Para algumas mulheres, a marca dos 50 anos é sinônimo de vergonha. Mas, para a cantora Solange Almeida, significa uma vida repleta de superações e sonhos realizados - com muitos para ainda serem vividos.
Com uma voz marcante, característica responsável por inúmeros sucessos que fazem morada na memória dos amantes de forró ("Blá Blá", "Se Não Valorizar", "Me Faça o Favor"), a artista agora celebra a nova idade com orgulho com a gravação do DVD "50/50".
O show comemorativo acontece nesta quarta-feira, 19, no estacionamento da Arena Castelão com entrada solidária, o que permite arrecadação de alimentos não perecíveis para o programa Ceará Sem Fome.
A produção audiovisual vai misturar regravações e composições inéditas, além das participações de João Gomes, Elba Ramalho, Taty Girl, Marília Tavares e a banda Seu Desejo. Em entrevista exclusiva ao Vida&Arte, a artista baiana, titulada cidadã cearense, conta que chegar aos 50 anos é ainda mais significativo quando se é mulher e mãe.
"Não posso dizer que estou no melhor momento da minha vida, mas estou feliz. É um momento de reflexão. Eu me orgulho de chegar até aqui feliz, consciente de tudo que fiz, preparada para o que der e vier. Me sinto bem comigo, olho para o espelho e me admiro pela minha luta, por todos esses quase 17 anos que venço a obesidade", afirma.
Solange considera o novo projeto um marco na trajetória pessoal e profissional, visto que está "muito consciente" de quem é e do que "tem a oferecer" para as pessoas. "Eu não imaginei que o tempo fosse voar tão rápido e o tempo voou", pontua.
Ela diz, também, que o DVD é um grande presente para o público de Fortaleza, que sempre a acolheu tão bem. Sobre as participações especiais, Solange revela que houve convites que não puderam ser aceitos por Bell Marques, Ivete Sangalo e Simone Mendes, por questões de agenda.
A artista acrescenta que os artistas da gravação farão apresentações que ficarão marcadas no público. "Elba era uma pessoa que eu tinha e continuo tendo uma admiração, sempre foi referência. Taty é uma mulher maravilhosa e uma amiga querida que tem uma linda história. O João Gomes, a gente se encontrou uma vez no aeroporto e o convite surgiu meio que por escritório. Marília é um novo nome surgindo no cenário sertanejo, tem uma carreira promissora", detalha a forrozeira.
De acordo com Sol, como é carinhosamente chamada pelos fãs, as arrecadações também serão doadas para projetos sociais da Capital. "Temos em vista algumas instituições para autistas e também estamos com a parceria com várias casas LGBTs, uma causa que precisa ser falada".
Mulheres no forró
Solange também comentou, de forma combativa, sobre o machismo no forró, contexto que acompanha desde o começo da carreira. Ela passou pelas bandas Cavaleiros do Forró, Aviões do Forró e Banda G.
"Tinha muito, mas muito mesmo (machismo). Não só comigo, mas com a maioria das mulheres cantoras que buscaram seguir sozinhas. A mulher precisa ser vista, ter mais oportunidades", declara.
Solange chama atenção para eventos de São João, por exemplo, apenas com atrações musicais masculinas. "O que eu puder fazer como persona para poder levar as mulheres junto comigo à frente disso, desse movimento da mulher no forró, eu estou aqui disposta a tudo. De mãos dadas com elas para a gente deixar a mulher no lugar de destaque que merece".
Outro ponto frisado é a presença de mulheres em músicas sertanejas. A cantora afirma que não há necessidade de rivalidade entre os dois gêneros, já que "o sol brilha para todo mundo". Ela também destaca o preconceito com o forró em premiações, citando como exemplo o Grammy Latino, no qual teve que concorrer na categoria "Raízes" em 2018.
"Eu concorri como cantora de sertanejo, para você ver o quanto o forró ainda é visto com a falta de valorização do nosso som. Eu ainda hei de ver o Grammy Latino com a categoria forró. Acho que vai ser uma das maiores conquistas".
Música na era das plataformas digitais
Ao falar sobre as consequências das plataformas digitais na carreira artística, Solange conta que o mundo está muito digital, "na palma da mão de todos", mas que precisa haver mais fiscalização.
"Tudo que gosto de escutar está no meu celular, acho prático, mas acho que precisa ter uma fiscalização maior em relação a isso. Umas leis mais rígidas, para que compositores recebam os valores certos, direitos autorais sejam repassados. Acho que ainda existe muita coisa que pode ser melhorada na questão dos streamings".
Quando questionada sobre a relação com os fãs, a cantora ressalta que o artista não é nada sem ajuda deles. Ela revela que, com a relação próxima entre eles, acabou ganhando os apelidos de "mãe, mãezona e mainha".
"Eu estou sempre ali para dar uma ajuda. Tem um que passou por um processo de radioterapia e eu estava ali junto. Sempre tento acolher da melhor forma possível, estando perto, querendo saber como está, se posso ajudar de alguma forma com a palavra ou com qualquer outra coisa. Não importa se é material ou se são coisas que não são palpáveis, como um abraço", revela.
Gravação do DVD "50/50"