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Aos 80 anos, escritor Cláudio Aguiar ganha homenagem de Rosemberg Cariry
Vida & Arte

Aos 80 anos, escritor Cláudio Aguiar ganha homenagem de Rosemberg Cariry

Aos 80 anos, cearense Cláudio Aguiar é homenageado em obra que discute vida e trajetória artística pelo Brasil
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Claudio Aguiar é homenageado em obra organizada por Rosemberg Cariri (Foto: Leopoldo Conrado Nunes/Divulgação)
Foto: Leopoldo Conrado Nunes/Divulgação Claudio Aguiar é homenageado em obra organizada por Rosemberg Cariri

Para celebrar os 80 anos do escritor cearense Cláudio Aguiar, será lançada neste sábado, 26, uma obra em sua homenagem, que foi organizada pelo cineasta Rosemberg Cariry. Com vivências por Pernambuco e Rio de Janeiro, as oito décadas são contempladas com passagens sobre sua infância, produções na literatura, música e em movimentos políticos.

Cláudio Aguiar nasceu em outubro de 1944, no Sítio Buriti dos Carreiros, distrito de Várzea Formosa. Lá, ele morou até os 10 anos com as "mãos e os pés metidos na terra", segundo ele mesmo. "Essa faina agrícola de natureza familiar, marcada pela ida nos roçados, nas plantações e colheitas, na criação de animais, constituiu o meu primeiro aprendizado da vida, algo capaz de revelar fecundo e exemplar modo de sentir-me preparado para as demais fases da existência", explica.

Em 1954, seu pai o levou junto aos irmãos para estudar em Fortaleza. Foi nessa época, ainda na adolescência, que ele se integrou ao movimento estudantil: "O contato com o movimento estudantil de Fortaleza, no final dos anos 1950, foi, praticamente, um imperativo categórico. Um jovem que tivesse conhecimento dos problemas sociais, políticos e culturais que afetaram e ainda afetam a sociedade brasileira dificilmente poderia ignorá-los", explica.

"Eu encontrei jovens preocupados com os problemas sociais, políticos e culturais. Logo integrei-me às atividades políticas do colégio e da cidade", contextualiza Cláudio, que estudou no Liceu do Ceará, colégio mais antigo do Estado. Após esse período, ele e os amigos da escola decidiram buscar novos projetos fora do Ceará, o que hoje Cláudio diz que foi uma decisão arriscada.

Ele reflete: "Como foi possível a um jovem de apenas 16 anos abandonar o convívio com a mãe, a quem amava desesperadamente? Que desejo era esse de conhecer o mundo afora e viver tantas aventuras?". Foi nesta saída do Ceará onde cresceu que ele passou a se dividir, até hoje, entre Pernambuco e Rio de Janeiro.

Sua relação com a arte começou como uma curiosidade de menino e foi desenvolvida ainda nos tempos de escola. Cláudio se destacou pelo estudo e desenvolvimento nas linguagens da literatura, teatro, poesia e música. No Liceu do Ceará, criou um jornal chamado de "Tribuna Liceal". "A minha coluna inaugural foi 'Arte e Literatura'. Desde essa época, não sei como, mas eu conseguia conciliar o tempo para fazer política estudantil, estudar música na Escola Sinfônica Henrique Jorge e trabalhar num colégio juntamente com meu irmão Antonio", conta.

Apesar de o jornal ter tido curta duração sob acusação de "perigosas atividades políticas" pela direção da escola, Cláudio continuou sua produção artística e, em 1965, no Recife, ele integrou um grupo de jovens escritores e artistas nomeado de "Geração 65", considerado atualmente um dos mais importantes movimentos literários do Brasil.

Mais adiante, na década de 1980, ele ganhou o Prêmio Literário José Olympio de Romance e o Prêmio Nacional de Literatura pelo livro "Caldeirão", obra em que ele reflete a questão da terra no Brasil. "Sendo eu, filho de pais agricultores, autênticos camponeses, vivendo a infância no campo, terminei impregnado por esse viés tão significativo da própria sociedade brasileira a viver num país de dimensões agrárias e continentais", destaca.

"A questão da terra no Brasil, ainda tão presente entre nós, foi, de fato, o liame que tanto me aproximou desses questionamentos e a retratar, de alguma forma, a inconformidade trágica manifestada pela desigualdade social ainda reinante no campo e na cidade. Por isso, escrevi o romance 'Caldeirão'", acrescenta Cláudio.

Sobre ter sido premiado por esse trabalho, ele avalia que ainda é "a maneira mais forte de reconhecer o trabalho de um escritor" porque "chama a atenção para uma obra". Todavia, para o artista, ainda falta um ponto importante para refletir o reconhecimento: "O ideal seria que, num país como o Brasil, com mais de 215 milhões de pessoas, tivéssemos, igualmente, um extraordinário número de leitores. No entanto, isso não acontece", lamenta.

"Ao se ler pouco, a literatura vai ficando num plano secundário e a atividade do escritor cada vez mais distante do pleno exercício de uma atividade tão relevante para a formação do ser humano. É importante ganhar premiações literárias - e eu conquistei várias, porém, mais do que isso, creio, é ser lido no seu país e sentir que a construção de uma obra literária pode chegar ao futuro de suas gerações", diz.

A homenagem literária que recebe de Rosemberg Cariry, para Cláudio, é um "relevante reconhecimento" que nasceu de "sementes amorosas plantadas ao longo de décadas". Os dois artistas fazem parte da mesma geração de escritores e artistas cearenses, que também integraram Oswald Barroso, Carlos Emílio, Rogaciano Leite Filho e Audifax Rios. "Não poderia receber maior prêmio do que esse reconhecimento que também coroa minha trajetória já bastante longa. Afinal, chegar aos 80 anos talvez seja uma das mais importantes dádivas que o ser humano pode almejar", finaliza.

Cláudio Aguiar - Vida e Obra Literária

Em Fortaleza

  • Quando: sábado, 26, das 17 às 20h30min
  • Onde: Bleecker Café (Rua Silva Paulet, 1281 - Aldeota)
  • Visitação: de segunda-feira a domingo, das 15h30min às 20h30min
  • Evento gratuito
  • Valor da obra: R$100 (no lançamento) e R$ 150 (nas plataformas e livrarias)
  • No mesmo dia e local do lançamento do livro, haverá a estreia da exposição com livros de Cláudio Aguiar e obras de artes de amigos. Em cartaz até dia 26 de novembro deste ano.

No Crato

  • Quando: sábado, 1º de novembro, às 18 horas
  • Onde: Crato Tênis Clube (Rua Cel. Antônio Luiz, 1397 - Pimenta)
  • Evento gratuito
  • Valor da obra: R$100 (no lançamento) e R$ 150 (nas plataformas e livrarias)
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