A origem da Bruxa Má do Oeste, Elphaba (Cynthia Erivo), icônica vilã de “O Mágico de Oz”, é o que aborda a trama de “Wicked” (2024). O longa-metragem também é focado na história não contada da antagonista de Dorothy e sua amizade inesperada com a Bruxa Boa do Sul, Glinda (Ariana Grande).
Baseado no livro de mesmo nome, escrito por Gregory Maguire e lançado em 1995, que foi posteriormente, a obra foi adaptada para uma peça na Broadway por Stephen Schwartz (texto) e Winnie Holzman (libreto), em 2003, o filme dirigido por Jon M. Chu (Asiáticos Podres de Ricos e In The Heights) estreia num momento em que o público não quer saber muito de musicais.
Ainda assim, a produção consegue conquistar até o ser humano mais ranzinza com sua história completamente humana que usa da fantasia e seus elementos para envolver a audiência e criar metáforas sobre os problemas do mundo real. As músicas, que para aqueles que não gostam do gênero podem parecer desnecessárias, se tornam um complemento fundamental.
O roteiro de “Wicked” não se propõe a colocar Elphaba como vítima da sociedade, como “Coringa” (2019) faz com o vilão do Batman para justificar os crimes cometidos pelo palhaço de Gotham. Na verdade, o triunfo da narrativa é mostrar como minorias, representadas no longa pelos animais e a própria Elphaba, são transformadas nos vilões da sociedade afim de que o status quo e a exploração dessas populações sejam justificadas.
Por isso, a escalação de Cynthia como Elphaba foi certeira. Além do talento como atriz e cantora, Erivo vem da Broadway e foi destaque em 2015 por sua interpretação de Celie de “A Cor Púrpura” que já chegou a lhe render um Tony, a artista é uma mulher negra. Ao interpretar a “bruxa má”, a nigeriana acaba dando mais força para a teoria de que personagens verdes na cultura pop são representações de pessoas não-brancas, majoritariamente negras.
A escolha de Ariana Grande para Glinda também foi outra boa decisão da produção do filme. A artista que também já foi Broadway, mas ganhou notoriedade pela personagem Cat Valentine de “Brilhante Victória” (2011), mostra uma interpretação madura e bem trabalhada da “bruxa boa”. Ariana consegue imprimir a personalidade de Glinda com qualidade, explicitando o quanto a figura só se importa consigo mesma e para as suas necessidades.
O restante do elenco não é sobreposto pelas duas protagonistas. Seguem memoráveis ao público do início ao fim, desde o professor Dillamond, bode que na versão original é dublado por Peter Dinklage, até a tímida Nessarose (Marissa Bode), a irmã de Elphaba. Jonathan Bailey também entrega um boêmio nato com Fiyero Tigelaar e Ethan Slater consegue seu espaço como Boq Woodsman.
Obviamente, nenhum roteiro ou elenco bom salvaria o longa senão houvesse a atenção e o cuidado para a ambientação que felizmente houve, afinal, “Wicked” é antes de tudo uma história de fantasia. O cenário usa tanto de efeitos práticos quanto CGI (na medida certa) para mergulhar a audiência em Oz.
O resultado são cenas visualmente belíssimas, sem medo de ser coloridas e espalhafatosas como pede a trama. A fotografia de Alice Brooks (“Tick, tick… boom!” e “In The Heights”) aproveita cada cenário oferecendo frames que despertam a vontade de emoldurá-los e levá-los para casa.
No fim, “Wicked”, para além de seu discurso político atemporal, é uma homenagem bonita ao teatro musical e aos filmes musicais, que embora muitos odeiam, fazem parte da história do cinema. O próprio “Mágico de Oz” (1939), filme baseado no livro de L. Frank Baum que tem o mesmo nome e no qual “Wicked” também se baseia, prova isso.
Wicked
Quando: Em cartaz a partir de 21 de novembro
Onde: Ingresso.com