"Todo artista tem que estar onde o povo está". Este é o lema do Festival Popular de Teatro de Fortaleza, de acordo com o coordenador geral Raimundo Moreira. A programação gratuita acontece até 14 de dezembro em diferentes pontos da Cidade, em ambientes abertos ou gratuitos, levando a arte cênica até o público.
Idealizado pela companhia Prisma de Artes, o evento inicia nesta terça-feira, 10, na Praça José de Alencar com o espetáculo "Macaúba - Peito, Corda e Coração", do coletivo Zanzulim, com apresentação às 9 horas. Apesar da praça concentrar a maior parte das montagens do dia, as peças serão divididas em dois espaços diferentes no turno da noite: Espaço Popular de Artes (EPA) e Casa Absurda.
Essa distribuição por diferentes locais da capital cearense é apoiada pelo propósito de popularizar o teatro na Cidade. "É a grande missão do festival. Ele vem sendo realizado nos últimos 14, 15 anos, com esse propósito de tornar o teatro próximo das pessoas", pontua Raimundo.
Neste ano, por exemplo, os terminais de ônibus do Papicu, Antônio Bezerra, da Parangaba e de Messejana receberão, respectivamente, um espetáculo diferente. Já outras apresentações se concentrarão em escolas e CUCAs da cidade. "São locais que, geralmente, têm grande fluxo de pessoas. A cada ano temos esse desenho de estar perto desses lugares que possam ser trabalhados e (em 2024) também reforçando a ideia de trabalhar com sede de grupos de teatro", elabora.
"Temos esse mantra que se repete a cada ano: 'olha, temos que colocar o teatro perto das pessoas'. Não é à toa que o nome do festival é Festival Popular de Teatro — é popular porque está perto das pessoas, fazendo essa linguagem teatral também sair de dentro dos espaços fechados", continua.
E completa: "Acreditamos que as pessoas podem se acostumar a assistir teatro na rua, em espaços alternativos".
A atriz Marina Brito elogia a iniciativa explicada por Raimundo. Ela faz parte da companhia Bravia, que estará se apresentando no primeiro dia do evento, na Casa Absurda, com o espetáculo "Vita e Virgínia".
A montagem é baseada na história de Virgínia Woolf e Vita Sackville-West. Durante um período localizado entre as décadas de 1910 e 1930, as escritoras inglesas viveram um romance — fato que viriou conhecimento do grupo após a participação de alguns membros em um espetáculo de outro coletivo, "Orlando", baseado em uma obra de Woolf.
"A Virgínia escreveu ela (a obra Orlando) como uma biografia dessa mulher que ela amou, a Vita. É uma biografia meio fantástica, mas é uma biografia — ela diz isso", desenvolve a artista. "As duas eram casadas (com outras pessoas), mas tiveram um romance entre elas e escreveram muitas cartas, escreveram nos seus diários sobre isso. E recentemente, acho que menos de cinco anos, foi publicado um livro, 'Cartas de Amor', que compila a maioria das cartas que elas trocaram", continua.
"Nós recolhemos algumas (cartas) e conseguimos compilar para fazer o espetáculo, mostrando um pouco desse amor entre duas mulheres no início do século XX. Duas mulheres transgressoras, feministas e que se permitiram amar", arremata.
Nas apresentações realizadas anteriormente ao festival, Marina conta que o grupo recebeu uma boa respotas do público em relação a narrativa, alegando ter reunido tanto aqueles que "curtem literatura", como também membros da comunidade LGBTQIAP.
"Temos a expectativa de que seja um bom público, porque as pessoas ficaram aqui, em Fortaleza, querendo mais quando terminamos a temporada. E também sinto que o Festival Popular tem essa pegada gostosa de teatro de grupo, de ver um trabalho continuado de elenco", aponta.
E acrescenta: "O Festival Popular é importante porque ele descentraliza. A força maior do evento acontece no bairro Dias Macedo e adjacências. Também ganha a Cidade, mas parte dali, um bairro descentralizado. A cultura de Fortaleza às vezes fica muito centralizada aqui no Centro, Aldeota, Beira Mar e Praia de Iracema. Então, é muito importante".
Raimundo, coordenador geral do evento, corrobora com a linha de pensamento: "As pessoas têm o hábito de ir à praia, ao cinema, ao shopping, mas não têm o hábito de assistir teatro na praça do bairro, uma praça do centro da cidade. Mudança de hábito leva tempo e tenho dito que, a cada ano, estamos conquistando o olhar das pessoas".
14º Festival Popular de Teatro de Fortaleza