O mercado de quadrinhos brasileiro vivencia um momento de efervescência, com novos talentos emergindo e um crescente reconhecimento internacional. Nesse cenário, a Editora Brasa se destaca como uma das principais plataformas para revelar e valorizar os autores nacionais. Vencedora do prestigioso Prêmio HQ MIX 2024 de Melhor Editora de Quadrinhos, a casa editorial consolida sua posição no setor.
Em entrevista ao Vida&Arte, Lobo, editor-chefe da Editora Brasa, compartilha sua visão sobre o mercado, destacando os desafios, oportunidades e tendências que moldam o futuro dos quadrinhos brasileiros. Com uma carreira marcada por sucesso e inovação, ele oferece uma perspectiva única sobre o setor, desde a criação de conteúdo até a importância da leitura e o impacto das políticas públicas.
O POVO - Quando surgiu a ideia de abrir a editora? Como se deu início a história da Brasa?
Lobo - A semente da Brasa foi plantada em 2015 quando o Gidalti Jr. foi fazer um curso de autopublicação comigo. Lá ele me mostrou artes do "Castanha do Pará", livro que editei de forma independente para ele. Foi o título que estreou na categoria quadrinhos, em 2017. Estava afastado dos quadrinhos, desde a (editora) Barba Negra! Então comecei a procurar projetos para começar a editora, que até então, sequer tinha um nome.
OP - Muitos quadrinistas nacionais não recebem o reconhecimento merecido no Brasil, já obras de artistas do mercado exterior ganham muito mais destaque. Nesse cenário, como a Brasa torna-se palco e holofote para os artistas do nosso país?
Lobo - Para te dizer a verdade, não sei muito bem como isso acontece ou se acontece. A gente baixa a cabeça e trabalha muito para cada livro ficar do jeito que a gente gosta. Fico feliz que você enxergue este trabalho como palco e holofote! A nossa equipe toda da o melhor por cada projeto.
OP - Qual visão o mundo tem sobre o quadrinho produzido no Brasil?
Lobo - O quadrinho brasileiro tem qualidade internacional, não deixamos a desejar! E parece que o mundo tá começando a descobrir isso. Graças ao esforço do Programa Brasil em Quadrinhos, tocado pela Lu Falcon e pelo Igor Trabuco, muitos dos nossos autores estão publicando no exterior.
OP - Apesar do "pouco tempo" de mercado, a Brasa já alcançou alguns prêmios importantes. A quais fatores você atribui esse sucesso? O que diferencia os quadrinhos produzidos pela editora?
Lobo - A Brasa tem pouco tempo, mas eu estou com a validade quase vencida. Trabalho faz muito tempo no mercado editorial, já editei muito quadrinho, principalmente nas editoras Desiderata e Barba Negra. Acho que a Brasa tem dois grandes diferenciais, uma é editamos o conteúdo, desde quando o autor nos apresenta a ideia. Dificilmente publicamos um projeto que já é nos entregue pronto. A segunda é a qualidade técnica da nossa equipe, é muita gente boa junta.
OP - Quais aspectos estéticos diferenciam as produções realizadas no Brasil?
Lobo - Tem todo tipo de artista publicando no Brasil! Tem gente boa nos super-heróis, no independente, no infantil, no autoral...
OP - Como trabalhar temas locais sem cair nos clichês e no risco de tratar regiões de maneira estereotipada?
Lobo - Os projetos que chegam na Brasa são trazidos pelos autores. É gente que conhece o seu lugar no mundo e sabe de onde está falando. Quando tem verdade não tem risco dos clichês atrapalharem.
OP - Recentemente foi publicada a pesquisa Retratos da Leitura do Brasil, mostrando um cenário alarmante. A população brasileira lê menos a cada dia. Como a falta do hábito de ler impacta o mercado de quadrinhos?
Lobo - Quadrinhos são um nicho. Quadrinhos autorais são o nicho do nicho. É uma pena que o brasileiro leia cada vez menos. E é uma pena que as políticas públicas de leitura não percebam o poder que os quadrinhos têm de mudar rapidamente os hábitos de leitura do nosso povo.
OP - E como as HQs são importantes para a formação de um público leitor?
Lobo - O uso da palavra/imagem amplia as possibilidades de leitura e tornam os quadrinhos uma linguagem dinâmica no engajamento da leitura.
OP - Você tem muito tempo de atuação no mercado de quadrinhos, como acredita que serão os próximos anos no mercado editorial?
Lobo - Ainda somos uma cena engatinhando para se tornar um mercado. Não faço muita ideia de por onde o mercado editorial vai caminhar. Se alguém souber esse segredo, por favor, me conte. Mas continuamos vivos, respirando e com o dedo no pulso do mercado.
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