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Artista cearense Paula Siebra estreia exposição em galeria nos EUA
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Artista cearense Paula Siebra estreia exposição em galeria nos EUA

Artista plástica cearense Paula Siebra estreia exposição de arte em galeria dos Estados Unidos
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Arte de Paula Siebra integra galeria Mendes Wood DM
 (Foto: ANIE BARRETO/Divulgação)
Foto: ANIE BARRETO/Divulgação Arte de Paula Siebra integra galeria Mendes Wood DM

Móveis, mesas de café da manhã, casas, pores do sol, plantas, rostos e objetos. Entre o rotineiro e o imaginário, Paula Siebra leva suas lembranças e pontos de vista para as telas que já viajaram por diversos países. Aos 26 anos de idade, a artista plástica cearense aposta em suas vivências para construir obras que levam o público a admirar o "comum".

A artista, que soma seis exposições individuais e 11 coletivas, estreou no dia 10 de outubro a mostra "As primeiras Coisas", na galeria Mendes Wood DM, em Nova Iorque. Ocupando todo o espaço do edifício localizado no bairro Tribeca, na cidade estadunidense, Paula Siebra se põe confiante ao desafio de produzir pinturas durante um ano para a ocasião.

"Tenho apenas uma ambição: trazer ternura aos corações das pessoas, ajudá-las a entrar num estado de espírito que as faça perceber, através da pintura, a brevidade e o brilho da vida", detalha a cearense. Com o propósito de seguir se desafiando e desenvolvendo suas próprias técnicas, Paula adianta o desejo de levar seus traços para novas esferas da arte.

O POVO - Quem é Paula Siebra para além da artista?

Paula Siebra - Sou uma menina nascida em 1998 em Fortaleza, dos meus pais Paulo e Hélia, e cresci entre os bairros Guajeru, Centro e Jardim das Oliveiras. Hoje moro na Aldeota com meu companheiro, Luiz. Gosto de decorar a minha casa e estou sempre inventando alguma coisa nova - um novo arranjo de flores, ou uma cor nova de parede, nunca paro quieta. Gosto de estudar música e aprender a tocar novos instrumentos musicais; gosto de almoçar tilápia no Mercado dos Peixes e depois ir encontrar meus amigos num karaokê. Me interesso muito pelas artesanias do Ceará e estou pesquisando as garrafas de areia colorida de Majorlândia no mestrado da Universidade Federal do Ceará (UFC).

OP - Como foi o seu início nas artes plásticas e como foi o momento em que decidiu tornar a atividade como carreira?

Paula - Sempre tive um interesse especial pelo desenho e minha mãe, percebendo isto, sempre me incentivou. O desenho se tornou minha brincadeira de solidão, e na adolescência, ficou evidente que era a coisa que eu melhor sabia fazer. Aos 15 anos, decidi que este seria meu ofício, e por isso fui estudar Pintura na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

OP - Quais foram as suas primeiras inspirações e aspirações?

Paula - Desde muito pequena tinha uma memória de um móbile de Calder [escultor e pintor estadunidense] na cabeça - que até hoje não se explica, pois só conheci este artista muito tempo depois. Lembro também de um pôster do Miró na casa de uma tia, que eu adorava. No ensino médio conheci o trabalho da Frida Kahlo através da biblioteca da escola, mas foi uma pintura de Balthus, chamada "Teresa sonhando", que realmente me fez querer seguir nisto. Na faculdade, aí sim descobri aqueles que seriam meus pintores preferidos até hoje: Édouard Vuillard, Félix Vallotton, Paula Modersohn-Becker, e por aí vai.

OP - E, atualmente, quais são suas referências ou o que te motiva nas artes plásticas?

Paula - Hoje me vejo apaixonada pelo trabalho de alguns pintores menos conhecidos, mas que vêm sendo redescobertos, como o caso do Domenico Gnoli [pintor italiano]. Há algo no sintetismo dele que já me interessava em outros pintores, mas que na obra dele tem mais força e uma presença misteriosa. É isto que me interessa mais agora: uma redução quase obsessiva dos elementos compositivos, criando imagens a partir de uma sugestão poética muito sutil.

OP - Como você define a sua arte e qual a sua avaliação das produções já feitas?

Paula - Às vezes brinco pensando em qual "ismo" a história da arte inventaria para tratar do meu trabalho. Se fosse eu, satirizando o que ficou conhecido por Futurismo, eu criaria o Presentismo, que é ao mesmo tempo, falar do tempo presente e embalar o mundo para presente, através da pintura. Quanto à avaliação da minha produção... Como uma boa leonina, acredito que devemos ter brio e orgulho do que fazemos e, por isso, respondo como Paul Gauguin, quando ele diz: "Eu sou um grande pintor e eu sei". Por outro lado, meu ascendente em Virgem sempre me pede mais, e a cada novo projeto sinto que me desafio e aprendo coisas novas. Nunca estou satisfeita e espero que seja sempre assim.

OP - De que forma a sua cidade natal é levada para a suas obras e, até mesmo, na sua forma de trabalhar?

Paula - Acho que a relação de qualquer artista com sua terra natal ou com o lugar onde cresceu é inseparável, porque o ambiente - aquilo que vemos nos museus quando crianças, as pessoas que conhecemos e as referências que elas trazem consigo, a paisagem, as cores das casas, enfim - exerce uma presença muito forte em nós. E isto cria a nossa memória, e é ela que nutre nossas imagens poéticas. De Fortaleza, sempre me lembro do céu muito azul, do escuro de dentro de casa, das horas pós-almoço, da praia e do mar. Estes elementos aparecem, direta ou indiretamente, no meu trabalho. Fortaleza também influencia meu trabalho de forma prática em muitas outras maneiras, como a necessidade de criar minha própria oficina de chassis em madeira para telas, pela falta de chassis de alta qualidade na cidade. É uma cidade de muita beleza, mas também de muitas limitações. Tento trabalhar com esses dois elementos como duas forças de criação, e não de castração.

OP - Notei que suas obras dão destaque a tons terrosos, algo que faz remeter ao calor, trazendo um certo tipo de aproximação e identificação, se assim podemos dizer. O que você quer repassar com as pinturas? E o que você gostaria que o público que vê sua obra pudesse sentir?

Paula - Entendo a pintura como objetos mágicos que nos transformam a partir da comunhão de memórias que os seres humanos compartilham entre si. Minha pintura não "diz" nada, no sentido de "comunicar" algo diretamente; mas tenho apenas uma ambição: trazer ternura aos corações das pessoas, ajudá-las a entrar num estado de espírito que as faça perceber, através da pintura, a brevidade e o brilho da vida.

OP - No Ceará, onde o público pode encontrar suas obras e conhecer pessoalmente o seu trabalho?

Paula - Meu ateliê fica no Centro e, com frequência, eu participo do evento Ateliês abertos do Pocinho, onde o público pode visitar o espaço de trabalho e ver as obras, muitas ainda em processo.

OP - Você realizou exposições, coletivas e individuais, dentro e fora do Brasil. Alguma dessas mostras foi mais desafiadora ou te impactou de forma diferente, tanto no pessoal quanto profissional?

Paula - Falo com o coração que a exposição mais especial e desafiadora para mim foi a mostra que abri no Sobrado Doutor José Lourenço, de 2022, em Fortaleza. Apesar de ser na minha Cidade, foi onde senti que mais deveria ter capricho e zelo em todos os aspectos da produção - desde a pesquisa, que envolvia os artistas da areia colorida de Majorlândia, até a expografia, com mobiliário especialmente feito para a mostra, e a apresentação de um documentário. Aprendi muitas coisas novas e foi muito revitalizante poder apresentar o meu trabalho no lugar onde nasci, junto da presença dos silicografistas Edgar Freitas, Cosma Freitas, Dudui (Carlos Eduardo Rocha) e João Crisóstomo.

OP - No último dia 10 você estreou a exposição "As primeiras coisas", na galeria Mendes Wood DM, nos Estados Unidos. Mesmo já tendo participado de outras mostras, acredito que toda nova abertura é um momento diferente, certo? Como foi a inauguração e qual o sentimento que fica ao ver suas obras ocupando um novo espaço?

Paula - A abertura da exposição em Nova Iorque foi um sonho que se tornou realidade, pois estive produzindo pinturas para esta ocasião especial há mais de um ano. Na inauguração, o público norte-americano pareceu interagir de maneira muito próxima com símbolos e objetos que são muito locais do Ceará, ao mesmo tempo que alguns brasileiros e cearenses que estiveram por lá também puderam expressar a emoção de ver, por exemplo, um quadro do Chico da Silva que pintei dentro de uma composição minha. A galeria possui dois andares de grande escala, e ver as pinturas ocupando - e sustentando - esse tipo de espaço foi uma surpresa muito bonita.

OP - Você pretende trazer a exposição "As primeiras coisas" para Fortaleza?

Paula - Gostaria muito, mas isto não será possível, pois a exposição é comercial e, portanto, as pinturas irão para coleções internacionais.

OP - Para além da pintura, você também se envolve com a moda, tendo feito uma parceria com a marca cearense de roupas Marina Bitu este ano. Como surgiu essa união e como foi o processo de desenvolvimento das peças?

Paula - Eu e Marina temos uma admiração mútua que já data de alguns bons anos, e foi muito natural aceitar o convite quando ela propôs que criássemos uma coleção juntas. O processo foi muito espontâneo e envolveu muita troca de referências, desenhos juntas no ateliê, e uma pequena produção minha de pinturas em papel para reprodução em algumas peças.

OP - Você pretende realizar outras atividades artísticas que vão além da pintura? Seja de forma individual ou em parceria, assim como foi com a Marina Bitu.

Paula - Exploro bastante escultura e gravura, ainda em fase de experimentação e aprendizado. Gostaria muito de repetir a experiência de ilustrar um livro, coisa que fiz em 2020 ilustrando "Dom Casmurro", de Machado de Assis, pela editora Antofágica. Certamente farei alguns livros infantis no futuro, é um desejo muito antigo. E espero fazer algo musical, em algum momento - quem sabe?

OP - Para o futuro, como você se vê enquanto artista daqui a 10 anos?

Paula - Morando no interior do Ceará e, ao mesmo tempo, viajando o mundo. Pintando telas maiores e mais demoradas. Inaugurar alguma exposição num museu do Brasil. Seguir pintando e confiando que isto é a coisa mais importante a se fazer!

 

Conheça Paula Siebra

Onde encontrar: 15º andar do Condomínio Edifício C.Rolim (rua Pedro Borges, 30 - Centro) e Ateliês do Pocinho, no Edifício Palácio Progresso (rua do Pocinho, 33 - Centro)

Mais infos: paulasiebra.com

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