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Cearense apresenta espetáculo futurista que discute ambientalismo e hegemonia bípede
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Cearense apresenta espetáculo futurista que discute ambientalismo e hegemonia bípede

Artista João Paulo Lima apresenta performance-manifesto autoral que discute ameaças ambientais e discussões sobre a hegemonia bípede
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Artista Joao Paulo Lima (Foto: Acessa BH/Divulgação)
Foto: Acessa BH/Divulgação Artista Joao Paulo Lima

"E se a humanidade chegar a ter a deficiência como uma condição real a todos os seres humanos?": é a partir deste questionamento e de pesquisas em diferentes linguagens artísticas que o cearense João Paulo Lima desenvolveu o espetáculo "Deffuturismo", apresentado no Teatro Dragão do Mar e no Theatro José de Alencar em diversas sessões neste mês.

O artista que apresenta performance é pesquisador da Universidade Federal da Bahia e trabalha com dança desde 2004 em movimentos artísticos de Fortaleza. Ele conta que participou do coral da UFC durante sua graduação e teve contato com aulas de teatro, de dança, de expressão corporal e de música. "Todos os meus trabalhos artísticos são autorais. Eu crio a partir de um mote, de uma motivação, de um tema, e, claro, a deficiência sempre vem muito à tona", destaca.

Sobre a montagem do espetáculo que chega a Fortaleza, João Paulo conta que se inspirou em leituras sobre afrofuturismo para criar uma narrativa que apresenta o mundo construído sem a hegemonia do homem branco europeu. "Eu passei a refletir sobre a possibilidade de um mundo em que todas as pessoas tivessem deficiência. Acredito que a chamada deficiência desapareceria. Porque, se todo mundo tivesse uma, não haveria essa condição colocada para nós como estigma, seria apenas uma realidade", diz.

"O 'Deffutismo' reflete sobre onde está a deficiência, quem a criou e para onde caminhamos no futuro", complementa o cearense, que explica que a cultura DEF brasileira foi falada pela primeira vez pela pesquisadora Ana Carolina Teixeira, no Rio Grande do Norte. É dentro desse movimento que João Paulo traz a frase que explica seu ponto de vista sobre a sociedade: "Se nós vivemos no mundo que nos ameaça, é um mundo que criamos e que agora ele caminha de uma forma que nós não estamos acompanhando".

Como exemplo, ele aponta: "Com a covid foi assim, também com as mudanças climáticas e as guerras. Nós provocamos essa mudança no planeta e ele nos dá respostas. As doenças causam as deficiências. E é muito importante diferenciar doença de deficiência: a deficiência é uma condição, a doença é uma patologia".

O artista cita que muitas pessoas com deficiência não nasceram com deficiência. "A gente cria, a partir da nossa realidade, como todos os corpos, condições de dançar, de fazer teatro, de pintar, de fotografar ao nosso modo, sem heroísmo, sem superação, sem esse estigma, sem fetiche pela deficiência", pontua.

"'Ah, mas ele consegue fazer isso…' dizem isso como se não houvesse um monte de coisas por trás de esforços comuns a todos. O esforço é maior porque nós não damos condições sociais arquitetônicas para que uma pessoa com deficiência usufrua de um mundo que não precise dela. Nos dão uma medalha pelo mínimo que fazemos, porque é como o capacitismo coloca a máscara: nos chamam de heróis, de super-heróis, de super homens, super mulheres", opina João Paulo.

Em seu espetáculo, ele promove uma visão futurista com base na provocação: "E se a humanidade chegar a ter a deficiência como uma condição real a todos os seres humanos? Nós vamos ter que criar tecnologias para que o corpo se comporte como outra máquina, como outra coisa que a gente não entende".

Nessa perspectiva, o cearense lembra de um apontamento que sempre faz em suas palestras, a que existem duas grandes certezas na vida: "Uma, com certeza, é que vamos morrer; a outra é que qualquer pessoa passará pela experiência da deficiência, seja por fatalidades, acidentes, doenças ou pela própria idade".

"A vida nos coloca à disposição do tempo e o tempo nos coloca nessa percepção de que o corpo passa por outras condições ao longo da vida, como quando uma mulher engravida, quando uma pessoa engorda um pouco mais, quando faz cirurgia. A gente precisa pensar na deficiência com ponto de vista que não seja esse de somente inclusão e superação. Precisamos construir um mundo pensando na diversidade de corpos, além de entender a deficiência a partir de uma pessoa que tem um gênero, uma cor, uma condição social, um lugar de origem. Todas essas realidades também atravessam um corpo com deficiência", defende.

Com figurino que se inspira na destruição ambiental do planeta, o artista realiza a sua apresentação. "A falta de perspectiva sobre o mundo adverso e o ser humano adverso nos fez até mesmo destruir o próprio planeta. As coisas do mundo foram criadas para poucos, mas ela é criada a partir da exploração e da segregação. Tudo isso levou à destruição do planeta e aos corpos a terem deficiência. Quantas pessoas com Covid já adquiriram problemas de saúde neurológicos ou fisioterapêuticos por vírus? Essas manifestações acontecem e o mundo continua a deixar esses corpos excluídos", conclui.

Deffuturismo

Teatro Dragão do Mar

  • Onde: Rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema
  • Quando: dias 4, 11, 18 e 25, às 20 horas
  • Quanto: R$ 10 (meia-entrada) e R$ 20 (inteira)
  • Vendas antecipadas pelo Sympla e na bilheteria do teatro

Theatro José de Alencar

  • Onde: R. Liberato Barroso, 525 - Centro
  • Quando: dias 15 e 16, às 17h30min
  • Gratuito
  • Distribuição de ingressos pelo Sympla

 

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