É a roda que faz os músicos. Quem diz é o produtor cultural e músico Tauí Castro, presença das rodas musicais que acontecem semanalmente e movimentam, especialmente, a cena instrumental de Fortaleza. Feitas por amadores e profissionais, são espaços de troca aberta e um dos principais meios de formação, ainda que informal, de artistas.
"É um local de aprendizagem. É uma música que necessita de um cuidado, uma técnica muito grande, mas a gente vê que tem se popularizado e tem músicos de todas as idades", introduz Tauí. Instrumentos de sopro e percussão, assim como violões e teclados, se tornam o meio para experimentos com acordes e melodias a partir de gêneros como choro e jazz, grandes destaques da prática.
Para quem deseja usufruir - ou conhecer - um pouco destes ritmos, ele adianta que a capital cearense mantém um calendário constante. As segundas, por exemplo, possuem agenda certa no Giz Cozinha Boêmia com o Sarau do Giz, um dos principais atrativos da casa. Já às quintas, o choro toma conta do Bomtequim, tradicional point boêmio da Cidade que também reserva horários para o samba e forró.
Em um roteiro que possa ser prolongado aos outros dias da semana, há programação no Moleskine Gastrobar e no Cantinho do Frango, localizados no Meireles e na Aldeota, respectivamente. Eventos com música instrumental também podem ser encontrados pontualmente no Raiz Cozinha Brasileira, Abaeté Boteco e Estação das Artes.
Nestas iniciativas, os músicos "exploram gêneros que têm como foco a improvisação", como aponta Tauí. Ele integra o Choro Cabuloso - atualmente em temporada com Carlinhos Patrolino e composto por Tito Freitas (piano), José Ramos (violão) e Thesco Carvalho (trombone e flauta) - e considera o cenário "positivo", visto que são cerca 80 apresentações na maioria das casas.
O artista credita o contexto "positivo" às ações de iniciativas públicas e privadas das últimas duas décadas, a exemplo de eventos como Pôr do Sol Iracema e Choro Jazz que, além das apresentações, também promovem atividades formativas. "Se um grupo faz essa quantidade de apresentações, já gera um impacto na renda dos músicos, na vida de muita gente. Gera um impacto no ecossistema da Cultura", defende Tauí.
Para o músico Herlon Robson, entretanto, há um contraste que ainda precisa de atenção. Ele afirma que muitos bares utilizam a música instrumental como "pano de fundo" e aponta que existe uma escassez de locais que apresentem o gênero "como um show". "No caso da música autoral, acredito que é um pouco mais complicado, porque acaba dependendo de projetos públicos", considera.
As problemáticas são comprometidas, também, pelos valores "questionáveis" pagos pelas apresentações musicais. "Sei que a música instrumental, no mundo todo, não é o carro-chefe, mas tem que ser fomentada, as pessoas gostam. Muitas vezes estou tocando e as pessoas agradecem", aponta o pianista.
Ainda assim, o cenário no Ceará é o melhor dentre os demais estados do Nordeste. É o que indica o pianista Tito Freitas, que trabalha há 48 anos na área. Destes, 18 são em Fortaleza, após passagens nacionais e internacionais. "Para fortalecer ainda mais, a gente precisa fortalecer as escolas de música. Fiquei surpreso com a música instrumental que já estava rolando no Ceará. Acho que aqui é um campo aberto e está expandindo", destaca.
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