Destacar a natureza selvagem, questionar o contraste entre o milenar e a inovação, capturar a coexistência entre o espiritual e o mundano.
Com essa intenção, o fotógrafo Vicente Abreu inaugura a exposição "Foco Thai" no dia 25 de outubro, às 18 horas. Ocupando a B Galeria, no bairro Aldeota, a mostra conta com 17 fotografias selecionadas pela curadora Andréa Dall'Olio Hiluy.
A mostra resulta de uma viagem de dez dias à Tailândia, realizada em junho de 2022, e explora um sonho antigo de Vicente. A viagem, oriunda de uma compra pandêmica, deixou de ser apenas a realização de um desejo e se transformou na primeira exposição individual do fotógrafo cearense.
Para a viagem, Vicente foi munido de sua Canon 6D Mark II com lente única, a 17-40mm. No entanto, entre as dificuldades encontradas, poucas estavam relacionadas ao equipamento.
"O maior desafio foi saber o que não fotografar. Lá existem locais e pessoas que não podemos capturar, por exemplo, alguns monges ou estátuas de Buda, visto que é considerado desrespeito virar de costas para essas imagens. A religião é muito forte e está presente em todos os lados", conta o fotógrafo.
Dos templos dourados às ruas movimentadas e águas serenas que refletem a efervescência dos mercados flutuantes, a exposição põe em foco paisagens quase inóspitas que contrastam com os agitados centros urbanos do país. Em suas imagens, Vicente afirma buscar enquadramentos que destacam a simetria de espaços tão opostos.
Essa foi, inclusive, característica sinalizada por Andréa, curadora da exposição. "A Andréa é uma pessoa sem igual, me ajudou em cada detalhe. No primeiro contato com as minhas obras, ela já observou uma característica minha: a simetria, algo que no início até me preocupava, pensando se poderia ser ruim. Mas não era. Toda a bagagem que ela carrega me fez acreditar que estávamos no caminho certo", acrescenta.
Advogado de formação, Vicente cresceu entre a fotografia, inspirado por referências como Sebastião Salgado e o retratista britânico Platon. Inserido no mercado do direito previdenciário e trabalhista, foi durante a pandemia da covid-19 que teve a coragem de realizar outro desejo antigo: migrar de carreira.
"A pandemia foi o estopim para largar a área do direito, que tanto me frustrava. Parecia que as oportunidades nunca apareciam e, em um domingo, depois de muito diálogo com minha esposa, ela me incentivou a mergulhar de cabeça nesse ramo. De início, não foi fácil, pois, com mais de 30 anos, começar uma nova profissão é meio desesperador. Mas, com o tempo, tudo se encaixa", relembra.
Hoje, Vicente mantém um estúdio na avenida Santos Dumont. Ele deu início ao projeto logo após retornar da viagem à Tailândia. Com isso, reafirma o significado de sua primeira exposição individual ser sobre essa vivência, que tanto o inspirou.
A exposição também conta com duas esculturas de símbolos tailandeses do artista plástico Aurélio Serafim. Além disso, cerca de 50% do lucro das vendas realizadas no dia da abertura será revertido para o Lar Amigos de Jesus, instituição sem fins lucrativos que cuida de crianças e adolescentes com câncer.
Em 2008, Vicente foi diagnosticado com a Doença de Hodgkin, um tipo de câncer que se origina no sistema linfático. Curado em 2014, ele acredita que hoje, dez anos após sua remissão, essa é a forma que encontrou de retribuir à sociedade. "É uma forma de agradecimento por estar vivo, pois fui desenganado pela medicina. Hoje estou aqui, tentando ajudar com o que posso", afirma Vicente.
Abertura da exposição "Foco Thai"