"E.L.A. é mais do que um espetáculo de teatro. E.L.A é uma dramaturgia que se manifesta em cada um de uma maneira muito singular". É assim que a atriz e diretora Jéssica Teixeira descreve o espetáculo E.L.A, obra apresentada gratuitamente no Theatro José de Alencar (TJA) nesta quinta-feira, 7.
No solo, a artista investiga cenicamente seu corpo "inquieto, estranho e disforme" e questiona como ele interage com o mundo ao tratar de assuntos relacionados com beleza, saúde, política e feminilidade.
Jéssica Teixeira também aborda diversidade de corpos no espetáculo "Monga", apresentado no sábado, 9, e domingo, 10, também no TJA. Os ingressos estão esgotados. Ela mergulha na história de Julia Pastrana (1834 - 1860), mexicana que ficou conhecida vulgarmente como mulher-macaco e virou uma das grandes inspirações para os "Freak Shows".
A cearense dá continuidade à pesquisa iniciada em "E.L.A" e segue fazendo do seu corpo a matéria bruta para a construção dramatúrgica, mas usa o estranhamento como guia do roteiro. Com a peça, Jéssica visa aumentar chances de futuros mais dignos de outros corpos.
Realizado desde 2019, "E.L.A" já passou por cidades brasileiras e internacionais, como Istambul, na Turquia. Para Jéssica, o enredo aborda as singularidades e universalidades do corpo, movimentos e a relação com o espaço que ocupa, tendo em mente que a mudança é constante tanto do indivíduo quanto da sociedade em que habita.
"Faço uma investigação profunda sobre o corpo, uma dissecação de forma química, biológica, política, estética, ética, poética, mitológica e filosófica. Tudo isso a partir de uma linguagem teatral, utilizando dança e videomap, para perceberem que a gente é corpo e a gente é o outro", pontua.
Jéssica relembra que durante uma parte da sua vida as pessoas a fizeram acreditar que era estranha e que somente após se tornar artista e estudar bastante conseguiu entender e devolver os "olhares" que recebia.
"Uma pergunta muito singela e muito tranquila que faço é: Quem nunca se olhou no espelho e se sentiu estranho no corpo que tem? Será que é só eu que sinto isso? Será que é só eu que olho no espelho e penso, 'gente, eu sou estranha? Como eu estou estranha?'. E eu sei que não é. Isso é uma questão realmente que passa por todos, só que muitas pessoas adormecem essa questão. E aí trago isso à tona e não tenho pretensão nenhuma de transformar os olhares do público", enfatiza.
Ela acrescenta que possui o desejo de viver e conviver melhor nesse mundo, pois já sofreu muitas violências. Para isso, afirma que é preciso ter a coragem de mostrar o que sabe fazer e falar o que entende de sociedade e de um corpo no mundo.
A diretora destaca a forma que percebe os olhares da plateia: "No palco eu me sinto muito tranquila para fazer isso e as pessoas de fato vão olhando, escutando e percebendo. Não é que vão me percebendo diferente, não é que elas vão me tratar melhor, embora elas me tratem melhor depois que elas assistem ao espetáculo, mas me olham como gente, não me desumanizam, não me invisibilizam. Elas começam a se olhar de uma forma diferente. Esse ponto é o que acho de mais prazeroso no E.L.A".
"E.L.A é um conceito dramatúrgico que se manifesta de uma maneira singular. Se uma pessoa me olha com dó e piedade, eu acho que ela se olha assim. Se uma pessoa me olha absurdamente empoderada, é porque ela é assim. Se uma pessoa me trata com desdém, é porque ela se trata com desdém", enfatiza.
Acessibilidade nas artes
Para Jéssica Teixeira, a acessibilidade é uma área de conhecimento, estudo e pesquisa que demanda tempo e investimento. Ela acredita que o tema de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida precisa ser debatido por todos.
"As pessoas precisam ter o direito de entrar e sair de qualquer lugar a hora que quiserem", pontua. Dobre a acessibilidade nas artes, a cearense ressalta que a democratização do acesso, no seu ponto de vista, parece um tanto utópica e muito idealizada.
"Ainda tenho o desejo de que o mínimo que faço seja acessível. E batalharei por isso até o fim, porque isso deveria ser básico para todos. Infelizmente não é, mas, para mim, pelo menos no meu microcosmo, daquilo que consigo alcançar, batalharei para ser", reflete.
Espetáculo E.L.A no TJA
Quando: quinta-feira, 7,
às 19 horas
Onde: Theatro José de Alencar (R. Liberato Barroso, 525 - Centro)
Gratuito; ingressos disponíveis no Sympla
Espetáculo "Monga" no TJA
Quando: sábado, 9, e domingo, 10, às 19 horas
Onde: Theatro José de Alencar (Rua Liberato Barroso, 525 - Centro)
Classificação: 18 anos
Ingressos esgotados