Sempre que eu escrevo sobre uma série ou um filme tenho uma dupla satisfação: o exercício da escrita e o prazer de avaliar algo que eu vi e gostei bastante, tendo a chance de compartilhar com a expectativa dos leitores aceitarem a minha sugestão. Não é diferente com "Assassino Zen", série alemã em oito episódios de cerca de meia hora cada, disponível na Netflix.
Sem exagero algum, há de tudo na série e ela pode e deve ser consumida numa maratona sem interrupções: comédia, humor macabro, suspense, drama, intrigas, psicologia, discussões morais, granadas, investigações, sequestros, máfia, creches, traições, ironia, sarcasmo, sangue, meditação, cenas perturbadoras, bizarrices e, claro, muitos assassinatos.
A situação é a seguinte: Bjorn Diemel (Tom Schilling) é um advogado criminalista de um grande escritório e tem habilidades raras para defender mafiosos. É assim que ele consegue manter o confortável padrão de vida. Há, entretanto, um problema imediato: seu trabalho o consome brutalmente e a vida pessoal está desmoronando. Frustrada, a esposa Katharina (Emily Cox), também preocupada com a filha pequena, sugere ao marido buscar ajuda profissional para retomar o controle da vida.
Eis que aparece a chance de um curso individual de atenção plena ("mindfulness"), com uma tentadora promessa: aprender a lidar com o estresse de maneira equilibrada, conseguindo criar ilhas de tempo para cada necessidade, tanto no trabalho, como em casa. Diemel, sem muita animação, aceita o desafio imposto pelo psicólogo, mas no decorrer das aulas vai criando cada vez mais confiança e imaginando outras aplicações para os ensinamentos. Ele aprende a respirar profundamente, a focar no presente e a perceber pequenas coisas que antes passavam despercebidas. Também começa a dividir melhor as tarefas e a se livrar de problemas de modo mais objetivo.
Nesta verdadeira reconexão consigo próprio, o ponto máximo atinge uma decisão drástica e perturbadora: ele mata seu principal cliente, um assassino impiedoso, e precisa se livrar do corpo de uma maneira nada trivial, sem deixar pistas e simulando que a vítima segue viva. Convicto do acerto da decisão e usando os métodos da atenção plena, Diemel vai tomando gosto pela nova vida equilibrada, com tempo para a família, confiante e criminosa.
As atitudes, porém, cobram um preço alto e é exatamente assim que a série se desenvolve e entrega ótimos momentos constantes, com o advogado tendo que lidar com todas as consequências do seu primeiro - e não único - assassinato, incluindo relacionamento com os outros mafiosos e a gestão de bandidos, agora sob seu comando. A polícia, claro, entra de cabeça nas investigações, especialmente a detetive Nicole (Britta Hammelstein).
A atuação de Tom Schilling como Björn Biemel é excelente, principalmente quando ele se vira para a câmera e conversa com o público, já que ele também faz o papel de narrador dos acontecimentos, explicando as principais decisões tomadas. Schilling está em praticamente todas as cenas das cerca de quatro horas de exibição e conduz os argumentos com bastante competência. Os personagens coadjuvantes têm carisma e igualmente entregam um bom trabalho, muito em função do texto ágil e divertido.
"Assassino Zen" tem como base inicial o romance escrito pelo advogado Karsten Dusse, sucesso de vendas na Alemanha. A série está longe de ser convencional e acerta justamente na ousadia e na mistura de estilos. Sua grande força está no roteiro bem costurado, criação do trio de autores Doron Wisotzky, Anneke Janssen e Michael Kenda, na coerência dos absurdos propostos - mantidos estrategicamente durante todos os episódios - e nas reviravoltas da história, fazendo seu protagonista crescer cada vez mais em cena. Uma enorme surpresa da Netflix em 2024 chegou antes do Natal.