Estreia nesta segunda-feira, 9, no Canal da FDR, o Cine Vida&Arte, projeto que busca valorizar o audiovisual independente cearense. Serão exibidas 14 obras ao longo dos próximos meses, incluindo uma série de ficção adulta e outra adolescente, três longas documentais, duas séries de animação infantil e sete séries documentais.
A primeira a ser exibida é a série de ficção adulta "Virtude", com 13 episódios de 26 minutos cada. De acordo com Marcos Tardin, diretor-geral da Fundação Demócrito Rocha, a ideia de criar o Cine Vida&Arte surgiu da necessidade de "envelopar" as obras audiovisuais, que foram produzidas, em sua grande maioria, com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), em especial através do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Audiovisual Brasileiro (Prodav 02).
"No total, graças a essa parceria do Canal FDR com a produção independente do Ceará, foram injetados R$6,8 milhões no mercado audiovisual local. Esse valor foi integralmente direcionado para as produtoras independentes daqui, que realizaram as obras, seriadas e longas, de ficção, documentários e animações. São 14 obras ao todo, que começam a ser exibidas agora em dezembro. Decidimos 'amarrar' toda essa grande produção, inédita e muito reveladora da capacidade realizadora do nosso audiovisual independente, num único conceito", detalha.
Tardin ainda explica que o maior propósito é a formação de plateia para a produção audiovisual do Ceará, além de dar visibilidade às obras e aos realizadores, atores, roteiristas, diretores e equipe técnica da produção independente do Estado. "Darmos, enfim, visibilidade e empoderamento à nossa indústria criativa, à nossa cultura, valorizando o sotaque, as paisagens, a história, hábitos, costumes e as variadas formas de manifestação cultural cearense", afirma.
O diretor geral da Fundação Demócrito Rocha ainda chama a atenção para a importância dos editais da linha Prodav para o audiovisual brasileiro como um todo, principalmente para as emissoras e programadoras de TV. "Lamentavelmente, no entanto, os últimos editais da Ancine têm sido muito discriminatórios, muito injustos e desiguais em relação às emissoras educativas do Nordeste, como é o caso do Canal FDR. Canais do eixo Rio-São Paulo recebem muito mais incentivos para o pagamento do licenciamento do que nós e isso ajuda a perpetuar uma desigualdade histórica. A Ancine não está estimulando parcerias como a que temos mantido com a produção audiovisual local. Se isso não mudar muito em breve, teremos muita dificuldade em renovar essas parcerias", revela.
O nome do projeto é em homenagem ao caderno de cultura e entretenimento do O POVO. "O nome Cine Vida&Arte é uma homenagem ao principal caderno cultural da imprensa cearense, com uma longa história de dar visibilidade aos artistas cearenses. Ou seja, algo perfeitamente adequado à iniciativa de apresentar e exibir obras audiovisuais genuinamente cearenses", revela.
O editor-chefe do Núcleo de Imagem e gerente do Canal FDR de Audiovisual do O POVO, Chico Marinho, conta que as obras estavam paradas desde 2016 e que durante todo esse período a retomada foi difícil, pois houve a pandemia da Covid-19. "Foi difícil, principalmente para as produtoras, que tiveram um período complicado e durante o governo Bolsonaro. Quando eles conseguiram começar a se envolver, veio a pandemia e muitos projetos ficaram parados. Tinha o 'Expedição Praieiro', que era na praia com pessoas, o próprio 'Virtude', 'O ar quer saber' com jovens estudantes. Todos esses ficaram parados. Durante a pandemia, as gravações iam e voltavam, de acordo com o que podia acontecer. Por isso que só agora estão saindo", explica Chico Marinho.
Ele ainda conta que serão produzidas algumas temporadas do Cine Vida&Arte e, que nessa primeira, quatro produções foram escolhidas: "Virtude", "Seguindo Alice", "Claquete" e "Alba e os Fantasmas". "'Alba e os Fantasmas' é sobre uma criança que começa a ver fantasmas, que tem um grande amigo fantasma e vai contar um pouco sobre essa amizade. Uma animação. 'Seguindo Alice' também é uma animação, mas para adultos. É filosófica e discute psicologia. É bem interessante. E o 'Claquete' é um programa, na verdade. Esse é o único que não é um filme ou uma série. É um programa que traz algumas obras contempladas no Festival Noia", detalha.
E contínua sobre o enredo da série de estreia, "Virtude": "É uma série de 13 episódios de 26 minutos. Nela, um professor do Cariri vem ensinar aqui (Fortaleza), se aproxima de uma aluna e nesse meio tempo ele se apaixona pelo namorado da aluna. E a trama se desenvolve a partir daí", revela.
Dificuldades em fazer cinema no Ceará
Germano Gomes e Davi Matos, diretores da série "Virtude", relatam a importância do edital Prodav. "Primeiramente, fazer cinema no Ceará sempre foi desafiador. Para recursos (Ancine, FSA e BRDE) chegarem a produtoras independentes sempre foi muito complicado. Mas, com o Prodav 2 essas esperanças e expectativas melhoraram muito", começa Davi Matos.
"Nossa primeira dificuldade foi que, após aprovados no edital, tivemos uma mudança de governo federal, que fez com que o processo de contratação e desembolso demorasse além do normal. Para você ter uma ideia, o edital foi de 2016 e o resultado saiu em 2017, porém o desembolso só ocorreu no final de 2022. Mas, sem possibilidade de correção monetária. Ou seja, tivemos que rodar a série com um orçamento de 2016 em 2023", explica.
Já Germano chama a atenção para o enredo da série, que abordará um relacionamento entre aluno e professor, interpretados pelos atores André Ximenes e Lucas Galvino. "Entendemos que nenhuma relação ou sexualidade deve ser escondida e o dilema do Maurício reflete muito isso. Pois ele tenta esconder sua sexualidade porque trabalha em uma escola tradicional católica", explica.
E reitera: "Mas mesmo com todas as dificuldades, a série ficou linda e estamos muito felizes de que a partir de segunda-feira, 9, os telespectadores cearenses poderão ver o resultado dos conterrâneos nas telas da TV FDR. 'Virtude' é uma série feita por cearenses, para os cearenses".
Cine Vida & Arte- Estreia da série "Virtude"