Ainda que uma parcela jovem da população brasileira acredite que haverá um fim da cultura de sentar-se em frente à TV aberta, parece ingênuo pensar que ela não impactou e pautou diversos temas fora das telas. Como exemplo, logo em janeiro, pessoas de diferentes regiões e idades passaram a conhecer o Festival Folclórico de Parintins por influência de Isabelle Nogueira, sister do BBB 24, conhecida como a cunhã-poranga do Boi Garantido.
Ainda no contexto dos realitys, destaca-se o retorno da audiência do Masterchef Brasil, que completou 10 anos e empolgou o público com elenco jocoso. A primeira temporada estreou em maio e foi responsável por quase dobrar a audiência da Band e superar as temporadas de 2023. Nas edições exibidas neste ano, as edições amadores e profissionais confeiteiros, tiveram participantes cearenses que ganharam forte torcida nas redes sociais.
Também neste ano, a TV Globo sofreu com grandes picos e quedas de audiência, a exemplo das novelas "Vai na Fé" e "Mania de Você". Essa primeira conseguiu atrair o público jovem para as telas do ao vivo, emplacando o personagem Lui Lorenzo como ídolo pop nos streamings de música. Em contrapartida, a novela de João Emanuel Carneiro alcançou a pior audiência da história do horário "das nove", superando até o fracasso de "Um Lugar ao Sol".
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Surpresas e revelações
Certamente, o grande destaque nas novelas de 2024 foi Duda Santos. A breve participação da atriz na primeira fase de "Renascer" revelou ao grande público a força de sua atuação, o que foi ainda mais evidenciado no papel de Beatriz, protagonista de "Garota do Momento".
Ainda em relação às novelas, destaco como a maior e mais grata surpresa de 2024 "Volta por Cima", que segue no ar na faixa das 19 horas. Após as desconfianças geradas por "Cara e Coragem", Cláudia Souto agora nos entrega uma novela leve e agradável de assistir, com personagens bem construídos e histórias envolventes e convincentes.
Por David Andrade, estudante de jornalismo
Novelas chegaram aos streamings
Se, por um lado, poucas novelas na TV alcançaram o destaque esperado neste ano, os streamings conseguiram abraçar públicos cada vez mais diversos. Até os grandes fãs do folhetim televisivo se surpreenderam com o melodrama "Pedaço de Mim", a primeira novela brasileira da Netflix. O sucesso da produção foi uma porta de entrada para a divulgação de novelas que estreiam no primeiro semestre de 2025, como "Beleza Fatal" (Max) e "Guerreiros do Sol" (Globoplay).
Virada de chave
Programação cada vez menos ousada, crises de audiência e de criatividade. É esse o retrato da TV aberta em 2024. Programas tradicionais como o Fantástico vêm enfrentando declínio na audiência, problema encarado ainda pelos dominicais da Record. Há também a dificuldade de emplacar novos sucessos, vide a exaustão dos remakes de novelas e o péssimo tom para a criação de novos reality shows.
A Globo patinou para engatar o Estrela da Casa, um formato vendido como inédito, mas realizado preguiçosamente a partir da estrutura do Big Brother Brasil, o único reality da casa que se mantém relevante. Enquanto isso, a Band tem sobrevivido do que parece ser sua espertice: realities de culinária, em suas diferentes versões. E tem funcionado, tanto que a Globo também tem seus representantes desse nicho. O Masterchef Confeitaria foi o programa no formato mais interessante do ano na TV aberta. Ainda que seja mais do mesmo.
Há se reconhecer, no entanto, o esforço para refletir representatividade nas telas. E isso quer dizer causar impacto cultural - algo que também não se vê há tempos. Se em 2023 vimos a novela "Vai na Fé" dar o espaço merecido para a excelência negra na teledramaturgia, este ano fica evidente que o protagonismo negro é, na verdade, a virada de chave para uma TV pelo menos mais próxima do Brasil que temos. Tanto que, para o ano que vem, a principal aposta da casa é a atualização de "Vale Tudo" com Taís Araújo e Bella Campos dando vida às icônicas Raquel e Maria de Fátima.
A Globo encerra este ano com três novelas atuais, na chamada faixa nobre, com protagonistas negras e que também refletem suas vivências, culturas e crenças. Destaque para a discussão crítica de estereótipos da mulher negra em "Garota do Momento", folhetim de época que em outros tempos estaria carregado de sinais de um Brasil atrasado.
Só se fala em outra coisa
Assim como indicado no título da retrospectiva, a TV em 2024 foi também cenário de diversos fracassos de audiência e de carisma. O caso mais emblemático é "Mania de Você", novela de João Emanuel Carneiro, autor responsável por sucessos como "A Favorita" (2008) e "Avenida Brasil" (2012). O folhetim de 2024 bateu recordes de baixa audiência semana a semana desde sua estreia. Outra produção que merece estar na categoria "flop do ano" é o reality "Estrela da Casa"; e os programas de auditório "The Voice Brasil", "Minha Mãe Cozinha Melhor que a Sua" e "Pipoca da Ivete", todos cancelados devido à baixa audiência.
A menção honrosa vai para "Família É Tudo", novela das 19 horas que prometeu o retorno do protagonismo idoso, com as personagens de Arlete Salles: Frida e Catarina. Mas a atriz ficou dividida entre ausência e apagamento.
Estereótipos em tela
Em março deste ano, viralizou nas redes sociais a imagem de divulgação da novela "No Rancho Fundo", que foi acusada de fortalecer estereótipos de pobreza pela caracterização dos personagens nordestinos. Nesta época, influenciadores digitais como Felipe Neto e Whindersson Nunes se posicionaram contra o folhetim. Apesar disso, a trama rendeu boa audiência para a Globo e se consagrou como a melhor novela da emissora por voto popular na premiação "Melhores do Ano".
Globo e SBT
Definitivamente, 2024 embaralhou a cabeça do telespectador. A principal razão foi o troca-troca entre as principais emissoras brasileiras, a Globo e o SBT. Com a morte de Silvio Santos, a Globo dedicou uma programação de homenagem inteiramente voltada ao legado do apresentador. Pela mesma razão, na premiação "Melhores do Ano", a herdeira Patrícia Abravanel recebeu o microfone de Luciano Huck para discursar sobre o pai. O momento foi exibido ao vivo e simultaneamente por cerca de 15 minutos nas duas emissoras.
Além disso, vimos Eliana, uma das principais apresentadoras do SBT estreando na Globo. No sentido contrário, o diretor de televisão mais conhecido
do País, Boninho, deixou a Globo e assinou contrato com o SBT.