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Mostra de artes visuais reúne 133 artistas na Pinacoteca do Ceará
Vida & Arte

Mostra de artes visuais reúne 133 artistas na Pinacoteca do Ceará

Mostra "Delírio Tropical" reúne 133 artistas ao redor do Brasil com trabalhos que refletem o deleite e a violência do país ao longo do tempo
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Queima da Bandeira é vista na exposição "Delírio Tropical"
 (Foto: Paula Sampaio/Divulgação)
Foto: Paula Sampaio/Divulgação Queima da Bandeira é vista na exposição "Delírio Tropical"

Inaugurada durante a terceira edição do Fotofestival Solar, em dezembro, a mostra “Delírio Tropical" segue disponível na Pinacoteca do Ceará. A proposta da exposição é provocar uma imersão multicultural diante das obras de 133 artistas com suas perspectivas sobre os diferentes territórios do Brasil.

Para receber a mostra, a Pinacoteca organizou um espaço que modo que exista um caminho que provoque o visitante a compreender a fotografia como poderosa ferramenta na formação do País e na circulação das mídias. Com retratos de experiências distintas, em múltiplas linguagens e diferentes períodos, é possível transgredir compreensões estereotipadas do imaginário nacional.

O curador da mostra, Orlando Maneschy, explica: “Fizemos uma curva histórica que atravessa desde os anos 1960 até os dias atuais, lembrando que, por vezes, não conseguimos vencer os obstáculos e as lutas continuam as mesmas”.

“‘Delírio Tropical' vem de tudo o que vivemos nesse país, com o Carnaval, o deleite e a dor, da violência extrema. Nós [Ele e Keyla Sobral, curadora adjunta] focamos no olhar dos artistas e suas perspectivas de olhar para seus territórios. Cada um apareceu como um portal, um universo em uma grande constelação, se inter-relacionam na narrativa que desenvolvemos”, prossegue.

Paula Sampaio, artista mineira que cresceu na Amazônia e compõe a mostra na Pinacoteca com o vídeo “Árvore”, afirma que seu trabalho foi resultado de um exercício de “libertação simbólica” de um tronco de árvore fotografada por ela nas margens do lago localizado na hidrelétrica de Tucuruí (PA).

“Um tronco cortado, com raízes expostas, amarrado à beira daquele lago repleto de esquecimentos, criado a partir do represamento do rio Tocantins, por ocasião da construção da hidrelétrica que afogou a floresta e áreas onde viviam populações tradicionais e centenas de seres”, explica ela.

Sobre a simbologia da obra, ela complementa: “Esse vídeo é o último ato dessa ação realizada em várias etapas. Nele, incendeio uma bandeira onde estava impressa a imagem dessa árvore, no lugar que encontrei no lago. O fogo, nesse momento, para mim, é a última instância em busca da liberdade. A fumaça da queima alcança o céu infinito”.

Na sequência deste vídeo, há outro trabalho de Paula Sampaio: uma fotografia do mesmo ato retratado antes em audiovisual. “De forma imprevista, parece a imagem da América Latina pegando fogo e se mistura com as outras obras”, descreve a artista, que aponta o registro como um “percurso de experiências de viver e morrer”.

Além desse trabalho, Orlando destaca obras que funcionam como “espelhos” do Brasil, feitas por artistas de diferentes gerações que conversam entre si. Este é o caso, por exemplo, da obra “Por um Fio”, da artista italiana Anna Maria Maiolino, que migrou para o Brasil. “Ela apresenta a si, sua mãe e sua filha unidas por um cordão pela boca. A imagem, da década de 1970, se tornou emblemática na arte brasileira e, recentemente, foi reativada por Tadáskía, uma artista negra e trans, que refaz a imagem com sua família”, elucida.

Também nas instalações da Pinacoteca, está o trabalho do paraense Éder Oliveira, que retrata, na obra “Quintino”, versões diferentes do guerrilheiro que ficou conhecido como o “Robin Hood” do Pará ao enfrentar o cruel sistema fundiário e se manifestar contra a invasão de terras na década de 1980.

“Outra obra presente é ‘Atentado ao poder’, de Rosângela Rennó, que mostra violência aos corpos como um ciclo em repetição no país e foi apresentada na conferência Eco 92”, acrescenta Orlando.

“Delírio Tropical” também destaca trabalhos dos fotógrafos cearenses Celso Oliveira, Céu Vasconcelos, Paula Trojany, Lyz Vedra, Waléria Américo, além do cineasta Karim Aïnouz. Presente na mostra, há ainda Samuel Macedo, artista do Cariri cearense que foi finalista do Prêmio Pipa em 2024.

“São artistas que ativam reflexões profundas e que, na curadoria, em diálogo com outros, ativam perspectivas que operam em rede, cada um como uma entrada, portal, para um universo singular”, resumem os curadores da mostra.

Sobre a experiência como visitante da exposição, a artista Paula Sampaio relata: “Tive a sorte de percorrer a exposição com o curador Orlando Maneschy e ele me disse: ‘Não olhe para trás, olhe em paralelo e adiante’. Isso foi fundamental para compreender que ‘Delírio Tropical’ é uma estrada”.

“Nela, estamos nos encontrando com os incômodos, urgências e subversões que nos provocam a pensar sobre nossas formas de existir e resistir. E, quando chegamos no final, ouvimos gritos. Ao fazer o percurso de volta, tudo vai ganhando um significado lúdico e delirante, por conta das obras que se tornam visíveis nesse retorno, e nos convidam a sonhar, a imaginar futuros”, conclui.

"Delírio Tropical"

  • Quando: até junho de 2025, de terça-feira a sábado, das 12 às 20 horas; domingo, de 9 às 17 horas
  • Onde: Pinacoteca do Ceará (Rua 24 de Maio, 34 - Centro)
  • Gratuito
  • Mais informações: @pinacotecadoceara
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