Em entrevista concedida ao Vida&Arte, o cineasta Daniel Gonçalves reflete sobre os debates apresentados em “Assexybilidade”, documentário em cartaz no Cinema do Dragão do Mar. O longa-metragem traz 15 relatos de pessoas com deficiência que contam suas experiências envolvendo suas sexualidades e os preconceitos que muitos carregam em relação ao tipo de comportamento que se espera dessas pessoas.
O filme é a segunda produção do diretor, que esteve à frente do documentário “Meu nome é Daniel” (2018). Nesse caso, a produção se trata de uma autobiografia do próprio Daniel Gonçalves, onde ele relata em primeira pessoa a sua trajetória de vida, tendo sido diagnosticado na infância com uma deficiência não reconhecida pela medicina. Daniel também traz ao longa-metragem questionamentos sobre a sua vida e o seu papel como pessoa com deficiência na sociedade atual.
Entre os entrevistados em “Assexybilidade”, destaque para os cearenses Jéssica Teixeira e João Paulo Lima, artistas que têm trajetórias consolidadas nas artes cênicas na Capital e fora dela. O documentário teve sua première mundial no Outfest Los Angeles 2023, ganhou o prêmio de melhor direção de documentário no Festival do Rio 2023, foi exibido no festival For Rainbow em 2023 e estreou em circuito comercial no dia 19 de setembro de 2024.
O POVO - Como surgiu a ideia para dirigir "Assexybilidade"?
Daniel Gonçalves - A ideia do "Assexybilidade" surgiu durante a montagem do "Meu nome é Daniel". Neste filme, tem uma sequência em que eu falo um pouco sobre as minhas próprias experiências afetivas e sexuais. A partir disso, em conversas que tive com o Vinicius Nascimento, que montou o filme comigo, nós resolvemos fazer um filme só sobre isso, porque, já naquela época, nós já não entendíamos o quão tabu era falar sobre isso.
OP - Houve algum critério na escolha das 15 pessoas com deficiência que tiveram seus relatos no filme?
Daniel - Houve sim. O critério que escolhi foi que o filme fosse o mais diverso possível. Então, era importante para nós que o filme tivesse a maior variedade de essências possíveis. Então, nós temos pessoas com essências variadas.
OP - Como o filme faz para romper a ideia pré-concebida que muitas pessoas carregam de que a pessoa com deficiência não pode ter uma vida sexualmente ativa?
Daniel - É através dos relatos das pessoas. Eles vão questionar qual é esse ideal de beleza e que esse tal corpo padrão que as pessoas dizem. Eu acho que o filme quebra esses tabus.
OP - Quais são os desafios de ser um diretor com deficiência no Brasil?
Daniel - Eu acho que depois de ter feito dois longas, acredito que eu já superei essa barreira de ser um diretor com deficiência. Acho que hoje, nos lugares que eu chego, a minha deficiência já não é a primeira coisa que importa. Então, depois de dois longas, esse desafio de ser um diretor com deficiência já ficou para trás.
OP - Na sua opinião, qual é o panorama do acesso à cultura por pessoas com deficiência no País?
Daniel - Eu acho que nós já vemos muita acessibilidade nos espaços. Então, a maioria dos museus tem espaços acessíveis, as exposições e os espaços culturais são minimamente acessíveis. Mas o que eu acredito que faltam mais pessoas com deficiência produzindo cultura e arte. Ainda somos poucos que temos os seus trabalhos expostos. Existem muitas pessoas produzindo, mas acho que ainda falta espaço de exibição para esses projetos aparecerem.
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