Quando os portões da Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC) se abrirem nesta terça-feira, 10, será consolidado um novo momento histórico para a instituição. Além de completar 70 anos em 2024, a UFC firma encontros entre passado e futuro com programação que inaugura seu novo espaço cultural. A partir das 17 horas é dada a largada para a inauguração do Espaço Cultural Bergson Gurjão.
Até sexta-feira, 13, é promovido o "Sementes de Lutas", programação que reúne seminário, lançamento de livros, exposição e outras atividades. Ao longo das ações participam nomes como o político José Genoíno, o músico e arquiteto Fausto Nilo, a deputada federal Luizianne Lins (PT) e a secretária da Cultura do Ceará, Luisa Cela.
Todas as atividades são gratuitas e abertas ao público. Realizadas na Reitoria, as ações são divididas entre o auditório Antônio Martins Filho, os Jardins da Reitoria e o Espaço Cultural Bergson Gurjão Farias. A programação também se destaca pelo reforço de aproximação da memória e da cultura por parte da UFC em 2024, com a construção do Plano de Cultura da UFC, retomada de festival cultural e captação de recursos.
A inauguração do Espaço Cultural Bergson Gurjão é simbólica por ocorrer no Dia Internacional dos Direitos Humanos e homenagear o ex-estudante da UFC perseguido e morto pela ditadura militar brasileira. Antes do descerramento da placa, a abertura tem um "momento de reconciliação histórica" com ex-estudantes da UFC perseguidos pela ditadura.
A partir da leitura e da entrega do Termo de Reconciliação, a UFC "atualiza e restabelece a compreensão do seu passado recente", sem o apagar, mas registrando na sua história institucional a reconciliação para não haver esquecimento nem repetição de um regime ditatorial no Brasil.
Os Jardins da Reitoria recebem também o lançamento do livro "Tempos de nunca-mais'", coordenado por César Barreira, que aborda as violações dos direitos humanos nas universidades públicas do Ceará entre 1964 e 1985. A ocasião conta com mesa que tem entre os participantes o político José Genoíno.
O dia tem também a abertura da exposição "Sementes de lutas: aqui está presente o movimento estudantil!", primeira atividade realizada no novo espaço cultural. A mostra visa resgatar e contar as histórias da atuação da militância estudantil na UFC desde os primórdios da instituição.
Para isso, são apresentados objetos, imagens e textos que demonstram a contribuição do movimento estudantil para a promoção dos direitos sociais, a ampliação do acesso aos serviços públicos, a efetivação da emancipação humana e para a formação de profissionais comprometidos com o desenvolvimento da sociedade.
A base da pesquisa para a exposição engloba livros, artigos, teses, dissertações e matérias de jornais. Alguns dos livros e algumas das teses estão disponíveis para observação na mostra. Há também objetos importantes como bandeiras do DCE, da UNE, megafones utilizados em manifestações e até a urna em que foram feitas eleições das diretorias do DCE.
Uma das curadoras da exposição, a jornalista Dora Freitas destaca a relevância a mostra: "Ela traz luz ao movimento estudantil da UFC que, na verdade, não é só dela. Ele interage com a sociedade. O tempo todo essas lutas foram interagindo com a sociedade e muitas das pautas ganham essa força da juventude, dessa energia juvenil que eclode da universidade. Outra coisa que a exposição quer referendar é que o movimento estudantil é um só. Ele muda de pessoas, mas tem pautas muito consolidadas".
A partir da quarta-feira, 11, é realizado o seminário "Sementes de Lutas: O Movimento Estudantil na UFC", com mesas que debatem temas como luta pelos direitos à saúde e educação, cultura e direito à cidade e a luta pela democracia no Brasil. Entre os participantes estão Fausto Nilo, José Genoino, Luisa Cela, o reitor Custódio Almeida e o pró-reitor de Cultura Sandro Gouveia.
O seminário foi organizado por comissão criada por Custódio Almeida para abordar a memória do movimento estudantil nas comemorações dos 70 anos da UFC e para refletir sobre a importância dele em diferentes esferas sociais, como ciência, cultura e política.
O Espaço Cultural Bergson Gurjão integra o desejo de ampliar o funcionamento "essencialmente administrativo do prédio da Reitoria", tornando-o também um "local para atividades e projetos culturais e artísticos, aberto à comunidade e em constante diálogo com a sociedade". É, portanto, uma das ações voltadas à memória e à Cultura na universidade em 2024.
UFC e cultura em 2024
As comemorações dos 70 anos de fundação da UFC se diluem pelo mês de dezembro, mas chegam ao ponto fundamental na próxima segunda-feira, 16. É nesta data que ocorre a festa de aniversário na Concha Acústica e a instituição recebe a comunidade acadêmica e a sociedade para a celebração.
Além de entrega da Medalha UFC 70 Anos e o parabéns com bolo comemorativo, a programação tem o show UFC 70 Anos, que abre a décima edição do Festival UFC de Cultura, cujas atividades seguem até 21 de dezembro. O festival retorna ao calendário da Universidade após sete anos de pausa e é mais uma das ações da instituição para avançar no campo cultural.
Os olhares da universidade para essa área passaram a ganhar mais força com a criação da Pró-Reitoria de Cultura (Procult), que completou um ano em agosto. Ela foi estabelecida para o fomento e desenvolvimento da cultura na UFC. Se os primeiros seis meses foram para estruturar internamente o seu funcionamento, em 2024 a Procult partiu para ações maiores.
Como exemplos, é possível citar elaborações de projetos com organismos como o Ministério da Cultura (MinC), o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e, agora em andamento, com a Fundação Nacional de Artes (Funarte). Um “salto considerável”, porém, ocorreu com o início da construção do Plano de Cultura da UFC.
“É um fato importantíssimo, porque o plano vai ser um horizonte para a Procult e para as políticas de cultura da Universidade. É um plano que está ouvindo toda a comunidade, então isso vai nos ajudar”, explica Sandro Gouveia, pró-reitor de Cultura da UFC.
Outro ponto citado é o “resgate” de eventos como o Festival de Cultura, que terá formato mais abrangente em 2025, além da ampliação do número de bolsas para alunos nos projetos do Programa de Promoção da Cultura Artística (PPCA).
Há também a incorporação de equipamentos, como o Espaço Cultural Bergson Gurjão, um centro cultural na área onde estava o Edifício São Pedro e a conclusão do cineteatro no campus de Itapajé. Sandro Gouveia cita também a importância da interiorização do escopo da Procult.
“A pró-reitoria não é só da Capital. É muito mais abrangente. Dentro desse processo, como dialogamos com a cultura do entorno dos campi? Cada campus está em uma macrorregião do Estado, que tem suas peculiaridades e culturas específicas. Precisamos fazer esse diálogo”, aponta.
Quanto ao X Festival de Cultura da UFC, o show UFC 70 anos é aberto com cortejo do Grupo de Música Percussiva Acadêmicos da Casa Caiada. Em seguida, a cantora Lorena Nunes faz apresentação com Mona Gadelha, Rodger Rogério e Tóri Teixeira em repertório que passeia por seus sucessos e canções populares da música cearense.
A programação do festival segue nos dias seguintes com seminários, shows e concerto de Natal.
Programação desta terça-feira, 10
Inauguração Espaço Cultural Bergson Gurjão