Em 2024, o maior festival de cinema do Ceará estende sua presença para não só reconhecer produções da sétima arte, mas também agentes que têm importantes contribuições para ela. O 34º Cine Ceará homenageia neste ano os atores cearenses Rodger Rogério e Gero Camilo.
Agraciado com o troféu de Melhor Ator Coadjuvante no Festival de Gramado pela atuação em "Oeste Outra Vez", o também cantor e compositor Rodger Rogério recebe o Troféu Eusélio Oliveira na quinta-feira, 14. No dia seguinte, 15, será a vez do ator, cantor, compositor, diretor, dramaturgo e poeta Gero Camilo ser homenageado, que já participou de filmes como "Abril Despedaçado" e "Bicho de Sete Cabeças".
Ao Vida&Arte, os artistas destacam a felicidade pelo reconhecimento do festival e o cenário do cinema cearense.
"Aventura de atuar"
O POVO: 2024 tem sido um ano especial para você. Além da homenagem no Cine Ceará, completou 80 anos e conquistou o troféu de Melhor Ator Coadjuvante no Festival de Gramado. Quais posições essas conquistas ocupam em nível de importância em sua carreira?
Rodger Rogério: Eu não queria ser ator. Não tinha essa vontade, porque sou muito tímido. Na época, eu tocava violão e ficava "escondido". Aconteceu um período em que comecei a escrever muito, mas meus assuntos eram sempre sobre Física e Matemática. Tive vontade de escrever sobre outras coisas. Quando fiz o curso de Artes Dramáticas da Universidade Federal do Ceará (UFC), não fiz para ser ator, mas para escrever, para conhecer a arte e o teatro. Só que no curso você ficava no palco
do primeiro dia de aula até o último. Perdi o medo do palco assim e fui aprendendo muitas coisas sobre mim.
OP: O que você aprendeu?
Rodger: Eu achava que não tinha voz, que minha voz era pequena. Nós emitimos a voz no palco para chegar à última cadeira e sem grandes esforços eu conseguia isso. Foi aí que descobri que tinha voz (risos). Quando o curso terminou, não quis mais sair do palco e continuei atuando. Cinema é uma paixão de infância também. Logo quando terminei o curso, nos últimos meses, fui convidado para participar de um filme do Karim Aïnouz, o curta-metragem "O Preso" (1992). A diretora de fotografia era a Jane Malaquias. Na sequência, ela fez seu filme e perguntou se eu topava fazer um teste. Fiz e passei. Mal terminei o curso de teatro já tinha participado de dois filmes. O cinema, então, ganhou. Eu me aproximei muito do cinema. Havia anos em que eu fazia dois filmes por ano. Eu não esperava esses reconhecimentos que tenho tido. Estou satisfeito com o resultado dessa minha aventura de atuar, porque quando você começa é fascinante. É difícil dizer que não quer. Sou muito feliz com a minha atividade.
OP: Qual lugar a atuação tem ocupado recentemente na sua carreira? Você tem se voltado mais para o cinema ou para a música? Como tem equilibrado esses pontos?
Rodger: É muito para o cinema. Aqui no Ceará, é uma atividade mais profissional que a música — sem desmerecer ninguém, até porque os músicos do Estado são os melhores do Brasil. Sinto que há mais estrutura e fazer cinema é muito mais caro que fazer música. Há uma cultura na nossa terra, não sei o motivo, na qual o músico não é valorizado. Lembro que quando era criança e "aperreei" para ter um violão, na primeira vez que minha avó me viu com o instrumento ela foi perguntar para minha mãe por que ela "não tinha comprado logo uma garrafa de cachaça logo" para mim também. O músico era tratado desse jeito. Em alguns momentos falta o respeito no Estado. Mas não tenho o que reclamar, de forma alguma, nem do cinema nem da música. Nunca fiz um esforço grande para isso. Vou navegando na água que escolhi para mergulhar.
OP: Como você analisa o cenário do cinema cearense e qual a importância de festivais como o Cine Ceará para o fomento dessas produções?
Rodger: O Ceará é pródigo em criar artistas. Desde o início o Estado se mostra um celeiro de grandes talentos. Isso continua. O Cine Ceará virou um evento grande. Todo o esforço que se fizer em prol disso é bem-vindo.
"Linda celebração"
O POVO: A homenagem no Cine Ceará é a coroação do reconhecimento de um artista multifacetado como você é, com trajetórias no cinema, na televisão, no teatro e também na música. Como a homenagem sintetiza seu legado artístico?
Gero Camilo: Como uma linda celebração. Comecei fazer arte aqui em Fortaleza. Desde então minha obra caminha pelo Brasil e por outros países com o intuito universal de desbravar a humanidade e seus passos. A arte é um portal para quem não se limita a fronteiras, ao mesmo tempo que a origem é o princípio de tudo.
OP: A relevância de sua trajetória enquanto ator não se restringe ao Ceará, pois construiu carreira consolidada nacionalmente. Este foi um ano marcante para o Estado com tantas estreias comerciais de filmes cearenses e, claro, com a disputa de "Motel Destino" no Festival Cannes. Como observa a evolução do cinema cearense desde o período no qual começou a atuar?
Gero: O Ceará está em um ótimo momento para nossa cinematografia. Que sigamos adiante, e que possamos dar novos passos que realmente fortaleçam a produção audiovisual. Essa é a diferença: estamos mais donos dos nossos próprios meios de produção. E é isso que faz com que o Brasil queira nos ver por nossos próprios olhos.
OP: Diante da diversidade de campos artísticos experimentados na sua carreira, ainda há alguma área pela qual gostaria de enveredar?
Gero: Sim. A dança e a Ópera. Comecei a ser artista dançando quadrilha no Conjunto Esperança. Além de dançar, atuava no casamento como o meu primeiro personagem, o Sacristão. Minha curiosidade para a dança e para ópera nasce daí. Ainda desejo realizar esse projeto.
34º Cine Ceará
Quando: de sábado, 9, a sexta-feira, 15
Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 - Centro)
Retirada de ingressos gratuitos pelo Sympla, às 14 horas do dia anterior a cada programação
Mais informações: no site cineceara.com ou Instagram
@cineceara