"18 anos de (re)existência". O lema assumido pelo Centro Cultural do Bom Jardim (CCBJ) para celebrar mais um aniversário destaca a continuidade de uma política cultural muito importante para Fortaleza e para o Grande Bom Jardim.
Neste mês, o espaço chega a 18 anos de pesquisa, criação, formação, difusão, circulação e fomento à cultura. Para destacar o momento, é realizada de quinta-feira, 19, a sábado, 21, mais uma edição da Mostra das Artes.
Com oficinas, peças, exposições e shows musicais, a programação reúne mais de 30 atrações, como o grupo Sambonja, o influenciador Dudu Suricate e o coreógrafo Cley Monteiro. Além disso, há atividades de promoção dos direitos humanos e apresentações de processos formativos básicos, de média e longa duração.
Construído em 2006, o CCBJ visa democratizar o acesso à cultura a uma região com mais de 220 mil habitantes e que enfrenta desafios como alto índice de violência. Mais de 50 mil pessoas passam anualmente pelo CCBJ, bem como são realizados mais de 100 mil atendimentos.
Para quem está dentro do CCBJ, a vontade é enorme de espalhar para a Cidade os trabalhos realizados no centro cultural. A avaliação é de Marcos Levi Nunes, educador social, mestre em Sociologia e gestor do equipamento.
Levi Nunes está como gestor do CCBJ desde 2021. Antes, ocupava a função de coordenador do setor de atenção social do equipamento. Em sua análise, "não se constrói outra cidade sem passar pelo Grande Bom Jardim". Ele cita ações como laboratórios de pesquisa promovidos pelo espaço, produção de jogos digitais por alunos e a presença de Mestres da Cultura no Bom Jardim como exemplos da relevância da região.
"Não é possível construir outra cidade ou pensar outro espaço sem dialogar com essas periferias e sobre o que elas estão construindo. Estamos, a partir da cultura e da arte, a partir de uma política pública cultural do Governo do Estado, agenciando diversas linguagens e estratégias que apontam para outra forma de existir no mundo", explica.
Nesses 18 anos, a avaliação é de que o CCBJ cresceu bastante, mas Levi pondera que um dos desafios é fazer esse crescimento ter sustentabilidade e força para alcançar outras áreas da região enquanto um centro cultural, como Canindezinho e Comunidade Marrocos.
Quanto aos impactos positivos sobre o território, ele chama a atenção: "Mais importante do que a superação do estigma da violência, que já é muito comum e pode cair em um assistencialismo, é a produção artística e cultural dos diversos artistas do território".
Uma das atividades da Mostra das Artes é a peça "Fragmentos de Uma Luta", da turma de Longa Duração em Teatro do turno da noite. O espetáculo é apresentado no CCBJ neste sábado, 21, às 18 horas. O enredo apresenta a luta de moradores da Comunidade Sempre-Verde. Prestes a serem despejados de suas casas pelo agropecuarista Gilberto, eles se organizam para resistir.
Um dos atores é Victor Ryan, 18, que também é monitor de teatro da turma de Longa Duração do período da tarde. Sobre a importância do CCBJ, ele declara: "é um lugar onde as crianças são elas mesmas, sem celular, onde a família entra em cada programação, onde você cria laços… É uma família que sempre está de portas abertas. Esse lugar é de extrema importância para nós, da periferia, em que muitas das vezes temos sonhos roubados. Foi lá onde voltei a sonhar. Tenho muito orgulho de dizer que o CCBJ é minha família e de todo o Bom Jardim".
A afetividade pelo equipamento é compartilhada por Jô Costa, educadora social, atriz, produtora cultural e travesti. Ao lado de Stephanie Mendes, é responsável pelo cerimonial da Mostra das Artes. Moradora do Grande Bom Jardim, Jô vive o CCBJ desde 2008, quando conheceu o espaço por indicação de amigos.
Hoje, é supervisora geral de Diversidade Sexual e de Gênero do Instituto Mirante. "É muito mágica e muito linda essa relação de que o território do Bom Jardim me forma, bem como o CCBJ me forma e me lança para a cena cultural de uma cidade enquanto artista e, agora, como profissional em uma coordenação de um instituto. Todos esses espaços e todas essas portas abertas a mim têm o atravessamento e o selo do CCBJ, o primeiro equipamento que acreditou no meu potencial", enfatiza.
Para Jô Costa, o CCBJ é um "impulsionador de vidas e experiências para além do território" no qual está inserido: "É potencializar cada vida, cada existência e cada possibilidade. Porque eu, sendo uma pessoa trans, travesti, negra e deficiente, a mesma possibilidade que tive de acessar lugares que nunca passariam pela minha cabeça outras pessoas estão tendo, fazendo cursos e sendo acolhidas".
Programação de quinta-feira, 19
Mostra das Artes