Nos versos de "Como Nossos Pais", Belchior (1946 - 2017) canta sobre como as lutas se repetem através de gerações, mas a procura por mudança pode transformar uma sociedade conservadora. Essa mesma ânsia por liberdade foi responsável por motivar a movimentação nordestina na Confederação do Equador em 1824.
Após 200 anos deste marco, a história foi conservada para além dos livros e chega ao palco do Teatro Dragão do Mar nesta quinta-feira, 28, em apresentação única. A peça gratuita, intitulada "Sertão Confederado", busca apresentar a memória da revolução sob uma perspectiva feminina e onisciente de Ana Triste, esposa de Tristão Gonçalves.
A produção é uma iniciativa da Fundação do Sindicato dos Fazendários do Estado (Sintaf) e conta com dramaturgia do escritor e produtor cultural Mailson Furtado. A responsável pela direção é a pesquisadora Herê Aquino. "O projeto, a partir dessa provocação, se junta ao longo dos meses seguintes com algumas ações realizadas por outras instituições", relata Furtado.
Dentre as atividades, está a exposição "200 Anos da Confederação do Equador: Um Tributo a Bárbara de Alencar", que deve acontecer no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC) de 28 de novembro a 15 de dezembro. A exposição é composta por 22 telas de artistas plásticos cearenses com produções voltadas à Confederação do Equador.
Sob um tom de resistência e esperança, a Confederação do Equador foi uma revolta que aconteceu no Nordeste brasileiro contra o autoritarismo de Dom Pedro I e em defesa do regime republicano no Brasil. Apesar de iniciada em Pernambuco, o movimento se espalhou pelos estados vizinhos, incluindo o Ceará com a atuação da família Alencar no Cariri.
Mailson, vencedor do Prêmio Jabuti em 2018, assume que decidiu introduzir personagens locais para desenvolver o enredo com informações que são omitidas ou geralmente desconhecidas.
"Destacamos o protagonismo de figuras locais como Tristão Gonçalves, Padre Mororó e Bárbara de Alencar, muitas vezes invisibilizadas na história predominante. O espetáculo resgata esses personagens, incluindo os mártires de 1825, e oferece uma nova perspectiva, aponta.
Ele explica: "Inclusive por nós cearenses, no geral, conhecemos esses personagens deste trabalho por serem nomes de ruas, que estão espalhados em quase todo o Estado".
Para a diretora da peça, a arte desempenha o papel de carregar assuntos para além da diversão. Ela acredita que é responsabilidade do teatro se comunicar com a vida.
"Meus trabalhos sempre buscam abordar questões sociais e conectar temas históricos à vida das pessoas. A história do Ceará é pouco ensinada e, quando é, costuma ser contada pelos poderosos de forma deturpada. A arte permite usar a licença poética para trazer à tona os fatos e apresentá-los de maneira impactante e acessível", ressalta.
Ela detalha a maneira como foi pensada a narradora da peça. "No espetáculo, Ana Triste, esposa de Tristão Gonçalves, assume o papel de narradora, dando voz a uma figura histórica pouco documentada. Com essa perspectiva feminina, contamos a história com sensibilidade e um olhar distanciado, que resgata a luta de quem ficou nos bastidores, sustentando a resistência", comenta.
"Sertão Confederado" tem um elenco formado pela união de dois coletivos de teatro, o Grupo Criar de Teatro e a Cia Prisma de Artes. Apesar da estreia no Dragão do Mar ser a única apresentação do espetáculo em 2024, a produção deve seguir agenda no próximo ano.
Serão dez sessões gratuitas, ainda sem datas divulgadas, que vão percorrer as cidades de Fortaleza, Aracati, Icó, Sobral, Crato, Quixeramobim e Groaíras.
Para Herê, o maior desafio da produção foi juntar dois grupos de teatro e relacionar nas cenas questões do passado e do presente. Desse modo, os ensaios e as conversas foram fundamentais para a solução das dificuldades encontradas.
Já para o autor da dramaturgia, o cuidado também foi focado na estrutura do projeto. "O maior desafio foi contar essa história sem parecer uma história puramente documental de algo que aconteceu há um certo tempo", ressalta Mailson.
Assim, o escritor espera que o público abrace a mensagem da peça para a atualidade. Também empolgada para a apresentação no Dragão do Mar, Herê Aquino enfatiza como deseja que o espetáculo impacte a plateia.
"Nós fizemos um ensaio aberto com alguns convidados e o espetáculo foi muito bem aceito, com muita gente emocionada. Esperamos que a história do espetáculo toque as pessoas, para sempre saber como é importante a luta", destaca a também integrante da Cia Bravia.
Espetáculo "Sertão Confederado"
Quando: quinta, 28, às 20 horas
Onde: Teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
Gratuito
Exposição "200 Anos da Confederação do Equador: Um Tributo a Bárbara de Alencar"
Quando: de 28 de novembro a 15 de dezembro; visitação
Onde: Centro Dragão do Mar (rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
Quando: todos os dias, das 9h às 21 horas
Gratuito