentação não é só algo que marca a primeira obra de Briar, mas também define a identidade do artista. "Não em um sentido estrito de uma corrente estética experimental, mas entendendo que cada processo é sempre o primeiro, um lugar novo a ser descoberto, nenhum é igual ao outro, por isso que eu me sinto sempre testando".

O músico já planeja o lançamento de um segundo trabalho para 2025, além da realização do show de "Aguarrás".

Leia no O POVO + | Confira mais histórias e opiniões sobre música na coluna Discografia, com Marcos Sampaio

"Aguarrás"

  • Onde: Disponível no Spotify, Deezer, YouTube e Apple Music

 

O que você achou desse conteúdo?