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Quadrinista holandesa adapta 'O Senhor das Moscas' para HQ
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Quadrinista holandesa adapta 'O Senhor das Moscas' para HQ

Quadrinista holandesa, Aimée De Jongh lança versão em quadrinhos de "O Senhor das Moscas", clássico literário de William Golding que completa 70 anos
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Visão de Aimée De Jongh transforma clássico literário em experiência visual (Foto: CIA DAS LETRAS/DIVULGAÇÃO)
Foto: CIA DAS LETRAS/DIVULGAÇÃO Visão de Aimée De Jongh transforma clássico literário em experiência visual

A quadrinista holandesa Aimée De Jongh faz uma nova interpretação do clássico da literatura inglesa "O Senhor das Moscas" (1954) em HQ homônimo já disponível no Brasil. A obra, lançada no início de outubro pela Editora Suma, tem uma abordagem visual que enfatiza a transformação gradual e sombria dos personagens infantis apresentados na trama.

Aimée recria a história de crianças isoladas na ilha paradisíaca que, progressivamente, mergulham no caos da violência descabida e na selvageria presente na humanidade. Inspirada pela densidade emocional e pela crítica social presente no romance, a artista equilibra inocência e brutalidade, estabelecendo um grande contraste entre o que as crianças aparentam ser e no que elas se transformam ao passar dias longe das regras da sociedade.

Em entrevista ao V&A, Aimée compartilha os desafios da criação dessa adaptação visual e mostra que a produção é um novo ponto de acesso para que novas gerações se aproximem do universo simbólico de William Golding.

O POVO - Como você abordou a adaptação da atmosfera sombria e perturbadora do romance para o formato de quadrinhos, considerando a necessidade de equilibrar a representação da violência com a "inocência" das crianças?

Aimée De Jongh - Como artista, trabalho em um meio visual. É por isso que decidi usar desenhos para enfatizar o contraste entre a inocência e a escuridão. As crianças são desenhadas de uma maneira bem infantil, com cabeças grandes e olhos fofos, e elas não parecem perigosas à primeira vista. Quando elas realizam atos violentos mais tarde no livro, como jogar pedras umas nas outras ou até mesmo atacar violentamente um dos garotos, isso causa um grande impacto. A violência parece muito repentina e cria um efeito chocante.

OP- Considerando que "O Senhor das Moscas" é uma crítica social e política, como você acredita que a adaptação em quadrinhos pode ajudar a alcançar um público ainda maior e causar reflexão sobre os temas e as mensagens da obra?

Aimée - Acho que muitos adolescentes hoje em dia não gostam mais de ler, pois recebem muita informação diariamente nas redes sociais. Livros são lentos, é preciso tempo para lê-los, e me pergunto quantos adolescentes ainda pegam o "O Senhor das Moscas" original hoje em dia. Uma graphic novel é um meio muito mais acessível. O aspecto visual e o fato de envolver menos texto, definitivamente, atrairão leitores jovens. E já ouvi de alguns leitores que compraram o romance original depois de terminarem a graphic novel, por curiosidade. Isso é realmente ótimo de ouvir!

OP - Como você conseguiu transmitir a transformação da ilha de um paraíso tropical para um ambiente sombrio e hostil, destacando a deterioração da sociedade dos garotos, por meio da sua arte?

Aimée - Ao ler, você perceberá que as cores vibrantes das primeiras cenas dão lugar a tons mais escuros e cinzentos. Os garotos ficam menos otimistas sobre o resgate, e você vê isso refletido nas cores. Você até vê isso quando as ondas vêm e apagam o sinal de S.O.S. deles na praia. Também focamos muito mais nos garotos e vemos o mundo de sua perspectiva, mais para o final do livro. Isso acontece porque a beleza da ilha, que era tão impressionante nos primeiros capítulos, já não está mais na mente deles; agora é sobrevivência.

OP - O que te inspirou a adaptar essa obra? O que te fascina nela?

Aimée - É difícil não ficar chocado com a crueldade e a violência neste livro. O fato de serem crianças que se comportam dessa maneira torna ainda mais difícil de ler. Eu não diria que é terror, mas definitivamente perdi algumas noites de sono depois de lê-lo pela primeira vez, aos 14 anos. O comentário social que Golding colocou neste livro era relevante em 1954, quase 10 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. E acredito que ainda seja relevante hoje. Existem muitos momentos na história que me lembram do que está acontecendo na política hoje. E a maneira como os garotos tratam a ilha, colocando fogo e destruindo-a, é semelhante à forma como todos nós destruímos a Terra com nossa constante necessidade de desenvolvimento. É um livro que será relevante enquanto a humanidade existir, e é isso que me fascina sobre ele.

O Senhor Das Moscas

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  • Quanto: R$ 109,90
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