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Xande de Pilares comenta diversificação do samba em entrevista exclusiva
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Xande de Pilares comenta diversificação do samba em entrevista exclusiva

Xande de Pilares destaca novo momento da carreira e perspectivas de trabalhos após se sucesso do projeto "Xande Canta Caetano"
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Xande de Pilares se apresenta no Festival MADA com o projeto
Foto: Fernando Young/ Dvulgação Xande de Pilares se apresenta no Festival MADA com o projeto "Xande canta Caetano"

Xande de Pilares apresenta na sexta-feira, 18 de outubro, o show "Xande Canta Caetano", na 16ª edição do Festival Mada (Música Alimento da Alma). O projeto foi consagrado o "Melhor Álbum do Ano" de 2023 pelo Prêmio Multishow e foi indicado na principal categoria do Grammy Latino 2024, sendo o único brasileiro na disputa.

Sobre o álbum, o artista conta que foi o trabalho em que ele finalmente se aceitou como cantor e não só como compositor. Além disso, foi um projeto desafiador, que lhe deu a oportunidade de homenagear Caetano Veloso, quem ele considera um mestre da música brasileira.

O POVO - Sobre seu último trabalho, o "Xande Canta Caetano", houve algum desafio em mudar os arranjos das canções de Caetano?
Xande de Pilares - É um dos maiores desafios que eu tenho na vida, mas, se tem uma coisa que facilita muito, é ser apaixonado pela música desde quando eu me conheço por gente. Nesse projeto, houve uma parceria com o Pretinho da Serrinha, Paula Lavigne e o próprio Caetano, que tiveram uma participação muito importante. O Pretinho tirou tudo da cabeça dele, a gente não precisou escrever nada. As coisas iam nascendo e entrou eu com a minha interpretação. Eu sou uma pessoa que eu tento abraçar toda hora, o trabalho é aquela coisa que você cultiva e cuida com carinho. E é uma obra do Caetano, eu não posso cantar a obra do Caetano de qualquer maneira, eu tenho que sentir isso. E acabou que, em uma das faixas, a gente, que emocionou todo mundo, inclusive o próprio. É muito bom você homenagear alguém em vida porque você consegue ver o resultado da sua atitude.

OP - Você vem para Fortaleza com o novo show?
Xande - Eu tenho vontade porque eu estou morrendo de saudade de Fortaleza. Já tenho um bom tempo desde a minha última participação, deve ter mais de três anos. E se for com o "Xande canta Caetano", melhor ainda, porque é um show onde eu estou me divertindo muito, mas eu estou vivendo experiências novas com comportamento e interpretações. Tem aquela coisa de querer fazer um bom show para poder ver o que as pessoas acham, se está no mesmo nível do disco. E eu tenho uma história linda no Ceará, principalmente em Fortaleza. Tomara a Deus que tenha Xande Canta Caetano em Fortaleza, vou ficar muito feliz.

OP - E como é a sua relação com Caetano?
Xande - Por volta de 2014, 2015, a Paula Lavigne fazia umas reuniões na casa dela e o Pretinho sempre me convidava, mas eu nunca conseguia ir. Até que um dia eu consegui ir e rolavam muitas cantorias lá, a gente se reunia para tocar e cantar, e tinham muitos artistas consagrados, como Ben Jor e o próprio Caetano. Sempre que terminava as cantorias, a gente ficava batendo papo, falando de música, falando das histórias, e era muito interessante conversar com Caetano porque ele é uma pessoa muito culta e tem uma experiência extensa de vida. Um dia, eu estava com um cavaquinho na mão, quietinho, cantando. Até que, um dia, o Caetano me convidou para fazer um show no teatro. E é um privilégio você ser fã de uma pessoa e se transformar em amigo dela. Depois, ele me convidou para fazer um show no teatro sozinho, com um cavaquinho, eu fiquei com medo. Eu disse que eu tinha medo porque era uma coisa que eu nunca tinha feito. Tocar um cavaquinho sozinho dentro de casa é uma coisa, mas você sentar num teatro com um cavaquinho e fazer um show inteiro é diferente. Aí eu fiquei uns três ou quatro meses me escondendo. Até que, um dia, nós fizemos música boa, fizemos muita coisa juntos. E isso é uma coisa que me chama muito a atenção no Caetano. A gente chamava ele de mestre e ele dizia: "Não, o mestre é você. Eu não sou mestre, o mestre é você". Mas é o Caetano Veloso, um cara muito carinhoso que está prestando atenção no trabalho de todo mundo. Isso fortaleceu muito essa aproximação com ele. Até que a gente chegou nesse disco, que abre de forma muito romântica, só com um cavaquinho e uma voz. Esse disco é um disco muito enxuto, ele não é muito barulhento, é uma coisa que você consegue ouvir todos os instrumentos, você se emociona. Eu sou um cara que demorei muito a me aceitar como cantor, eu nunca quis nada com o negócio de cantar, mas me emocionei com esse disco e me emociono até hoje. Às vezes nem acredito que sou eu que estou cantando.

OP - Após ser indicado ao Grammy Latino por "Xande Canta Caetano", mudou algo em relação à ansiedade pré-show?
Xande - Não mudou. Todos os festivais que eu tenho participado cantando Caetano, rola uma ansiedade, a expectativa vem além do normal, porque não é o meu show normal. E eu estou entrando numa atmosfera que o "Xande canta Caetano" está me levando, onde tudo para mim é novo. Então, eu me dedico ao máximo, eu faço consulta em fonoaudiologia, eu deixo tudo arrumadinho. Eu nunca cantei no Mada. O Mada é um festival que eu conheço há bastante tempo, mas nunca me imaginei nele. Mas, já que depositaram confiança em mim, eu tenho que me dedicar ao máximo. Rola um frio na barriga, que é normal, mas se não rolar, não sou eu. Espero que seja maravilhoso, como foi o último que fiz agora. Foi emocionante e espero que eu consiga me emocionar e emocionar também.

OP - Você acha que existe um tipo de hierarquia na música em relação a quem homenageia quem, pensando em diferentes gerações?
Xande - Eu acho que tem que existir. Tem que existir. A hierarquia na música tem que existir. Graças a Deus, aquele separatismo que cresci testemunhando, ele praticamente está saindo de cena, porque é tão bom a gente alimentar a música que a gente admira. Porque, quando a gente admira alguém, vamos ser admirados por outros, e a gente vai seguir uma linha e a nossa linha vai ser seguida por alguém, e a coisa vai se movimentando. Eu vivi uma época em que a música brasileira não tinha tanta força, a música importada prevaleceu muito, pelo menos nas décadas de 1970 e 1980. Hoje, a música brasileira é muito mais valorizada. No último Rock in Rio de que participei, pude sentir isso. Eu tive um pouco de receio de participar, e, quando cheguei lá, vi que realmente o mundo mudou um pouco. Essa coisa de um artista homenagear o antigo ou o antigo homenagear o mais novo, acho que, para a nossa cultura, é muito bom, mas a hierarquia tem que existir para que a gente tenha uma referência. Eu acho importante.

OP - E por que nossa música está sendo mais valorizada, na sua opinião?
Xande - Primeiro, é uma coisa divina, isso é uma coisa que vem de cima. Mas eu acho que a gente deve valorizar a nossa própria história, na diferença que temos de cuidar com carinho e não pensar só em fazer sucesso. Eu acho que o interesse do mundo e da classe artística, principalmente da música, está muito ousado, ela não tem medo quando você pensa no coletivo. Aquele pensamento individual é uma coisa que está meio que remota. A gente está prestando atenção em tudo que está acontecendo. A gente está curtindo o trabalho do outro e tal e isso é muito bom para a gente. Acabou aquela coisa do sertanejo não gostar de samba, do funk não gostar de rap, do rap não gosta de bolero, do bolero não gosta de funk… A gente tem um Emicida, tem Criolo, tem a Marisa, tem o Zeca, tem Alcione e eu estou aí transitando, o que é muito bom porque os nossos jovens estão vendo tudo isso e, de certa forma, eles estão sendo incentivados. E a gente vai mudando a história.

OP - Cantar Caetano sai da sua zona de conforto?
Xande - Quando eu canto a minha obra, eu estou dentro da minha zona de conforto, pois foi a música que fiz, que eu conheço os caminhos que eu posso trilhar. Mas, quando eu vou cantar outro compositor, principalmente quando é o Caetano, Gil, Chico, ou Milton, é outra história. Nessa hora, tem que escolher a roupa adequada. A coisa muda de figura. Mas, por outro lado, eu também nunca me aceitei como cantor. Eu sempre quis ser compositor, eu gosto muito mais de criar. Mas, depois do "Xande Canta Caetano", eu comecei a pensar diferente, estou começando a me aceitar. Esse espaço que conquistei, então eu tenho que cuidar dele. Já que eu quero criar uma história dentro da música, não quero passar batido ou ser só mais um.

OP - Atuar em "Todas as Flores" te trouxe uma nova perspectiva para a tua carreira, de atuar em mais novelas ou filmes?
Xande - Eu fiz "Todas as Flores", que foi a primeira novela do streaming Globoplay. Foi uma experiência tão bacana que até acabei me interessando em estudar, acabei entrando na Escola de Atores Wolf Maya. Porque, cara, é tão bom quando você está disposto a aprender, pois sempre aparece uma coisa para você aprender. Eu participei de um filme também com a Regina Casé, que foi outra experiência muito boa, por volta de 2012, 2013. Mas, no filme, você tem tantos dias para gravar, mas na novela, você fica ali e todo dia você tem que estudar o texto. A formação de elenco, para mim, foi muito boa e foi uma brincadeira. A música me deu essa oportunidade. Só o futebol que não dá mais, porque, além de jogar, o meu joelho está ruim. Quando a gente estuda, a gente pode tudo.

OP - Como você concilia na sua vida profissional as artes de cantar e atuar?
Xande - Um completa o outro. Eu sou um cara muito tímido. Às vezes, as pessoas confundem até com uma certa amarra pela coisa do sorriso, que não está sempre presente. Mas, depois que atuei, eu pensei que eu poderia para o palco. Eu tinha muita dificuldade em me comunicar com o público. Hoje, praticamente, parece que estou numa mesa de bar, trocando uma ideia com 30, 40, 60 mil pessoas, porque a atuação me deu esse recurso. Quando eu participei do Dança de Famosos, também aprendi muita coisa. De me soltar mais, de não precisar cantar sentado mais. Quando eu participei do Esquenta, ali foi a melhor escola que tive, porque eu ficava prestando atenção em tudo, como a Regina Lee, o TP, como ela improvisava dentro do TP, sabe? E a Regina Casé foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida, foi ter conhecido ela, porque ela me incentivou a tomar coragem de fazer coisas que eu jamais achei que eu ia ter. Então, essa coisa de querer, de aceitar o novo, para mim, é muito bom.

 

Festival Mada

Xande de Pilares apresenta na sexta-feira, 18 de outubro, o show "Xande Canta Caetano", na 16ª edição do Festival Mada (Música Alimento da Alma). O Festival Mada acontece anualmente na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, e reúne milhares de pessoas em torno de grandes nomes da música nacional. Neste ano, além de Xande, o evento conta com Pitty, Djonga, FBC, Fresno, Ebony, Ana Frango Elétrico, BaianaSystem e Duquesa no line-up dos dias 18 e 19 deste mês. Em 2023, o festival recebeu mais de mil cearenses como público do evento.

  • Saiba mais sobre o festival: @festivalmada

 

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