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Artistas avaliam a ocupação dos equipamentos culturais de Fortaleza
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Artistas avaliam a ocupação dos equipamentos culturais de Fortaleza

Com o fim da atual gestão municipal, artistas de Fortaleza avaliam a ocupação dos equipamentos culturais do Município e projetam desafios para o prefeito eleito Evandro Leitão (PT)
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Escola Vila das Artes (Foto: Aurélio Alves/O Povo)
Foto: Aurélio Alves/O Povo Escola Vila das Artes

Se você, leitor, pudesse fazer perguntas sobre os espaços culturais de Fortaleza, quais faria? Talvez quantos são administrados pela Prefeitura? Ou como ocorre o escoamento de verba para eles? Quem sabe essas outras: como é montada sua programação? Eles têm uma manutenção regular? Há uma análise periódica para identificar se há a necessidade de um ajuste de verba?

Muitas são as perguntas que podem ser feitas a respeito da administração dos espaços culturais públicos da capital cearense, que de acordo com o Canal da Cultura são 11. Mas para não se perder nesse emaranhado de questionamentos, vamos para o básico: como está a ocupação da programação desses locais?

O primeiro da nossa lista é administrado pela Secretaria da Cultura de Fortaleza, a Secultfor, o Teatro Antonieta Noronha. Inaugurado em 2004, o espaço homenageia em seu nome aquela que é conhecida como “dama do teatro cearense”, premiada por trabalhos no teatro e na televisão, e falecida em 2015.

Tão simbólico em sua homenagem, o local completou 20 anos em 2024, mas publicações feitas em 2019 já denunciavam sua inatividade. Ou seja, o equipamento não recebe ou tem uma programação prevista, assim como não recebe pautas. O diretor Almeida Junior, fundador da Companhia Teatral Acontece, lamenta a atual realidade do equipamento e a falta de uma previsão de retorno das atividades.

“Principalmente para os grupos pequenos, os grupos que querem trabalhar com experimentações, com pequenos trabalhos; grupos iniciantes ou que estão sem espaço — esse teatro é essencial, ajudou a vida de muita gente. Muitos humoristas nasceram lá dentro, muitos coletivos de teatros antigamente se apresentaram lá, inclusive a gente (Cia. Teatral Acontece). Hoje, infelizmente, está parado”, arremata.

O Vida&Arte entrou em contato com a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), perguntando como estava a programação fixa do teatro e o acesso a ele. O órgão explicou que “a Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf) realiza, desde agosto de 2023, as obras de reforma” do local.

“O projeto prevê para o teatro nova pintura, assentos especiais para pessoas com mobilidade reduzida, além de projeto acústico. Os serviços de climatização, a recuperação estrutural, reforma dos camarins, sistema de iluminação e instalações elétricas já foram executados”, informou a nota.

A Secretaria também destacou que a obra está 70% concluída e que atualmente está sendo realizado o “emassamento das paredes”. A previsão é que os trabalhos sejam concluídos em dezembro deste ano. “O investimento realizado pela gestão municipal é de cerca de R$ 2,1 milhões”, acrescentou.

Ainda se mantendo no Centro de Fortaleza, agora na rua Rufino de Alencar, nº 299, temos outro equipamento gerido pela Prefeitura, o Teatro São José. Inaugurado originalmente em 1914, foi construído como uma alternativa de lazer para a parte da população fortalezense que naquela época não tinha condições de frequentar o famoso e luxuoso Theatro José de Alencar.

Foi tombado pela prefeitura do município em 1988. Passou um tempo em fechado e em reforma, e foi reinaugurado em 2018 pelo órgão, sua administração ficando com a Secultfor. Ele, no entanto, é outro ponto alvo de ressalvas de Almeida, como questões relacionadas a equipamentos técnicos do espaço

Problemas relacionados à infraestrutura do local também são apontados por Alysson Lemos, artista circense e titular do Conselho Municipal de Política Cultural de Fortaleza (CMPC) na vaga voltada ao circo. Ele cita problemas com equipamentos de luz, som e ar condicionado. “Um teatro sem esses equipamentos é apenas um galpão. Um teatro sem luz e som inviabiliza a produção cultural da cidade”, sustenta.

O Teatro São José, no entanto, não é um espaço inutilizado. O Festival de Teatro de Fortaleza, por exemplo, é realizado no equipamento, assim como também pontuais shows de humor e outras apresentações. Mas o pesquisador, como membro do Conselho Municipal, afirma que a gestão deixa a desejar nessa “ocupação” ou “em ações estratégias” para o equipamento.

Com todo o investimento que houve, e que ainda há com a equipe, não há um retorno com uma programação para a sociedade. “Vimos algumas ações pontuais, com uma programação bem incipiente e delicada, mas não há uma ação permanente para a ocupação dele — o que vai gerando um processo de desidentificação. As pessoas não sabem que ali tem um teatro”, arremata.

De acordo com a Secultfor: “Mediante agendamento, o equipamento é aberto ao público para visitação, recebe grupos para ensaios, espetáculos, pequenos e grandes eventos como o Festival de Teatro e o Circuito de Teatro”. Como contraponto, um dos apontamentos feitos pelos dois artistas cênicos foi a dificuldade para conseguir acessar o local com uma produção.

Com a chegada de uma nova gestão em janeiro de 2025, Almeida e Alysson afirmam ansiar por mudanças para as políticas dos teatros. “Esperamos que o que entre seja pelo menos a possibilidade de diálogo, para que possamos continuar produzindo, escoando nossas produções e entregando ao público”, deseja Alysson, ressaltando que o público é o “ponto final da política pública” e o artista seria “apenas a ponte”.

Almeida Júnior espera a retomada do Antonieta Noronha e um funcionamento pleno do São José. “Que tragam os equipamentos de luz e o ar condicionado. E liberem pauta para os grupos apresentarem e trabalharem lá dentro, para não ser só um equipamento para dar cargos para as pessoas. As pessoas têm cargos e não funcionam para a população”, conclui.

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