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HQ 'O Eternauta', que vai virar série da Netflix, ganha versão definitiva no País
Vida & Arte

HQ 'O Eternauta', que vai virar série da Netflix, ganha versão definitiva no País

Bruno Zago, um dos sócios da Pipoca e Nanquim, destaca a obra "O Eternauta", quadrinho argentino agora revisitado 
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Clássico
Foto: Pipoca & Nanquim/Divulgação Clássico "O Eternauta" ganha "edição definitiva" no Brasil pela Pipoca & Nanquim

"O Eternauta", HQ argentina escrita por Héctor Germán Oesterheld e ilustrada por Francisco Solano López, acompanha Juan Salvo, um homem comum que, ao lado de sua família e amigos, luta para sobreviver após uma misteriosa nevasca letal que cobriu Buenos Aires. Enquanto tentam se proteger, descobrem que a nevasca é parte de uma invasão alienígena que ameaça toda a humanidade. Com fortes elementos de ficção científica e crítica social, "O Eternauta" é uma das obras mais icônicas que refletem o contexto político da América Latina nos anos 1950, permanece relevante até hoje.

A editora Pipoca e Nanquim, conhecida por suas edições cuidadosas e pela curadoria de grandes clássicos dos quadrinhos, lança uma nova versão de "O Eternauta" no próximo dia 28 de outubro. O projeto gráfico exclusivo da edição, que respeita e inova em relação à obra original, foi muito elogiado pelos herdeiros dos criadores. Em entrevista ao "Vida&Arte", Bruno Zago, um dos sócios da Pipoca e Nanquim, compartilha os desafios e motivações por trás desse lançamento, além de discutir o papel da editora na revitalização do mercado de quadrinhos no Brasil.

O POVO – A edição de "O Eternauta" lançada pela Pipoca e Nanquim apresenta um projeto gráfico exclusivo. Quais são os principais elementos que tornam esta versão especial e como a editora respeitou a essência da obra original ao trazer essas inovações visuais?
Bruno Zago – Por contrato, toda editora que publica “O Eternauta” no mundo precisa criar seu próprio projeto gráfico. Buscamos, portanto, criar um projeto que se diferenciasse de todos os demais que já foram feitos, como o das edições da Espanha e dos Estados Unidos, e criar algo único e inovador, que trouxesse a essência da obra ao mesmo tempo. O resultado foi muito elogiado pelos herdeiros dos autores e aprovado por eles. Sempre foi nossa intenção trazer uma luva para que o livro pudesse ser armazenado verticalmente, e eles adoraram isso; foi algo inédito. Mas havia um elemento já utilizado em outras edições que queríamos muito manter, que era o buraco no capacete do Eternauta, e isso contribui para deixar a edição ainda mais bonita.

OP – "O Eternauta" é uma das HQs mais icônicas da América Latina, com grande relevância histórica e política. O que motivou a Pipoca e Nanquim a trazer essa obra de volta ao mercado brasileiro e qual o impacto esperado no público contemporâneo?
Bruno – Não existe nenhum outro quadrinho dos anos 1950 que continue tão atual hoje em dia quanto “O Eternauta”, isso já demonstra o nível de qualidade da obra. “O Eternauta” é um quadrinho que estava nos nossos planos de publicação desde a inauguração da editora, então sabíamos que os herdeiros dos autores estavam recuperando as páginas digitalmente, só tínhamos que aguardar isso acabar para elaborar uma proposta e publicar. Que bom que isso deu certo em 2024. Esperamos que seja aquele tipo de obra que teremos que manter em catálogo constantemente, sempre reimprimindo.

OP – A Pipoca e Nanquim tem se consolidado como uma editora referência no Brasil, responsável por resgatar grandes clássicos e apresentar novos talentos. Como vocês avaliam o papel da editora na revitalização do mercado de quadrinhos no País?
Bruno – Para ser bem sincero, só o que buscamos é fazer um trabalho muito bem feito, conciliando o melhor acabamento possível com o melhor preço possível, respeitando a qualidade artística dos materiais que licenciamos. No fim, sempre fazemos as edições da maneira como queremos em nossas coleções. Por sermos todos colecionadores apaixonados por quadrinhos, fazemos exatamente como queríamos que fosse feito caso aqueles quadrinhos não fossem publicados por nós. Se hoje somos referência, isso é meramente consequência de um trabalho bem executado e que transparece a nossa paixão. Somos muito gratos ao nosso público e nossos leitores por isso. Em outras palavras, não avaliamos nosso papel para mais nada além de fazer bem o nosso trabalho, o que vem daí são boas consequências.

OP – Com um catálogo vasto e diverso, a Pipoca e Nanquim equilibra publicações independentes, clássicos e novidades internacionais. Quais são os principais desafios de manter esse equilíbrio em um mercado que historicamente passou por altos e baixos no Brasil?
Bruno – O maior desafio é arranjar espaço no calendário e dinheiro para tudo que queremos lançar. Ano após ano vamos realizando nossas vontades, sem dar passo maior que a perna.

OP – O mercado editorial brasileiro de quadrinhos vem crescendo, mas enfrenta desafios, especialmente na distribuição e concorrência com o mercado digital. Como a Pipoca e Nanquim tem se adaptado a essas mudanças e quais são as estratégias adotadas para continuar crescendo?
Bruno – Distribuição é um problema há bastante tempo. Quando começamos, já era um grande problema. Nos adaptamos apostando na venda direta, sem consignação. Nossos produtos são bons e existe interesse por parte do público, logo, a livraria quer tê-los na prateleira para vender. É assim que atuamos desde o começo, unindo divulgação online a vendas, sem consignação. Sobre o mercado digital, nossos quadrinhos e livros são todos convertidos para Kindle, exceto aqueles não permitidos pelo licenciante no contrato, mas as vendas ainda são ínfimas. A concorrência com o mercado digital é mais no sentido de que as pessoas preferem passar seu tempo na internet, com redes sociais ou jogos mobile, em serviços de streaming etc., em vez de gastar lendo um quadrinho, então temos que nos focar no nicho que ainda compra e lê quadrinhos, ao mesmo tempo que buscamos ampliar o nicho com nosso trabalho na internet pelo YouTube.

OP – A Pipoca e Nanquim tem contribuído para reintroduzir ao público brasileiro grandes obras que estavam fora de circulação. Como vocês enxergam a responsabilidade de preservar e difundir o legado cultural dessas histórias para as novas gerações?
Bruno – A responsabilidade de preservação nunca recai sobre apenas um agente do mercado, e sim para todo o mercado, mas, principalmente, para os governos que administram a cultura no País. Sentimos que fazemos a nossa parte resgatando grandes obras do passado, muitas vezes atuando diretamente na digitalização e remasterização delas, e publicando-as no Brasil com o devido acabamento e cuidado.

OP – Além de "O Eternauta", a Pipoca e Nanquim investe em diversas reedições de obras clássicas. Como vocês escolhem quais títulos resgatar e quais critérios garantem a relevância dessas publicações no mercado atual?
Bruno – Diversos fatores podem nos fazer querer publicar uma obra no Brasil. Por exemplo, ela pode ter um contexto histórico muito importante, ou ser de um autor que admiramos muito, ou exercer um papel social relevante, ou simplesmente ser uma baita história interessante, seja em termos históricos ou de ficção mesmo. No fim, lançamos aquilo que queremos ler e que acreditamos que mais pessoas também terão interesse.

OP – A Pipoca e Nanquim se destaca pela qualidade de suas edições. Qual a importância de investir em projetos gráficos diferenciados e materiais de alta qualidade, e como isso fortalece a relação do leitor com a obra?
Bruno – É de fundamental importância, pois nosso mercado é um nicho muito pequeno, então temos que despertar o interesse das pessoas por meio do capricho e da qualidade das obras. Quase ninguém mais hoje compra quadrinhos ou livros para ler e jogar fora, isso é coisa da década de 1950 e 1960. Também foi-se o tempo de vendas altíssimas, como nos anos 1980 e 1990. Então, temos que garantir o sustento e a continuidade do nosso trabalho por meio de edições bem acabadas e de bom custo-benefício, que agradem ao público que está até hoje no nicho, que é aquele preocupado com um alto padrão artístico daquilo que vai consumir e guardar.

OP – A Pipoca e Nanquim tem um papel importante na democratização do acesso à cultura de quadrinhos no Brasil. Como vocês lidam com a questão de tornar obras como "O Eternauta" acessíveis a diferentes públicos, considerando fatores como preço, distribuição e relevância cultural?
Bruno – Buscamos parceiros distribuidores que levem nossas obras ao maior número possível de cidades brasileiras, seja com parceiros livreiros ou via lojas virtuais que enviem para todo o país, e difundimos a informação por nosso canal de YouTube para que mais pessoas tomem contato com as boas obras que publicamos e, eventualmente, se interessem em comprar e ler. Com relação ao preço, buscamos fazer um bom trabalho que nos permita sempre imprimir tiragens superiores a 3 ou 4 mil cópias, indo para além de 5 mil sempre que possível, para conseguirmos melhores negociações com as gráficas e podermos praticar o melhor preço com o melhor acabamento.

OP – Podemos esperar algum material inédito incluído nesta edição de "O Eternauta" que ainda não foi revelado?
Bruno – Gostaríamos muito de publicar as histórias de "O Eternauta", que saíram depois de "O Eternauta 2", que nunca foram lançadas no Brasil e que foram escritas por outros roteiristas argentinos que queriam dar continuidade à obra de Oesterheld, mas ainda não é hora de falar sobre isso. Antes, precisamos lançar "O Eternauta" e "O Eternauta 2".

OP – Durante a produção da nova edição de "O Eternauta", houve algum momento em que vocês sentiram que seria a edição definitiva no Brasil? Quais foram as reações da equipe ao ver o produto final?
Bruno – Sempre foi do interesse dos licenciantes que essa fosse a edição definitiva de "O Eternauta" no Brasil, então trabalhamos com essa premissa desde sempre. Todos da equipe amaram o resultado final. Material de boa qualidade, capa dura com miolo offset de 120 gramas, com luva vertical e furo na capa casando com a arte na guarda, marcador de páginas, textos editoriais novos, e tudo isso ainda com a HQ redigitalizada? Não tem como não ser o melhor produto de todos.

OP – Existe algum título ou projeto especial que a Pipoca e Nanquim está planejando após "O Eternauta"? Algo que os fãs podem aguardar ansiosamente?
Bruno – Sempre. "O Eternauta" foi nosso lançamento de número 200, mas os bons quadrinhos não acabam aí, muito mais vem por aí.

O Eternalta (edição definitiva)

  • Editora Pipoca e Nanquim
  • 372 páginas
  • Quanto: R$153,93
  • Onde comprar: pipocaenanquim.com.br
  • Lançamento previsto para dia 28/10
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