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Mercado Audiovisual do Nordeste possibilita encontro de realizadores cearenses com players nacionais
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Mercado Audiovisual do Nordeste possibilita encontro de realizadores cearenses com players nacionais

Com ações até sexta-feira, 18, 5ª edição do MAN promove troca de experiência entre produtores locais e grandes players nacionais
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5º edição do MAN acontece em Fortaleza até 18 de outubro  (Foto: Felip Abud/ Divulgação)
Foto: Felip Abud/ Divulgação 5º edição do MAN acontece em Fortaleza até 18 de outubro

Diversas obras cinematográficas produzidas no Nordeste estão sendo ovacionadas em festivais nacionais e internacionais, a exemplo de "Motel Destino", de Karim Aïnouz; "Mais Pesado É o Céu", de Petrus Cariry; e "Retratos Fantasmas", de Kleber Mendonça Filho.

Entretanto, para o audiovisual nordestino ter mais oportunidades de "furar a bolha", é preciso que investidores olhem para a região como um setor de potência a ser explorado. É o que acontece na quinta edição do MAN (Mercado Audiovisual do Nordeste), evento que abre espaço de encontro entre os que criam e produzem audiovisual e os que veiculam e distribuem conteúdo independente.

O encontro acontece até 18 de outubro no Centro Administrativo do Banco do Nordeste, na sede do bairro Passaré. Players de destaque no mercado estão confirmados (Warner Bros, HBO e Max, Paramount Pictures Brasil, Globoplay, Megapix e Universal), assim como representantes do Ceará: Fundação Demócrito Rocha (FDR), Gavulino Filmes e Nigéria Filmes.

Em uma programação diversa, os produtores inscritos poderão apresentar até três projetos aos players. Também acontecem palestras e oficinas com os temas "Política de Crédito do BNB para a Cultura", "Os Desafios dos Roteiristas na Era do Streaming", entre outros.

Expectativa é de melhoria para o setor

Wolney Oliveira, cineasta e diretor do MAN, opina que o setor cearense vem se destacando e afirma que a expectativa é ganhar ainda mais "visibilidade e força" nos próximos anos. "A Agência Nacional de Cinema (Ancine) agora em outubro já lança mais um edital. Estamos na luta do VoD (Vídeo Sob Demanda), de aprovação que os streams sejam taxados. A perspectiva é a melhor possível", compartilha.

Ele reflete a importância do MAN para o Nordeste: "O MAN é um projeto importantíssimo para o setor do audiovisual das regiões do CONNE (Conexão Audiovisual Centro-Oeste, Norte e Nordeste), que reúne 19 estados. É um evento de mercado que chega à sua quinta edição, trazendo grandes players e também com uma parte de formação importante. É fundamental, não existe, pelo menos por enquanto, nenhum evento similar em Fortaleza".

O cineasta chama atenção que, para garantir mais produções no Estado, é necessário que o programa Ceará Filmes, que tem como objetivo a promoção de políticas públicas em prol do setor, se torne realidade.

"Existe um compromisso do governador Elmano de Freitas (PT), que orientou a secretária Luisa Cela a criar um grupo para fazer as propostas da Ceará Filmes. O audiovisual é um fator importantíssimo de geração de emprego e renda. Enquanto o governo do Ceará não criar isso, a gente vai ficar onde estamos. Não é ruim, mas a gente precisa avançar", esclarece Wolney.

Políticas públicas de fomento

A produtora audiovisual da Gavulino Filmes, Íris Sodré, participa do painel "Coprodução Nacional, como avançar?" e conta que um evento com o MAN é o "melhor lugar" para aproximar a cadeia de produção e distribuição dos inúmeros fornecedores de serviços e compradores da indústria.

Ela ressalta a necessidade de políticas públicas que fomentem coproduções nacionais e internacionais, criando mecanismos que tornem as cidades atraentes para investidores e produtoras que já captam recursos.

"Quando os gestores públicos se conscientizam que uma produção audiovisual fomenta uma larga cadeia de prestadores de serviço, aquecem a economia de maneira transversal e geram um legado turístico incalculável para a região, eles investem na coprodução", defende.

A profissional conta que foi preciso entender cedo que o audiovisual se constrói com redes de talentos e múltiplas capacidades, citando a parceria com o Canal FDR e O POVO. A colaboração gerou projetos de reconhecimento como "3 Tonelada$: Assalto ao Banco Central", série que compõe a grade da Netflix.

"Mesmo com baixos recursos investidos, comparados com as altas verbas destinadas às produções do sudeste, o Ceará conseguiu se destacar nacionalmente, tanto no cinema quanto na produção de séries", pontua.

Iris ressalta que, no cenário atual, para garantir a solidificação do polo de produção no Ceará, é necessário a aplicação das cotas que descentralizam o investimento dos recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Ela também cita a regulamentação das empresas de streaming.

"A meu ver, a grande mudança necessária que o Estado precisa promover está na política pública, que precisa enxergar todos os elos da cadeia produtiva e de exibição do audiovisual. Precisa compreender que temos produtoras em diversos estágios de maturidade e uma ampla rede exibidora. Quando os gestores públicos conseguirem unir essas forças, fortalecendo esse bloco produtivo e exibidor, certamente conseguiremos atrair mais recursos para o Estado, sendo eles da Ancine ou fomento direto dos players", declara.

Desafios dos roteiristas na era do streaming

Embarcando no universo de projetos para o streaming, a série "Cangaço Novo" de Eduardo Melo e Mariana Bardan, destaca a capacidade de produções nordestinas em contar histórias sobre suas culturas e tradições sem estarem inseridas no Rio de Janeiro ou São Paulo.

Eduardo Melo conta ao Vida&Arte que a troca de experiência é de suma importância para o setor do audiovisual, pois o aprendizado de cada obra abre caminhos para que novas narrativas sejam contadas.

"O Brasil é muito grande e complexo. É fundamental que eventos se multipliquem pelo País. O MAN é uma dessas oportunidades para quem faz parte do mercado audiovisual brasileiro", reflete.

Ele cita os principais desafios que os roteiristas enfrentam na era do streaming. Um deles é conseguir a primeira oportunidade em um mercado extremamente concorrido. Outro é o tempo, pois o desenvolvimento é crucial, as narrativas seriadas são longas e precisam ser construídas "tijolo a tijolo".

"Para somar, talvez estejamos vivendo um momento de saturação - não só do streaming, mas de todas as telas -, são diversas formas de conteúdo, há risco de a oferta estar maior que a demanda", explica.

Já Mariana Bardan revela ser um mercado difícil de entrar. Uma vez dentro, o difícil é permanecer, visto que é complicado manter uma voz ativa, ou melhor ,"a voz do projeto". Segundo a profissional, não é possível "baixar a guarda" em nenhum minuto.

"Sinto que produzir para o streaming tem uma pressão mercadológica maior, com métricas diferentes, a começar pelo próprio formato. Ser um produto interessante por 8 episódios de 52 minutos é muito diferente de ser um produto de duas horas. Ao produzir para o cinema, as ferramentas são outras. No cinema, a gente consegue, por exemplo, ter cenas mais longas. Isso muda tudo na hora de contar uma história", pontua.

Seu principal desejo, enquanto roteirista, é que existam mais produtos audiovisuais nordestinos disponíveis e que a audiência consiga discernir os diferentes sotaques de cada estado.

"É um desejo um tanto romântico, eu sei. Mas potencial a região tem. Na verdade, não só o Nordeste, mas o Brasil todo, né? Para isso a gente precisa mudar muita coisa. Apostar mais em histórias universais a partir de contextos regionais. Acho que ‘Cangaço Novo’ é um bom exemplo disso", expressa.

5º MAN - Mercado Audiovisual do Nordeste

  • Quando: até 18 de outubro
  • Onde: Centro Administrativo do Banco do Nordeste (av. Dr. Silas Munguba, 5700 - Passaré)
  • Gratuito
  • Programação completa em www.mercadoaudiovisual.com.br
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