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Análise: Fernanda Torres parou o mundo
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Análise: Fernanda Torres parou o mundo

Vitória de Fernanda Torres no 82º Globo de Ouro pelo seu papel em "Ainda Estou Aqui" fez o Brasil amanhecer em clima de Copa
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BEVERLY HILLS, CALIFORNIA - JANUARY 05: Fernanda Torres, winner of the Best Performance by a Female Actor in a Motion Picture - Drama award for
Foto: Amy Sussman/Getty Images/AFP BEVERLY HILLS, CALIFORNIA - JANUARY 05: Fernanda Torres, winner of the Best Performance by a Female Actor in a Motion Picture - Drama award for "I'm Still Here," poses in the press room during the 82nd Annual Golden Globe Award at The Beverly Hilton on January 05, 2025 in Beverly Hills, California. Amy Sussman/Getty Images/AFP

Na madrugada desta segunda-feira, dia 6, Fernanda Torres estava na página inicial do Los Angeles Times sendo apontada como a "única surpresa real da noite". Sua vitória na categoria de Melhor Atriz em Filme de Drama derrotou titãs reverenciadas nos EUA, como Nicole Kidman, Angelina Jolie, Tilda Swinton, Kate Winslet e Pamela Anderson.

Em qualquer outro site americano, a notícia rodeou a mesma epifania sobre ela ter vencido 25 anos depois que sua mãe, Fernanda Montenegro, havia se tornado a primeira brasileira indicada nessa mesma categoria.

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É uma narrativa poderosa para uma indústria que gosta tanto de "contar histórias" com suas próprias premiações. Em 2023, a vitória de Brendan Fraser no Oscar de Melhor Ator contava a "superação" de uma grande figura apagada da mídia, como também ocorreu a Renée Zellweger, vencedora de Melhor Atriz em 2020.

Em 2025, por exemplo, a vitória de Demi Moore no Globo de Ouro por um filme que parodia a forma como essa mesma indústria escanteia atrizes mais velhas, parece saltá-la para certo um favoritismo no Oscar que até semana passada era totalmente incerto.

O Globo de Ouro nem costuma ser termômetro para o Oscar, mas essa vitória apoteótica de Torres joga os holofotes sobre ela de tal forma que, a partir de agora, parece impossível fingirem que ela não está na jogada.

A Sony Pictures Classics, distribuidora que está fazendo a campanha internacional, agora tem nas mãos uma história emocionante para vender, de uma dama do teatro brasileiro que testemunha, aos 95 anos, sua filha no lugar que ela mesmo esteve e perdeu amargamente.

No Brasil, sentada no sofá de casa ao lado de amigos e familiares, Montenegro olhava apreensiva para o silêncio de Viola Davis prestes a anunciar a vencedora, até gritar e erguer os braços para celebrar o momento - essa imagem está rodando o mundo. Para quem vê de fora, é uma história de redenção, honra e humildade.

Para além da vitória de Fernanda, a existência de "Ainda Estou Aqui" parece conversar com o presente não só do Brasil, ainda tão assombrado pela memória nunca superada da ditadura militar, mas também do mundo. Com a eleição de Donald Trump nos EUA e de diversos governos extremistas na Europa, na Ásia e até mesmo na América Latina, o filme de Walter Salles parece falar diretamente sobre a crueldade de um autoritarismo que agora sabe se disfarçar na democracia. Ao receber sua estatueta no palco, ela foi assertiva sobre o filme "ajudar a pensar em como sobreviver em tempos difíceis".

Fernanda Torres se tornou a primeira brasileira a vencer o Globo de Ouro de atuação principal com uma performance contida, interpretando uma mulher que não podia explodir, que mesmo em meio à tragédia, soube sorrir. Hoje o Brasil o sorri junto.

Vocês viram a Fernanda Torres?

Totalmente premiada! Surpreendendo não apenas os mais otimistas e os pessimistas como também a própria Fernanda, ela ganhou o troféu de Melhor Atriz em Filme de Drama no Globo de Ouro. As reações foram muitas: choro, euforia, surpresa, incredulidade. A mescla de sentimentos transbordou as telas de TV e os celulares país afora, e escorreu como gritos de vitória pelas casas - que acompanhavam estupefatas mais um momento histórico do audiovisual brasileiro sendo escrito.

Os intérpretes Selton Mello, Angelina Jolie, Tilda Swinton e Kate Winslet se destacaram com curiosas celebrações - transcorrendo entre a animação e a emoção. Já a jornalista Aline Diniz, responsável por narrar a premiação no serviço de streaming Max, não conseguiu conter sua comoção ao anunciar a vitória. Sua respiração ofegante, carregada de surpresa e alegria, ecoou pelas redes sociais daqueles que gravaram o momento e compartilhavam a euforia do instante tão significativo.

Mas nenhuma das reações foi mais aguardada do que a da mãe da atriz, Fernanda Montenegro, que 25 anos antes estava no mesmo palco que a filha, recebendo o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro por "Central do Brasil" (1999).

A comemoração da veterana, que junto da família, viu, assim como muitos brasileiros, Torres ser a primeira brasileira a ganhar o Globo de Ouro na categoria, vai perdurar durante décadas a fio, assim como o legado de arte que a jovem Fernanda carrega com tanta honra e orgulho.

 

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