Auto intitulada "Princesinha do Gueto", Ebony é um dos principais nomes da nova geração do rap. Nascida em 27 de abril de 2000, em Queimados, no Rio de Janeiro, Milena Pinto de Oliveira, seu nome de registro teve o interesse pela música ainda criança. "Eu comecei a interagir com instrumentos e a cantar na igreja e na escola católica que eu estudei dos meus 4 aos 10 anos".
Uma das atrações do Festival Música Alimento da Alma (Mada), que acontece de 18 a 20 de outubro, a cantora revela que não imaginava transformar a música em profissão e se tornar reconhecida na área. "Admito que eu não tinha dimensão do que estava fazendo e ajudando a fomentar no início. Quando eu entendi sobre influência, ser referência e sobre o meu valor, eu entendi que esse seria meu destino".
Reflexo da geração Z, a Princesinha do Gueto não tem medo de usar a música para dizer o que pensa. Sem metáforas, Ebony prefere "mandar o papo reto" (gíria carioca que indica que alguém está falando sério e de forma direta) em suas rimas. Seja para falar de sexo ou de questões sociais, como o machismo no rap, a artista não tem medo de dizer o que pensa.
A música "Espero Que Entendam", presente no segundo álbum de estúdio "Terapia", lançado em 18 de outubro de 2023, ilustra como a fluminense é desboca nos versos de suas canções. Além de tecer críticas a misogonia da cena, a rapper citou os nomes dos rappers para salientar como eles contribuem para essa estrutura.
"Soube que o Baco disse que eu sou superestimada por ser sudestina/Mas me botou nos melhores pra eu ver a rotina/No início, achei que era onda/Aí ele foi e fez um feat com Luísa Sonza/Porra, vida, por favor, se manca, sustenta tua banca/Eu nem sou tua namorada e me trocou por branca", entoa a artista em um dos trechos da música.
Na época do lançamento, a canção rapidamente viralizou nas redes sociais, fazendo com que os artistas citados se pronunciassem a respeito. Ebony confessa que causar esse incômodo no rap era o objetivo da composição feita em parceria com a multiartista Larinhx. "Eu não sou pretensiosa, mas sei exatamente o que eu estou fazendo. Então, de certa forma, pode se dizer que sim, esperava chegar nesse momento da minha carreira".
Com seus versos transparentes, a cantora se une a outros nomes da nova geração como Duquesa, que também estará no Mada, Ajuliacosta, Slipmami e Budah. "Acho que nós somos o resultado de algo que já vem sendo feito a muito tempo", reconhece Ebony, que se refere de modo indireto a Flora Matos, Drik Barbosa e Tássia Reis que pavimentaram o terreno para a geração atual.
"Acredito que simplesmente chegou o momento de mulheres serem fãs de pessoas que fazem rap falando sobre o ponto de vista delas. Era tudo muito masculino, inclusive o público. Sinto que ter o público feminino com a gente potencializa bem mais o que a gente já fazia a muito tempo", pontua a rapper fluminense.
Cultura nerd e otaku são dois outros assuntos que Ebony traz em suas músicas, como um modo de apresentar aos seus fãs uma outra camada. Aos moldes da estadunidense Megan Tee Stallion, a princesinha do guetto traz personagens como Naruto nas letras de canções como "Pensamentos Intrusivos".
"Um garoto estranho a beça pra andar do lado/O meu tesão aumenta muito se ele for otaku/ Um que corre igual Naruto levantando o braço". diz um trecho da música. Para a artista, abordar elementos da cultura pop em suas canções é um modo de criar um espaço inclusivo para si mesma.
"Eu cresci sendo muito excluída de todos os ciclos por ser preta e nerd, tanto os pretos quanto os nerds não me aceitavam muito. Hoje em dia, isso mudou bastante, tenho muito orgulho de ter meus 10 centavos nessa representatividade", destaca.
Para o Mada, Ebony promete um show "impecável, como sempre". "Coloquei muito suor e esforço em equipe", finaliza.
Festival Mada