Entre 1994 e 1998, Francisco Pereira de Assis foi responsável por cerca de 24 vítimas. O assassino em série foi preso em 1998 e condenado a mais de 200 anos de prisão, se tornando conhecido como o "maníaco do parque".
O novo filme da Prime, disponível na plataforma a partir da próxima sexta, 18, retrata desde a descoberta dos assassinatos cometidos por Francisco até a prisão dele. Apesar de ser baseado em fatos, a obra de Mauricio Eça introduz uma personagem fictícia, a jovem jornalista Elena.
Essa escolha não é aleatória. Ao trazer uma protagonista feminina, o roteiro de L.G. Bayão oferece uma voz de destaque a esta narrativa. A decisão é especialmente pertinente, considerando que, na época dos crimes, a mídia sensacionalista frequentemente atribuiu culpa às mulheres mortas, insinuando que eram responsáveis por terem sido enganadas por Francisco.
A personagem, interpretada por Giovanna Grigio ("Rebelde", de 2022), busca dar voz a essas vítimas de maneira respeitosa, sendo ela quem descobre a identidade do maníaco do parque. No entanto, enfrenta o machismo presente em seu ambiente de trabalho, um espaço que deveria priorizar a informação em detrimento.
Em um determinado momento do longa, um dos editores do jornal em que Elena trabalha sugere que a prisão do assassino poderia prejudicar as vendas, levantando a questão: afinal, sobre o que escreveriam após isso?
Além disso, o longa faz questão de mostrar como o caso era retratado na TV da época, algumas vezes até em forma de piada. A produção evidencia que este tipo de atitude era bastante comum, nos fazendo refletir até que ponto a mídia se importava com aquelas vítimas.
Embora a crítica ao sensacionalismo seja um acerto do filme, a narrativa em torno de Elena se revela superficial. O roteiro tenta explorar duas vertentes para a personagem: a de repórter investigadora, profundamente afetada pelo que ocorreu com as vítimas, e a de filha com uma relação aparentemente conturbada com o pai. No entanto, a segunda narrativa não é aprofundada, tornando essa trama confusa e inacabada.
Apesar de não apresentar Francisco como protagonista, a presença do personagem é quase impossível de ser ignorada. O assassino, interpretado por Silvero Pereira ("Bacurau", 2019), aparece em momentos-chave da história. A atuação de Silvero se destaca, pois ele consegue transitar de forma natural e inquietante entre os sentimentos do criminoso. Às vezes, um simples olhar de Silvero para a câmera revela o horror que se esconde por trás daqueles olhos. Assustador.
A trama mostra um pouco do dia a dia do assassino e como ele convencia algumas das vítimas, muitas vezes necessitadas de dinheiro, com promessas de trabalhos que pagariam muito bem. Apesar dele fazer isso, na maioria das vezes, à luz do dia, raramente havia quaisquer testemunhas.
O que tornava ainda mais difícil a identificação do mesmo. Além disso, o longa faz questão de mostrar que, apesar dos assassinatos em série cometidos por ele, o número de mulheres mortas no estado de São Paulo já era extremamente assustador. O dado traz a reflexão sobre as mudanças nos índices criminais atuais.
"Maníaco do Parque" apresenta novos holofotes sobre o caso, mas com uma abordagem responsável que respeita a memória das vítimas. O filme se destaca no gênero, embora caia em alguns clichês em torno da figura da jornalista protagonista. O que, apesar de poder incomodar o espectador "mais atento", não prejudica o longa de forma geral. A obra acerta em não tentar romantizar ou mistificar, de forma alguma, o responsável pelas atrocidades da trama.
Estreia "Maníaco do Parque"