A Edições Demócrito Rocha (EDR) realiza nesta quinta-feira, 21, o lançamento do livro "Onde mora o beija-flor", de Aline Bussons. Ao contar a história de uma menina que resolve descobrir onde mora um beija-flor, o livro infantojuvenil acompanha uma viagem pela interioridade de uma criança e suas relações com o mundo exterior.
Com seu quarto lançamento pela EDR, Aline Bussons é professora do curso de Letras da Universidade Regional do Cariri (Urca). Como uma boa criança dos anos 1980, cresceu lendo Ana Maria Machado, Ruth Rocha e Joel Rufino dos Santos. Hoje, além de ensinar literatura infantil na Urca, também cursa o programa de pós-graduação em Letras na Universidade Federal do Ceará (UFC). Com pesquisas na área em que leciona, Aline tem desenvolvido seu projeto baseado nas edições de 1982 da revista Recreio, responsável por lançar os nomes que tanto lhe inspiram. Estudando quem a antecedeu, Aline encontra combustível para produzir obras que trazem o humor da infância, mas suscitam o mais importante nesta fase da vida: o senso de descoberta e o questionamento do que se vê ao redor.
Embora não tenha sido seu plano de vida originário, Aline se lançou na literatura infantil em meados de 2010. Ela conta que o ímpeto para a primeira obra surgiu ao ajudar sua filha, Bruna, a realizar uma lição de casa de ciências. "O meu primeiro livro, 'Uma Baleia Muito Esperta', surgiu de um momento em que eu estava ensinando minha filha. O livro narra sobre uma baleia que começa a se perguntar o que é, após ser chamada de mamífera", explica. A autora reconhece que boa parte da própria produção vem dessa figura materna que, além de cuidar, também cultiva a observação e a brincadeira.
O lançamento desta quinta-feira marca o retorno de Aline às publicações editoriais, já que estava afastada do mercado desde 2013. Por motivos acadêmicos, a autora fez uma pausa nos lançamentos, mas afirma que nunca deixou a escrita infantojuvenil de lado, participando de atividades em escolas, sessões de contação de histórias e eventos pedagógicos que ressaltam o potencial do livro infantil.
Fruto da inspiração pandêmica, a ideia para o livro surgiu após a observação de um beija-flor que pousava diariamente em seu escritório-jardim durante o isolamento. "Isolada na casa da minha mãe, transformei o deck do jardim em escritório, no qual todos os dias o beija-flor vinha me ver. Comecei então a pensar sobre onde ele poderia morar, que horários ele dormia e como era seu ninho", conta a linguista.
Hoje, com a obra finalizada, a narrativa traz personagens essenciais na jornada da menina, que desenvolve uma espécie de cartografia afetiva para ir ao encontro do beija-flor. Entre a mãe, a professora e o vizinho Seu Juvenal, Aline destaca a presença do carteiro na história. "A vida toda conversei com carteiros, é uma figura que sempre me gerou curiosidade. Adoro o gênero carta, acho extremamente emocional e durante toda minha juventude eu escrevi", segue contando.
Para dar vida a esses encontros e desencontros, o livro conta com ilustrações de Raisa Christina. Conhecida por retratar a maternidade e corpos femininos em suas obras, a artista visual encontrou Aline em um evento paralelo do programa de pós-graduação. Exposta na parede, a figura do diadorim menstruado, desde o início, cativou o olhar de Aline.
Para a escritora, foi essencial ter uma ilustradora com um olhar sensível sobre o feminino para contar a jornada de autodescoberta de uma garota. Acostumada a trabalhar com ilustradores homens, em uma relação estritamente profissional, o encontro com Raisa foi fortuito e lhe abriu novas concepções sobre a relação dialógica entre escrita e ilustração. "Acredito que a Raisa conseguiu captar muito dessa parte do agenciamento infantil, porque não é dito no texto que a menina é artista, que ela é inteligente. Mas a Raisa diz isso por meio das imagens. Então, ela acaba empoderando essa menina em suas ilustrações", reflete Aline.
A autora confessa que foi tardiamente que passou a dar a devida atenção às representações gráficas que compõem uma obra. "Só muito tarde fui dar a real atenção à ilustração, quando entendi que existem livros-álbum, que são obras construídas entre o escritor e o ilustrador desde o início. Porque, no final, o ilustrador também é autor; ele conta outra história, acrescenta pontos de vista, valoriza, e às vezes até se contradiz com o texto também", finaliza.
O lançamento da produção literária acontecerá no Espaço O POVO, às 19 horas, e contará com a apresentação da Banda Maré de Lua Cheia e uma sessão de contação de histórias com Chicão Oliveira e Natalia Golignac. Para Aline, realizar seu retorno com um lançamento pela Edições Demócrito Rocha é uma grande realização. "A fundação sempre teve um grande respeito por mim como autora, prezando pelo diálogo, pela interação e dando valor às minhas opiniões e preferências. Além disso, sabe-se que é uma editora que batalha pela circulação dos livros nos mais diversos espaços, por ser, desde sua origem, comprometida com a educação", afirma.
Ao ser questionada sobre o sentimento que gostaria de provocar em seus leitores, a autora fala sobre a capacidade da imaginação. "E se algum dia a minha curiosidade me levar a seguir um beija-flor?", questiona Aline. São atitudes como essas, que fogem da razão e da lógica cartesiana, que, para a autora, podem ser um escape para o mundo acelerado no qual vivemos. Libertação essa, que por vezes, pode ser alcançada em sua pureza máxima por meio da literatura infantojuvenil.
Lançamento do livro "Onde mora o beija-flor"
Quando: quinta-feira, 21, às 19h
Onde: Espaço O Povo
(Av. Aguanambi, 282 -
José Bonifacio)
Gratuito; o livro será vendido por R$ 35
Mais informações:
@edicoesdemocritorocha