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Quais são as referências e aspirações de poetas de diferentes gerações? Veja entrevista
Vida & Arte

Quais são as referências e aspirações de poetas de diferentes gerações? Veja entrevista

Dois poetas de diferentes gerações conversam sobre referências, transformações e ecos do gênero em Fortaleza
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Laís Eutália, poeta e professora (Foto: Priscilla Sousa /Divulgação)
Foto: Priscilla Sousa /Divulgação Laís Eutália, poeta e professora

Laís Eutália - Quais são os principais temas recorrentes em seus poemas?

Reginaldo Figueiredo - Solidariedade, ilusão

Equidade, liberdade, invisível

Pra sentir felicidades

É preciso construir

Dar duro, ou simplesmente

Meditar e ser feliz...

Ajudar-se mutuamente

Não é coisa do passado,

Nem é moda do presente

É energia de todo sempre.

Na Economia Solidária

A gente fortalece o grupo

Não para ajudar ninguém

Sim para crescermos juntos.

Laís - Como a passagem do tempo e as transformações sociais têm influenciado a sua poesia?

Reginaldo - Em minha infância, na convivência com João Pereira da Silva, um dos mais importantes xilogravuristas nordestinos, meu avô, iniciei na poesia. Já nesse tempo queria mudar o mundo. Porém foi nos anos 1990 que passei a viver a poesia, no combate a concentração de renda, em movimentos sociais, principalmente na luta contra os despejos nos conjuntos habitacionais do Brasil. Foi aí que adquiri a consciência que todas e todos somos um. Mesmo continuando a participar de movimentos sociais, hoje percebo que tenho muito mais a aprender do que a ensinar sobre convivência. Quando todos nós entendermos que de nada somos donos, teremos tudo.

Laís - O que você diria a quem está começando a escrever agora?

Reginaldo - Continue escrevendo, pois aprendi que: quando não sei o que fazer da vida, faço um poema. É o poema que me diz o que eu devo fazer, e eu faço. É fácil viver, difícil é saber que é fácil viver. Seja leve e receberá a chave da liberdade. O saber cósmico precisa ser acessado. Quando transformado em código simples e compreensivo, cai como chuva em Terra fértil.

Reginaldo Figueiredo, poeta e historiador(Foto: Cleomir Alencar/Divulgação)
Foto: Cleomir Alencar/Divulgação Reginaldo Figueiredo, poeta e historiador
Reginaldo - Em que fase de sua vida você se reconheceu como poeta? E o que diz o seu primeiro poema?

Laís - Escrevo poemas desde que me entendo por gente. Eu tinha uns diários, daqueles que vinham com cadeado e tudo mais. Escrevia versos, que não lembro mais. Tentava registrar os acontecimentos dos dias, porém sem muita constância, rs. Já na juventude, ao conhecer e frequentar alguns saraus na periferia da cidade de Fortaleza, me vi escrevendo poemas, agora com mais corpo e voz para serem declamados. Não é o primeiro, mas um poema que gosto muito se chama "monólogo sobre a cidade", que surge a partir de uma pergunta que faço a mim mesma "e se eu fosse uma cidade?". Nesse poema brinco com as palavras, ao mesmo passo que invento a cidade que gostaria que existisse, sem violência e com bibliotecas comunitárias em todo o bairro.

Reginaldo - Qual a repercussão da Poesia nas comunidades em que você transita, e em que influencia em seu viver?

Laís - Pelas ruas que ando, minha poesia envolve muita gente, muitos movimentos. Sinto que a poesia me dá passe livre para andar por essa cidade com tantas complexidades. Caminho pelas ruas de todos os bairros indo realizar atividades de mediação de leitura, contação de histórias e oficinas de poesia. Ao ministrar atividades de literatura nas periferias da cidade, vejo muitas meninas tímidas que demonstram o desejo de escrever, publicar e se mostrar para o mundo a partir de suas palavras. A poesia me fez professora, também. Isso foi e está sendo uma grande construção, como pessoa e como poeta. Pensar nas possibilidades de escrita, publicação, educação... Facilitar aulas de linguagem poética é o que tem me fascinado nos últimos anos.

Reginaldo - O que te inspira e qual é o recado que você quer deixar para humanidade?

Laís - O que me inspira é a nossa capacidade de nos reinventarmos, de olhar as miudezas do cotidiano e encontrar sentido e beleza no feixe de luz que passa pela fresta das telhas. É dar valor ao café de minha mãe, que sempre será o melhor café do mundo, porque tem afeto, tem sabor e memória afetiva. O que me inspira são as coisas miúdas mesmo. A floração do jambeiro e o tapete rosa e lindo que fica no asfalto, as crianças brincando de carimba, a pipa no céu azul no mês de junho, são os ventos de agosto, a maré baixa na praia dos pocinhos, é o tempo do caju e as conversas de calçada. Essas coisas que passam batido se não prestarmos atenção. Rapaz, um recado para a humanidade…tô (sic) até me sentindo importante. Fiquemos em paz, galera.

"O verso desdobra o tempo", de Madjer Pontes

Talles Azigon indica

Talles Azigon indica:


Patativa do Assaré (Antologia Poética)

Autores: Gilmar de Carvalho e Patativa do Assaré

"Livro que teve o trabalho do Gilmar de Carvalho, porta de acesso para obra de um dos mais importantes poetas brasileiros de todos os tempos"

Sinopse: O que Patativa diz vem do oco do tempo e do agora de sua serra de Santana, em Assaré, e de lugar nenhum, porque de todos os lugares. O que ele diz é dele e de todos os homens/poetas que vieram antes e virão depois. Essa é a caracterização de sua poesia que esta Antologia tentou captar e capturar. Testemunho ou testamento estético e político de um homem que viveu intensamente todos os momentos, sintonizando sua idílica terra com os centros de decisão, antenado com os grandes temas, intérprete dos que não tem como elevar a voz e dizer as verdades que ele passou a pontear pela vida afora.

Preço médio: R$45

 

"O Olho de Lilith"

Autores: Anna K. Lima, Argentina Castro, Ayla Andrade, Bianca Ribeiro, Jesuana Sampaio, Mika Andrade, Nádia Camuça, Nina Rizzi, Sara Síntique, Suellen Lima, Vitória Régia

"Organizado por Mika Andrade a obra reúne um elenco de portas contemporâneas cearenses que seguem se destacando no cenário literário nacional. Um livro essencial."

Sinopse: Com projeto gráfico de Adriana Campos e ilustrações de Valentina Fraiz, a coletânea de jovens poetas cearenses traz ao público novas provocações. Em sua escrita de corpo inteiro, as mulheres se expõem e convidam a um mergulho guiado por Lilith e seu olho que tudo vê. Ouse também se entregar.

Preço médio: R$55

 

"O verso desdobra o tempo"

Autor: Madjer de Sousa Pontes

"A poesia visual e a poesia concreta cearense sempre foram muito produtivas, reunindo nomes como de Pedro Henrique Saraiva Leão, ao de Djavam Damasceno mais recentemente. O Livro do Poeta Madjer Pontes lançado em 2024 é um deslumbre pelos poemas visuais extremamente elaborado a e que cultuam o amor ao verso, independentemente da forma em que o mesmo se materializa"

Sinopse: O verso desdobra o tempo é um livro de poemas visuais. O segundo do poeta Madjer de Sousa Pontes, o livro explora as possibilidades do jogo significado/significante , através da visualidade e do design. Os poemas também jogam com a metalinguagem.

Preço médio: R$40

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