A escultora Marta Arruda, conhecida por criar esculturas a partir do aço, completa 40 anos de trajetória na arte. A alagoana começou a carreira como soldadora em seu estado natal, onde pôde dar os primeiros passos na manipulação do ferro e soube como trabalhar a partir da matéria para transformá-la em obras de arte.
Ao O POVO, Marta Arruda compartilha percepções sobre assuntos que envolvem a sua carreira em quatro décadas de trabalho e as mudanças que ocorreram ao longo desses anos. Ela é homenageada em exposição na Caixa Cultural no Rio de Janeiro. A escultora conta que atualmente o sentimento é de tranquilidade diante da produção de suas esculturas.
Para ela, a impulsividade presente no começo de sua jornada já foi superada, Ela foca em continuar produzindo suas obras com o mesmo empenho de sempre. "Nos últimos tempos, tenho trabalhado com mais leveza. Um dos motivos é não abrir mão de fazer minhas esculturas utilizando sempre ferramentas pesadas, porém adequadas. A essência é a mesma quando coloco formas ou vida na matéria-prima", afirma.
Para a escultora, as redes sociais têm contribuído bastante para a divulgação de seu trabalho, facilitando o encontro com pessoas de todo o País. "O alcance que as redes sociais nos proporcionam é incrível. O uso intenso das redes como ferramenta de divulgação é gratificante em todos os sentidos. Não só com relação às obras em si, mas o contato com pessoas", destaca Marta Arruda.
Perguntada sobre os desafios de ser uma artista consolidada há 40 anos, Marta também encara o tema com muita serenidade, afirmando que nunca teve a percepção de "desafio" durante a sua trajetória.
"Quando comecei como escultora, as coisas foram acontecendo. Fui atrás de meus objetivos. Viajei muitas vezes só com passagem de volta e pouquíssimo dinheiro, me faltando às vezes até para alimentação. Fiz amigos que me acolheram de uma forma inacreditável para os dias de hoje. Sabe como consegui? Andando com uma pasta de fotos embaixo do braço", declara com entusiasmo.
A artista nordestina também relata que no começo da carreira sofreu comparações com o mineiro Amilcar de Castro. Segundo ela, muitos afirmavam que suas obras eram do escultor. Ela não descansou enquanto não tinha apresentado a Amilcar seu trabalho.
"Não sosseguei enquanto não fui conhecê-lo e dizer que nunca tinha visto as suas esculturas. Mostrei minhas fotos para ele e quando olhou, falou: 'Só faltou eu assinar'. A partir daí foram muitos encontros e bate-papos", conta a alagoana.
Marta Arruda foi a primeira soldadora do Estado de Alagoas. Ela conta também as suas perspectivas de ocupação do público feminino por espaços conquistados na sua vida profissional. "Amo minha profissão de soldadora e gostaria de ver mais mulheres em áreas onde querem estar, apesar de ainda hoje dizer que não é fácil", ressalta.
Ela reflete sobre a evolução de direitos conquistados por mulheres no Brasil em Alagoas. Segundo ela, muitas já ocuparam lugares nos quais em outros momentos não era comum a participação do público, mas também reforça que é importante a união das mulheres para a permanência desses avanços.
"Em Alagoas e no Brasil, houve evolução quanto à participação feminina em certas áreas, mas temos muito a conquistar. Para isso, temos que estar preparadas para andar lado a lado", conclui Marta Arruda.