Nos primeiros acordes de "Take me out", da banda escocesa Franz Ferdinand, a música consegue levar os ouvintes para tempos não tão distantes e momentos ainda nítidos na memória. A experiência nostálgica pode ser rememorada com o riff de guitarra na introdução de "Mr. Brightside", do The Killers, ou na batida energética de "What you know", do grupo Two Door Cinema Club.
O indie rock que dominou as paradas musicais durante a década de 2000 fez sua passagem pelo Brasil e deixou marcada diversas gerações de jovens que encontravam no estilo musical um momento para ouvir, cantar, dançar e se divertir junto a amigos. O gênero democrático abria espaço para outros ritmos, similares ou não - como pop, emo, punk, folk e o metal alternativo -, a se apresentarem em uma mesma noite e fez a alegria da juventude que viveu em Fortaleza entre os anos 2006 e 2018, sendo destaque em casas noturnas e baladas pela cidade.
"Para além da música boa, [o Órbita Bar] era um local onde as pessoas estavam sempre mais abertas a trocar uma ideia sobre música, a cena rock na Cidade, os rolês… Enfim, era uma ambiente onde podíamos ser quem queríamos ser sem julgamentos. Você era emo? Tudo bem! Era aquele roqueiro trevoso? Massa! Era uma paty rocker? Irado, lá também tocava Avril Lavigne e Paramore", recorda Christian Rodrigues.
Frequentador assíduo do espaço localizado na avenida Almirante Jaceguai, na Praia de Iracema, o desenvolvedor de projetos de energias renováveis conta que a preferência pela casa se deu pela dedicação à "cena alternativa em geral, mas tendo o rock como protagonista".
Na década passada, os jovens "alternativos" da Capital podiam escolher pelos estabelecimentos das proximidades do Centro Dragão do Mar (entre o Órbita Bar e Amici's Bar) ou na Aldeota e região - abrangendo o At Home Hostel & Pub, 5inco Shot Bar, Hey Ho Rock Bar, Boozers Pub e o antigo Fafi.
"Não consigo nem listar quantas noites memoráveis passei no Hey Ho, Fafi e no Órbita Bar, que eram meus bares favoritos naquela época. Que saudades!", acrescenta.
Atualmente com 35 anos, o cearense reflete: "O que vivemos naquela época de jovens adolescentes, cheios de vigor e com aquela raiva típica que só era extravasada quando tocava aquela do System of a Down ou Linkin Park, foi lindo. Mas hoje essa geração cresceu, mudou a mentalidade e só quer um lugar para ouvir música boa sentado com os amigos", afirma Christian.
Como a maioria das grandes amizades feitas naquela época, a parceria entre Christian Rodrigues e Andreza Sá iniciou na famosa "fila dos pobres" do Órbita, que permitia a entrada franca no estabelecimento nas primeiras horas da abertura da casa. Médica veterinária, Andreza descreve que o estabelecimento podia ser comparado à "Malhação", em referência divertida à novela teen.
"O que eu mais curtia era por lá tocar o estilo de música que eu gostava de escutar, que era rock. Então, acabava sendo uma grande 'Malhação', todo mundo se conhecia e se alinhavam principalmente no Órbita. No dia de domingo, então… Eram as mesmas figurinhas carimbadas e era bem legal. Eu gostava bastante, eu conhecia os bartenders, conhecia a galera que tocava nas bandas e a galera que frequentava", recorda. (Líllian Santos)