Acessar outros mundos, novos conhecimentos e diferentes vivências são alguns dos vastos benefícios que os livros proporcionam. Entretanto, a falta de acessibilidade é um problema que, assim como em outros âmbitos da vida, ainda permeia o universo literário, excluindo uma grande parcela da população.
Foi a partir dessa perspectiva que nasceu o "Emylle Sobre Rodas". Desenvolvido pela ilustradora e quadrinista do O POVO Milene Correia, o projeto consiste na produção de um livro digital produzido inteiramente com recursos de acessibilidade, voltado para crianças e adolescentes cearenses com deficiência.
A obra é inspirada nas histórias de vida da fortalezense Emylle Torres, atleta paralímpica, cadeirante e ativista PcD (Pessoa com Deficiência). Surgida em 2020, a proposta teve início com a publicação de uma história em quadrinho audiovisual, narrada por ela.
A criação foi premiada no mesmo ano em um edital da Fundação Nacional de Artes (Funarte) em 2020. O prêmio, segundo Milene Correia, inspirou o pensamento de que "o céu é o limite".
"Por ser uma pessoa com deficiência e ter crescido sentindo falta desse tipo de representatividade, vi a parceria com Milene uma oportunidade de mudar isso", conta Emylle.
Em seguida, foram produzidas tirinhas para redes sociais, todas abordando temas relacionados aos direitos da pessoa com deficiência. Desde 2023, os desenhos passaram a ser publicados semanalmente no O POVO.
No próximo ano, a proposta é aumentar o leque de possibilidades e produzir materiais literários que possam auxiliar em ações de educação e cultura para crianças e jovens, visto que o número de matrículas de crianças com deficiência nas escolas cearenses mais que dobrou entre 2012 e 2020.
Os dados, divulgados em 2022 pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), ilustram a marca de 66 mil alunos com deficiência no ensino infantil. O aumento, entretanto, delimita o desafio de assistência por parte do ensino público e particular.
Em 2020, mais de 10 mil livros com recursos de acessibilidade para alunos cegos e com baixa visão, por exemplo, foram distribuídos pelo Ministério da Educação para estudantes do sexto ao nono ano do ensino fundamental. Naquele período, porém, eram mais de 1 milhão de alunos com deficiência matriculados nas escolas do Ceará.
Desta forma, o "Emylle Sobre Rodas" foi pensado para atender a demanda de obras literárias com recursos de acessibilidade por parte de pessoas com deficiência no Ceará, uma parcela da população historicamente em situação de vulnerabilidade social, econômica, política e cultural.
"O objetivo é chegar sempre ao maior número de pessoas possível. Se a gente tiver mais acessibilidade, mais pessoas terão acesso", afirma a quadrinista.
Realizado em parceria com a organização da sociedade civil ACB Esporte e Cultura e apoio da Secretaria Estadual da Cultura do Ceará (Secult), o livro inclusivo é apenas o primeiro passo da iniciativa.
Em fase de produção, a obra ainda não tem uma data de publicação, mas a expectativa é de que seja lançada em breve. "Emylle Sobre Rodas" será disponibilizado em formato de e-book ilustrado, ePub e Daisy (sistema de informação digital acessível, na sigla em inglês), fomentando o uso das novas tecnologias digitais.
A ideia é que o material possa ser acessado em espaços como bibliotecas, centros de cultura e arte ou salas de aula por qualquer pessoa, com ou sem deficiência. O projeto também contempla uma versão performática do livro em vídeo de Libras com legendas para surdos e ensurdecidos (LSE), que estará disponível em um site com recursos de acessibilidade.
O projeto também disponibiliza produtos baseados nas histórias, como camisetas, por meio do site Uma Penca. Com o livro de "Emilly Sobre Rodas", se firma o primeiro passo de uma franquia, que se soma ao projeto Liz e Seus Amigos - Livro Infantil Acessivo. Também desenvolvido por Milene Correia, o produto é uma adaptação do livro "Liz", de autoria do quadrinista do O POVO e vai para a terceira edição.
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