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"Joy": filme da Netflix evidencia a persistência da ciência
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"Joy": filme da Netflix evidencia a persistência da ciência

Filme da Netflix destaca a história da fertilização in vitro, resgatando a esquecida contribuição de Jean Purdy, pioneira crucial no avanço científico
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Foto: Reprodução/Netflix "Joy", na Netflix, retrata história da inseminação artificial

O cinema tem entre suas missões contar histórias reais, muitas vezes de pessoas que, apesar de suas contribuições notáveis, passaram despercebidas em vida. Assim é Joy, filme britânico lançado pela Netflix em novembro passado. O foco principal é retratar os dez anos de pesquisas que culminaram no nascimento da primeira criança no mundo após o processo de fertilização in vitro (FIV), um marco científico transformador que mudou a vida de milhares de pessoas e trouxe esperança para quem deseja ter filhos, mas enfrenta dificuldades por diversos motivos.

As cenas iniciais nos transportam para o ano de 1968, quando foi formada a equipe liderada pelo cientista Robert Edwards (James Norton), ao lado do cirurgião ginecologista Patrick Steptoe (Bill Nighy) e da enfermeira embriologista Jean Purdy (Thomasin McKenzie). Apesar das fortes pressões da população, da comunidade científica, da Igreja e da imprensa — que os acusavam de "brincar de Deus" —, Robert e Patrick foram reconhecidos como os principais responsáveis pelo sucesso das pesquisas. Este reconhecimento se consolidou em 1978, quando Louise Brown se tornou o primeiro ser humano a nascer após a aplicação da técnica de fertilização assistida, que consiste na fecundação de óvulos fora do corpo da mulher, com posterior implantação no útero.

E a participação de Jean Purdy? O filme busca, e consegue, resgatar com competência a importância de Purdy, por décadas esquecida, destacando-a como a justa protagonista. A jovem enfermeira inglesa, posteriormente capacitada em embriologia, foi absolutamente fundamental para o desenvolvimento da fertilização in vitro, demonstrando persistência, inteligência e dedicação à ideia de ajudar famílias. Cartas do próprio Robert Edwards (que ganhou o Prêmio Nobel em 2010), divulgadas pela Universidade de Cambridge, revelam que Purdy teve uma contribuição decisiva, apesar de enfrentar a rejeição radical de sua mãe religiosa e de amigos.

Com um roteiro simples e linear de Jack Thorne, mas longe de ser cansativo, Joy (nome do meio de Louise Brown, hoje com 46 anos e morando em Bristol, na Inglaterra, justamente onde nasceu, no Hospital Kershaw's Cottage) retrata as enormes dificuldades enfrentadas até o aprimoramento da técnica de FIV. Esses desafios foram vividos tanto pelos pesquisadores quanto pelas dezenas de mulheres voluntárias e corajosas que, ano após ano, passaram por métodos extremamente dolorosos, física e mentalmente, com chances mínimas de êxito na época.

Robert Edwards, Patrick Steptoe e Jean Purdy são muito bem representados por James Norton, Bill Nighy e Thomasin McKenzie, respectivamente. A direção sóbria de Ben Taylor também contribui muito. O trio de atores consegue equilibrar seriedade, sensibilidade e leveza nos momentos de esperança e desesperança, elementos constantes em uma jornada comovente como essa. Sem o mínimo de apoio financeiro, público ou privado, os pesquisadores precisaram investir tempo e dinheiro do próprio bolso, arcando com custos significativos que impactaram suas famílias e relacionamentos.

O trio enfrentou também intensos debates morais durante os anos de desenvolvimento da fertilização in vitro, e o filme, com cerca de duas horas de duração, aborda tais questões por diversos ângulos. No entanto, opta por não se aprofundar excessivamente, preferindo destacar o sucesso do projeto. Desde então, cerca de 12 milhões de crianças nasceram ao redor do planeta graças à técnica, permitindo que o mundo reconheça, ainda que tardiamente, a importância de Jean Purdy.

Joy

  • Filme disponível no catálogo da Netflix

 

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