Samba, reggae, punk e rock são apenas alguns dos ritmos que moldaram a versatilidade de Caiô, cantor, compositor, ator e produtor cultural fortalezense que vem conquistando olhares do público cearense.
Sem temer o ato de se renovar, com mais de 15 anos de carreira, ele segue atuando em diversas linguagens artísticas e atualmente tem se preparado para o seu primeiro projeto solo, após várias produções coletivas.
Caio Fábio da Silva Batista, conhecido como Caiô, tem formação como ator pelo Theatro José de Alencar, assim como realizou especialização na cena artística no Théâtre du Soleil, na França, sob a direção de Ariane Mnouchkine.
Após expandir seu repertório como ator durante a passagem pelo Théâtre du Soleil, ele passou a enxergar que a arte pode ser um meio de resistência e transformação social. Com esse período de experimentação artística, ele embarcou no universo musical como mais uma possibilidade.
"Em 2010, eu me liguei que já era minha profissão, sabe? Que já era o que eu fazia da minha maneira e comecei a fazer circuitos profissionais. Já me percebi na profissão, mas sempre fiz outras coisas também, porque trabalhar com arte, trabalhar com cultura, é você se desdobrar em várias ", relembra.
Autodidata, começou a tocar violão para vizinhança ainda na infância. Mas foi na adolescência que juntou-se a amigos do bairro que montaram um primeiro projeto como cover do Nirvana.
Pouco tempo depois, ele conseguiu assumir a responsabilidade de ser vocalista da banda Groovytown por uma década, grupo em que ele explorou a fusão de ritmos e consolidou sua presença na cena musical cearense.
Em paralelo ao projeto, Caiô criava composições próprias que o fizeram lançar "Pris", um EP autoral com Marcus Au Coelho e Dândara Marques. Desse modo, ele passou a trabalhar com à frente do grupo Outragalera, onde experimenta sonoridades que dialogam com raízes africanas e contemporâneas.
"A Outragalera tem três pessoas, além de mim, que formam uma cadeia de produção, mas seguimos em paralelo com nossos projetos individuais. A metodologia sempre foi coletiva. Mesmo com nossas pausas, a Outragalera é sobre isso: coletivo, sempre coletivo."
Para além do campo da música, o artista também apresenta uma voz ativa no fortalecimento da música negra no Ceará. Idealizador do festival Black Era Fortal, ele cria espaço para artistas negros emergirem e mostrarem o poder das suas culturas.
"O Festival Black Era Fortal é uma reivindicação da música negra cearense. Trabalhamos de forma coletiva, com pessoas excelentes que acessaram lugares de não pertencimento", explica.
Caiô ainda frisa o principal objetivo que ele busca com esse projeto. "É sobre reivindicar um espaço de representatividade para pessoas negras no Ceará, um estado onde até pouco tempo diziam que não existiam negros", aponta.
Em 2022, ele deu início à pesquisa "Salve a Música Negra Cearense", projeto que mapeia a riqueza da cena musical negra local. "A arte é o meio pelo qual expresso minha ancestralidade e compartilho histórias que não podem ser esquecidas", reflete.
Para o produtor cultural, a cena musical cearense tem sido representada por mais artistas negros, mas ressalta que têm sido um processo gradativo e árduo para ocupar esse espaço.
"Hoje temos mais espaço, mas há 15 anos você não via figuras negras ocupando certos lugares na música. Eu fico pensando em como proteger meu filho do racismo e da estrutura. Não tem como, mas, na prática, seguimos criando e reivindicando", comenta.
No segundo semestre de 2024, seu primeiro EP foi relançado em setembro desse ano, como o próprio cantor destaca, a decisão foi fruto do sentimento de retorno a sua essência musical.
Além disso, Caiô também lançou em novembro deste ano a música "Pra Ficar Na Lpz". Atualmente, ele tem trabalhado em novos projetos individuais e pretende realizar lançamentos no próximo ano.
"Ao longo desses 15 anos, eu participei de discos como cantor, instrumentista e produtor. Tem o disco da Groovytown, o Pris, e produções como 'Jesus Ñ Voltará' e 'Rolê nas Ruínas', de Mateus Fazeno Rock. Atualmente, estou lançando singles e construindo o disco ''Para Todos, previsto para 2025", destaca.
Nesta nova fase como compositor, ele comenta que busca manter questões sociais, afetos e ancestralidade, assim como se tornar uma referência ao público. Enquanto produtor, ele deseja continuar construindo pontes para novos talentos e consolidando espaços de resistência e celebração da cultura negra.
"Minha busca é por algo que todo mundo consiga entender, algo simples, mas que sensibilize. Quero que minha música esteja no lugar do afeto, da lembrança, da memória. Parece que estou me comunicando diretamente com a juventude que foi como eu, com a galera preta, de regiões periféricas, sempre buscando esse lugar do afeto", conclui.
Conheça mais sobre o artista
Instagram @caiouotglr