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Conheça Vitor Cunha, cearense que vem se destacando na moda autoral
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Conheça Vitor Cunha, cearense que vem se destacando na moda autoral

Do Maracanaú, Vitor Cunha fala sobre trajetória na moda, relembra a influência das avós costureiras e adianta os planos para expandir sua marca
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Vitor Cunha anuncia novidades, incluindo uma nova coleção inspirada no litoral e no jangadeiro (Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Vitor Cunha anuncia novidades, incluindo uma nova coleção inspirada no litoral e no jangadeiro

Em maio de 2019, a coleção "Mar Interior", de Vitor Cunha, atravessou a passarela do DFB com peças em tons predominantes de branco, azul, verde e laranja. A técnica com macramê e crochê chamou atenção da imprensa que acompanhava o desfile e deleitou os olhos da plateia, se tornando um destaque daquela edição. Este foi apenas um dos passos dados pelo cearense em busca de seu sonho no mundo da moda.

Para Vitor, a conexão com a área veio a partir dos desenhos que fazia na infância e se mesclou com a profissão das avós materna e paterna, que eram costureiras. Com retalhos de tecidos que sobravam entre uma roupa e outra, ele trabalhava, ainda que inconscientemente, o talento interior. "Os retalhos que minha avó cortava e jogava no chão, eu pegava para fazer as roupas nos meus bonecos", relembra.

O segundo passo foi com os estudos. "Quando saí do meu ensino fundamental para o médio, entrei na escola do governo do Estado, a profissionalizante, e tinha um curso técnico em vestuário — similar ao desenho de moda, só que de forma mais técnica. E eu me encantei por esse curso. Como via a moda como desenho, falei: 'É isso que eu quero'", conta.

Naquele momento, ele soube que gostaria de ser um designer de moda. Os professores da formação técnica foram parte essencial para como construiria sua carreira, ensinando, para além do desenho, outros detalhes importantes da parte de produção, como modelagem e "acabamento da costura para facilitar o processo".

Coleção "Interior", de Vitor Cunha", apresentada no DFB 2024(Foto: Nicolas Gondim/Divulgação)
Foto: Nicolas Gondim/Divulgação Coleção "Interior", de Vitor Cunha", apresentada no DFB 2024

"Esse mundo meio que me encantou e fiquei pensando: 'Como posso ser visto nele?'. E automaticamente veio na minha cabeça que precisava de alguma técnica manual que gostasse de fazer e que fosse parte da minha história", compartilha.

Em 2017, veio um sentimento de frustração, não porque se desanimou com a área, mas por ter saído do curso profissionalizante e não ter ingressado logo em no ensino superior. Ele justifica isso com sua dedicação em relação a outras matérias: "era esforçado no técnico, mas não nas outras áreas".

Mesmo com o desânimo inicial, Vitor não desistiu e traçou planos, afinal, tinha um sonho. O primeiro deles foi arrumar o primeiro emprego, que foi em uma loja da Avon próximo a sua casa. A próxima etapa era utilizar o salário para pagar a faculdade de moda, na UniAteneu, localizada na Messejana.

O trajeto não era simples, e só se ampliou quando começou a estagiar em uma loja do Ponto da Moda. A primeira parte do trajeto, começava na Pajuçara, bairro de Maracanaú onde viveu toda a vida, e ia para o primeiro emprego, em uma caminhada estimada em 25 minutos.

"Ficava de 7h30min às 13h30min na Avon, onde trocava de roupa no banheiro e depois pegava uma topic para o Centro de Maracanaú e ia para a loja do Ponto da Moda. Trabalhava das 14 às 18 horas e corria para pegar o primeiro ônibus, que ia para o Mondubim. De lá, pegava outro para o terminal da Messejana, onde chegava umas 19h30min", detalha. A aula costumava durar até 22 horas e a chegada em casa era por volta de 23h30min.

E completa: "Como minha família nunca teve condições de arcar com meus estudos, tive que ir atrás. Não ia ficar de braços cruzados e questionando porquê que minha família não tinha dinheiro (para ajudar). Eu via que não tinha, então, de alguma forma, tinha que conquistar e conseguir maneiras de sustentar o que queria fazer".

Foi conciliando com a correria da rotina que ele participou do primeiro concurso, o "Ceará Moda Contemporânea". Ainda estava no primeiro semestre da faculdade, mas conseguiu passar para a final e ficar em segundo lugar, além de receber o troféu de excelência pelo trabalho executado.

"Meu primeiro concurso se chamou 'Liberdade agênero', porque eu ia, por exemplo, no vestiário feminino da Riachuelo e procurava roupas para mim, buscando modelagens diferenciadas. Queria trazer essa temática que roupa não tem gênero", explica.

Coleção "Interior", de Vitor Cunha", apresentada no DFB 2024(Foto: Nicolas Gondim/Divulgação)
Foto: Nicolas Gondim/Divulgação Coleção "Interior", de Vitor Cunha", apresentada no DFB 2024

E continua: "A sensação do meu primeiro concurso foi como sair de um quarto escuro, como se enxergasse um porta luminosa na última fila do desfile. Em 2017, não tive tantas oportunidades, estava me formando como designer de moda (técnico), mas não tinha emprego para conseguir pagar minha faculdade, foi um período desafiador. Quando fiz meu primeiro, (percebi) que existiam pessoas que acreditavam em mim e no meu sonho".

A sensação se ampliou quando o primeiro desfile oficial aconteceu, no DFB. Vitor já tinha contato com o Festival, pois se voluntariava para trabalhar como recepcionista nos desfiles, mas em 2019 estava disposto a fazer sua estreia. Mandou para a organização seu desejo e projeto idealizado, quando foi aceito, precisou desenvolver não apenas uma marca, mas também 20 peças para a apresentação.

Para ele, esse sonho só poderia ser alcançado em 2022, mas estava sendo realizado três anos antes, mostrando ao estilista que ele tinha capacidade para conquistar o que almejava. "(Percebi) que posso muita coisa que achava que não podia por nascer em uma classe mais humilde, sem tanta condição financeira", afirma.

De todos os passos dados por Vitor, esse foi um dos mais importantes. A partir dele, começou a moldar e construir sua marca, participando ainda de concursos, mas se tornando uma presença constante no DFB. Em 2024, inclusive, fez parte dos nomes selecionados para a edição especial de 25 anos do Festival.

Com seis anos de existência, a marca Vitor Cunha começa a cruzar as fronteiras do Estado, conseguindo admiradores em outras cidades do País. Mesmo com os desafios do mercado cearense de moda autoral, o designer não deixa de lado os planos de expansão. No início de novembro, por exemplo, estará lançando uma ramificação da marca, a intitulada "Cunha Basic", que propõe roupas mais acessíveis ao público que o acompanha.

"Venho dessa classe, então, cadê a identificação do produto com essas pessoas? Elas que acompanham meu trabalho e torcem para minha evolução, vejo uma estratégia que posso monetizar essas admirações para um produto mais acessível", justifica.

Coleção "Interior", de Vitor Cunha", apresentada no DFB 2024(Foto: Nicolas Gondim/Divulgação)
Foto: Nicolas Gondim/Divulgação Coleção "Interior", de Vitor Cunha", apresentada no DFB 2024

Em dezembro será lançada uma nova coleção, que continua a ser apresentada no DFB em julho, a "Interior". Explorando mais uma vez a estética do litoral cearense e o jangadeiro, trazendo essa identificação regional em roupas e acessórios que podem ser usados por qualquer pessoa, sem gênero.

"Moda para mim hoje é um ato de me expressar como pessoa e, como designer, é uma forma de questionamento para pessoas, que possa ajudá-los no processo evolutivo, para que eu possa contribuir com isso. E ela é isso, é observar como as pessoas estão se comportando e transferir para a roupa", arremata.

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