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Black Fuá celebra cultura negra cearense e carreira de Silvania de Deus
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Black Fuá celebra cultura negra cearense e carreira de Silvania de Deus

Estilista Silvania de Deus realiza Black Fuá, edição especial do Fuá da Sil, para celebrar a cultura preta cearenses
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Estilista Silvania de Deus celebra 30 anos de carreira com festa Black Fuá (Foto: Silvania de Deus/Divulgação)
Foto: Silvania de Deus/Divulgação Estilista Silvania de Deus celebra 30 anos de carreira com festa Black Fuá

Fuá é o termo designado para encontros entre amigos onde o que vale é festejar. Por isso, o conceito faz parte do evento Fuá da Sil, realizado mensalmente pela estilista Silvania de Deus na Praia de Iracema, que ganha uma nova edição nesta sexta-feira, 15, em homenagem ao Dia da Consciência Negra: a Black Fuá.

O evento acontece no número 660 da rua dos Tabajaras, onde a Casa Iracemar está localizada. A festa inicia às 10 horas com programação que reúne desde cortejo de candomblé até atrações musicais como DJ Bugzinha, o coletivo Maré House e a cantora Lorena Nunes. Sil, como é chamada por amigos e clientes, também aproveita a ocasião para celebrar seus 30 anos de carreira na moda.

"Comecei a fazer o 'fuá' para chamar a atenção da Cidade e fazê-la olhar para cá também, pois eu não tinha para onde ir, e sempre enxerguei este lugar como algo maravilhoso, com muito charme", explica a empreendedora, que teve seu primeiro contato com a moda ainda na infância, por ser filha de costureira.

"Senti que precisava fazer minha Cidade perceber e valorizar esse lugar. É como dizem, se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé — ou melhor, ao contrário. Se eu vejo beleza aqui, outras pessoas também poderão ver", destaca a estilista sobre o objetivo da festa.

Para a cearense, manter o movimento na rua dos Tabajaras é fundamental para acabar com o estigma de "espaço perigoso" que rodeia a região da Praia de Iracema. "Eu acredito que uma rua perigosa não é aquela cheia de gente, e sim uma rua vazia. Pensei: 'vou ocupar a rua, fazer um evento para trazer a Cidade de volta, já que ela não vem mais como antes. Existe uma cultura nossa muito própria".

A designer de moda está no bairro desde o início da carreira. O carinho é tanto que ela não deseja deixar o local. "É minha casa, sempre foi minha morada, e eu consegui empreender porque tinha esse espaço onde não precisava pagar aluguel. Essa é a verdade", pontua a artista, que sempre prezou por reunir arte, cultura e moda desde a sua primeira loja, nomeada Odysseia.

"Foi extremamente inovadora e pioneira, sendo o primeiro espaço a chamar atenção para o design cearense. Era um local onde discutíamos o movimento da moda e a criação de novos caminhos", relembra Sil sobre o empreendimento que agora se chama Ateliê da Sil.

Moda e identidade

Nascida e criada no bairro Carlito Pamplona, Silvania produziu peças para si mesma quando ainda era adolescente. A primeira roupa que fez foi uma calça de alfaiataria e logo começou a confeccionar itens para as amigas. Mas, de início, a estilista não queria enveredar na moda devido aos desafios apresentados para uma mulher negra na área durante a década de 1990.

"Eu só tinha até o quarto ano, então trabalhava com o pré-escolar, mas sempre mantendo um contato mínimo com a moda. Mais tarde, decidi me aventurar no empreendedorismo, pois me identificava mais com esse lado do que com o ensino. O mercado (da moda) por si só era algo que não me abria tantas portas. A mulher preta por natureza já parte para empreender porque tem menos espaço de aceitação", destaca Sil.

"Eu já enfrentava essas dificuldades e também tinha esses desejos, esses sonhos, pois já nutria a intenção e a vontade de criar uma moda autoral, independente, com um estilo mais próprio", conta a designer, homenageada com o prêmio RioMar Mulher em março de 2024.

A estilista salienta que sua marca só se tornou o que é, com a relevância que possui, devido ao esforço inicial: "Uma moda mais criativa, autoral e independente só teria espaço se arregaçarmos as mangas e abrirmos caminhos, sendo bem Exu, das encruzilhadas. Fui parte de uma geração que precisou abrir clareiras, plantar as sementes de novos modelos".

Os desafios nesses 30 anos de carreira são inúmeros, mas Silvania de Deus destaca a falta de políticas públicas como o principal deles. "Precisamos 'tirar leite de pedra' muitas vezes. Em várias situações, não temos apoio nem para uma passagem. Você faz tudo, ganha prêmios em diferentes lugares, e mesmo assim não conta com o suporte do poder público para pagar uma passagem que permita receber um prêmio que valorize o próprio lugar de onde você vem".

A realização da Black Fuá, inclusive, só foi possível por conta dos recursos do IX Edital das Artes de Fortaleza. Para o futuro, Silvania espera conseguir dar continuidade ao evento. "A partir deste, que possamos receber os apoios necessários para os próximos, para que possamos fazer cada vez melhor e com a responsabilidade de realizar essas costuras com quem realmente merece estar".

Black Fuá - Edição especial Mês da Consciência Negra

Quando: 15 de novembro, das 10h a 0h

Onde: rua dos Tabajaras, 660 - Praia de Iracema

Gratuito

Mais informações e inscrições: @ateliesilvaniadedeus

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