A 34ª edição do Cine Ceará, festival de cinema Ibero-Americano, começa neste final de semana com três mostras competitivas, três mostras sociais e ainda exibições especiais de filmes selecionados por curadores brasileiros. Neste ano, o evento acontece dos dias 9 a 15 de novembro e destaca diferentes lutas sociais nas
produções selecionadas.
Diretor-executivo do Cine Ceará há 32 anos, Wolney Oliveira afirma, com orgulho, que “para falar de audiovisual cearense, tem que falar de Cine Ceará”. Segundo o cineasta, o festival se tornou referência e ampliou a visibilidade de diversas produções cinematográficas no Estado. “A gente colocou como bandeira do Cine Ceará o tripé ‘formação, produção e difusão’. E todas as políticas públicas que existem hoje
no Ceará têm muito a ver com o festival”, complementa.
Segundo o diretor, o festival é consagrado como uma das iniciativas mais importantes para a divulgação das produções cinematográficas da nossa região. “Se o audiovisual cearense tem essa efervescência toda, muito se deve ao trabalho do Cine Ceará, que é uma das políticas públicas mais longevas, pois são 34 anos que ajudaram a construir todo esse ‘boom’ que a gente vive hoje. Logicamente, ele é a maior vitrine do cinema cearense”, defende.
Neste ano, o evento traz, além das tradicionais mostras competitivas “Ibero-americana de Longa-metragem”, “Brasileira de Curta-metragem” e “Olhar do Ceará”, três mostras cujo objetivo é destacar produções sobre debates sociais: “O festival tem uma parte social belíssima, como a ‘Mostra Melhor Idade’, a ‘Mostra Acessibilidade’ e a ‘O primeiro filme a gente nunca esquece’. Temos ainda outro projeto que surgiu também no Cine Ceará, o ‘Compartilha Animação’, que tem sido viabilizado pela Enel”.
O curador da Mostra Ibero-americana de Longa-metragem, Bruno Carmelo, conta que assistiu a mais de 200 filmes até chegar aos seis escolhidos para a competição principal: “Às vezes, o cinema latino-americano está muito associado a um realismo social, com dramas que acompanham a jornada de protagonistas de classes desfavorecidas. É óbvio que isso também está representado, mas a gente também tem comédias, suspense e outros gêneros de maneiras muito distintas de países diferentes”.
Para Bruno, é muito importante que o Cine Ceará abrace produções ibero-americanas, pois é uma oportunidade de os brasileiros conhecerem o que está sendo produzido pelos nossos “vizinhos”. “Eu acho que o Cine Ceará é um festival de resistência e é fundamental ter esse recorte Ibero-Americano, que é muito raro entre os nossos festivais nacionais”, aponta.
“Um Cine Ceará, que persiste há 34 anos, acaba promovendo um diálogo entre formas de cinematografia que a gente nem sempre busca, como entre produções brasileiras e argentinas, entre espanhóis, e com os de Portugal também. A gente tem pouquíssimos filmes portugueses no circuito comercial pós festival, essa é uma oportunidade raríssima não só de assistir filmes inéditos no Brasil, mas também de descobrir o que está sendo feito pelos nossos próprios vizinhos. O nosso circuito comercial ainda é muito tomado por filmes norte-americanos”, complementa Bruno.
O diretor Wolney destaca ainda que, para realizar o festival, é necessário até 80 pessoas trabalhando diretamente no Cine Ceará, além dos funcionários do Hotel Sonata de Iracema, onde também acontecem programações. “É um evento que movimenta a cadeia econômica do Estado. Em alguns anos, nós chegamos a fechar praticamente o hotel só com as pessoas do Cine Ceará”, diz.
“Não é fácil fazer um festival do peso e porte Cine Ceará. Todo ano é um parto para viabilizar recursos, mas é um evento de prestígio, considerado pela mídia nacional como um dos principais festivais de cinema do Brasil e o maior do Nordeste”, finaliza o diretor.
Cine Ceará
Quando: 9 a 15 de novembro
Onde: Cineteatro São Luiz (R. Major Facundo, 500 - Centro)
Retirada de ingressos gratuitos pelo Sympla, às 14 horas do dia anterior a cada programação
Mais informações: no site www.cineceara.com ou Instagram @cineceara
Oficina Cinema Queer
Nas tardes dos dias 11 a 14 deste mês, o cineasta Bruno Carmelo ministra a oficina "Cinema Queer", que aborda desde os primeiros passos até o pleno desenvolvimento do conceito "queer" em uma produção cinematográfica. A formação investiga estratégias de produção, recepção do público e correntes estéticas e políticas dentro do cinema queer na perspectiva crítica de cada obra.
"Tem pessoas que acreditam até hoje que o cinema queer é exclusivamente um cinema focado em personagens LGBTQIA+ e não é isso. A gente tem muitos filmes fundamentais do cinema queer que não têm nenhum personagem LGBTQIA+ ou que não discutem de gênero e sexualidade. A gente tem filmes que, décadas depois, passaram a ser relidos por uma óptica queer, embora não tenham sido percebidos dessa maneira na época em que foram lançados", explica Bruno.
Sobre o material que será estudado nas oficinas, o crítico compartilha: "A ideia é pegar mais de 100 anos de cinema queer com filmes raríssimos e depois alguns mais acessíveis".
A oficina "Cinema Queer" compõe a programação do 34º Cine Ceará e acontece no Hotel Sonata de Iracema, das 14 às 18 horas. As inscrições aconteceram no começo deste mês.