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Diretora da CasaCor, Neuma Figuereido celebra longevidade do projeto: "Legado"
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Diretora da CasaCor, Neuma Figuereido celebra longevidade do projeto: "Legado"

CasaCor completa 26 anos com olhar para o futuro e, mais do que nunca, valorizando as relações pessoais
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FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 19-09-2024: Entrevista com Neuma Figueiredo, diretora da CasaCor Ceará. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo) (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 19-09-2024: Entrevista com Neuma Figueiredo, diretora da CasaCor Ceará. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)

Quem encontra Neuma Figueiredo andando apressada pelos ambientes da CasaCor Ceará já percebe o seu envolvimento com o maior evento de arquitetura, design de interiores e paisagismo do Brasil.

Porém, bastam algumas palavras para perceber o encanto da diretora da CasaCor Ceará pelo trabalho e pela relação com as pessoas. E se a conversa se estende, em poucos minutos é possível compreender o porquê da mostra já ter 26 anos.

Nas entrelinhas, dá para perceber que o evento é, na verdade, a casa da Neuma. Ao longo de vários meses, ela arquiteta, ao lado da sua equipe - que hoje conta com a participação dos três filhos, Pedro, Victor e Carolina - um encontro que reúne novos profissionais e nomes já consagrados.

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Na fase de execução, quando a "mágica" acontece, é hora de gerar empregos e construir relações. E, ao abrir as portas, o belo vem à tona. É um evento que inspira, encanta, oferece soluções, gera desejo e até cria novos sonhos.

Em conversa com o Vida&Arte, diz que o cearense, hoje, aproveita melhor a sua casa, primando pelo conforto. Afirma também que o momento atual, com a participação dos filhos, é um marco com olhar para o futuro e revela que o social está entre os seus maiores encantos, uma herança familiar.

E que, quase 30 anos depois, se sente recompensada por conseguir mudar a vida das pessoas. Confira agora a entrevista exclusiva.

O POVO - O que os 26 anos de CasaCor representam para você?

Neuma Figueiredo - Infelizmente, no nosso País, as empresas não se sustentam por tanto tempo. E eventos assim, grandiosos, também são difíceis de se sustentar com a qualidade e o sucesso que é a CasaCor. Temos parceiros que estão há 26 anos conosco. Então, eu acho que a gente tem muitos marcos nesta edição.

Em particular, um marco muito importante é de estar com os meus três filhos, assumindo áreas distintas, desde a concepção, da escolha do local… Internamente, para nós, isso é muito importante. Acho que em todos os negócios, a renovação das pessoas é muito importante, é outra visão. Eu já tenho quase 70 anos e, por mais que eu queira me atualizar em tudo, em comunicação, em marketing, essas coisas mudaram muito, drasticamente.

Já o marco para o evento, a gente tem se renovado também com os profissionais que a gente convida para participar. Muita gente nova, boa, e que a gente vê que tem uma percepção, uma forma diferente também de se comunicar, de projetar, de divulgar. Neste ano, na 26ª edição, temos arquitetos que participaram da primeira edição e estão participando desse ano e outros que estão no primeiro ano deles em CasaCor.

E o local onde nós estamos, esse é um grande marco. Essa edição vai ser surpreendente. A gente está ali na Praia de Iracema, ajudando nessa revitalização, na valorização daquela área, e temos a sorte do Luciano Cavalcante, que é o proprietário do imóvel principal, do galpão, ele ter entendido isso e, após CasaCor, vai ser um mall, de serviços, de lojas, de escritórios.

Isso é muito bom pra gente, porque todo esse desafio de estar lá, todo esse trabalho, esse investimento, a gente sabe que após a CasaCor isso vai continuar, vai movimentar aquela área, gerando emprego, gerando negócios. Tem uma comunidade próxima. Então, é um diferencial muito grande de outras edições.

OP - Quais os critérios utilizados para escolher e definir quem vai participar da CasaCor?

Neuma - Todo ano a gente convida jovens profissionais, tanto de carreira como sendo a primeira vez em CasaCor. Isso está dentro da nossa missão nacional, a gente tem que apresentar essas pessoas, o público é muito grande, a visibilidade na imprensa é muito grande.

Esses novos talentos chegam a nós por meio das nossas pesquisas ou nos procuram, ou por indicação de parceiros, lojistas. Eu sou muito, muito aberta a isso, convido, converso, conheço o trabalho.

A CasaCor é uma vitrine única. Tanto novos fornecedores, que vão ver aquele profissional, quanto o público, de todas as idades, de todas as tribos. E a gente tem que ter todas essas pessoas ali, um que tem um projeto mais minimalista, o que gosta de algo mais clássico ou rústico.

OP - A CasaCor sempre tem um olhar social, também. Como foi a reforma da casa da Dona Saúde?

Neuma - A casa da Dona Saúde era um projeto nosso, pessoal, familiar. Fomos no Poço da Draga visitar a Cufa (Central Única das Favelas) com o Preto Zezé, nosso homenageado, e queríamos ver algo que pudéssemos fazer na comunidade.

E ele disse: em vez de me homenagear, faça alguma coisa aqui em benefício da comunidade. E nos levou para visitá-la. Era a única casa da comunidade ainda de madeirite, coberta de amianto, nove pessoas morando, só tinha uma porta, a casa era quase 40 cm abaixo do nível.

Tinha tido duas chuvas grandes e o pouco que tinham, perderam tudo… então ficamos muito tocadas com aquilo. Eu cheguei em casa e eu disse "nós vamos construir uma casa para essa família, isso não é dignidade. Como essas crianças vão crescer?"

A Cufa abriu as portas da comunidade, ajudou a gente a entrar, a conversamos com ela. E foi incrível. E aí eu vi o quanto isso foi importante, o envolvimento das pessoas, de estarem felizes em poder ajudar. As empresas ajudaram sem nada em troca, sem a divulgação da marca.

Quando ela diz que eu sou um anjo que chegou na vida dela, acho que, na verdade, ela que é esse anjo na vida de muitas pessoas. Até da nossa, de ter dado essa oportunidade. Então a gente pretende assim, de forma mais pontual, fazer algo que transforme a vida de outra família.

A gente quer fazer isso no Piauí, fizemos lá a primeira edição da CasaCor, e está nas nossas responsabilidades fazer isso no Piauí também. A gente trabalha com o morar, de fazer a pessoa se sentir segura. Nada como uma casa com dignidade.

OP - Nessas quase três décadas, o que vocês percebem de mudanças no estilo de viver do cearense?

Neuma - Eu vejo mais identidade nos projetos, antes você via muita coisa parecida. E a gente tem sentido que, no Ceará, os projetos estão tendo uma identidade diferente. Os ambientes mais calorosos, mais aconchegantes. Acho que a valorização do morar, além do trabalhar, das pessoas terem mais cuidado com seu ambiente.

As pessoas têm pensado muito em ter áreas de convivência, com família, com amigos. Isso é muito bom, essa valorização mesmo de dentro de casa. Antigamente, as pessoas investiam muito na arquitetura. E depois, na hora de decorar, na hora do seu conforto, do seu bem-estar, não investia.

E nesses anos todos, é isso que a gente vem sentindo, essa valorização cada vez mais de ter conforto em todos os sentidos, de ter também a identidade do lugar, a sua identidade, trazer o verde para dentro dos ambientes.

OP - Quais elementos fazem parte dessa identidade cearense?

Neuma - Aproveitar muito a nossa brisa, nossa ventilação, nossa luz. Valorizar os artistas locais, o artesanato, de vê-lo como arte. Essa é a identidade. Esse uso do cobogó, que é muito bom, porque ele passa a luz, o vento. Ele vem do barro, traz o nosso tema "o presente, agora".

E a ancestralidade, de onde você veio, o que você quer deixar… O arquiteto, o designer de interiores, eles são fundamentais. Ele é a pessoa mais importante para essa mudança.

É lógico que o dono da casa, do apartamento pode dizer o que quer, mas ele tem como ser essa mudança.

OP - Quais são as principais recompensas desses 26 anos de CasaCor?

Neuma - É tudo isso. É esse legado. É ter conseguido mudar a vida de muitas pessoas. A oportunidade de gerar muitos empregos, de lançar novos produtos, de ver o crescimento de indústrias locais pequenas e hoje serem grandes indústrias.

De ter conseguido passar isso para os meus filhos, não como trabalho, algo estressante. Mas como algo encantador, planejado, construído. Meus filhos têm esse sentimento, eles gostam do que fazem, gostam de trabalhar. Mesmo sem estar trabalhando, eles se criaram na CasaCor.

É um trabalho que envolve muitas pessoas. Você tem contato desde o governador do Estado, o prefeito, o secretário, o presidente de uma instituição, o dono de uma indústria, um lojista, um engenheiro, arquiteto, decorador. Pedreiro, gesseiro, chef de cozinha, artista, artesão, paisagista, jardineiro…

Então, é uma cadeia imensa de pessoas que a gente lida diariamente. É muito envolvente, dinâmico. E eu gosto muito de planejar e de construir, muito mesmo. De estar presente, de escrever à mão, e eu espero continuar por muito tempo.

Se eu não continuar, é para os meus filhos continuarem. E amando o que fazem. É o nosso negócio, a gente vive disso. E hoje é a família toda. Então, a responsabilidade ainda é muito maior, por isso a gente tem que trabalhar muito mais. Mas, além disso, amar o que faz.

Você acordar querendo estar no lugar que você trabalha, querendo planejar, querendo executar. E eu estou há 26 anos nisso.

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