No dia 23 de julho de 1965, o espetáculo "Deu Freud Contra", de Silveira Sampaio, marcou a estreia nos palcos do, na época, recém criado Teatro Novo — grupo teatral da cidade que futuramente se tornaria um dos mais longevos do Estado. Marcus Miranda, Aderbal Júnior e Maria Luiza Moreira foram os responsáveis por dar o pontapé inicial para que as atividades começassem.
Como conta Marcelo Faria Costa no livro "História do Teatro Cearense" (2017), a estreia foi um sucesso e, por dois meses, a montagem lotou o Teatro Universitário em sua temporada. O autor também resgata um trecho de uma coluna escrita por Marciano Lopes, publicada no O POVO, que elogia a peça:
"Todos sabemos o quanto é difícil fazer rir. Marcus Miranda, artista bastante tarimbado, não somente aqui, mas nos palcos do Rio, mostra-nos em 'Deu Freud Contra' que conhece os segredos desse arriscado setor do teatro, conduzindo-nos com sábia mestria o texto de Silveira Sampaio", dizia uma parte do trecho.
Na críticia, Marciano Lopes também deixou explícito o contetamento com o produto cênico assistido: "Comédia fina, com deliciosos diálogos e interpretação boa de todo elenco e sabiamente conduzido por Marcus Miranda".
Definitivamente, Marcus Miranda foi um nome importante para a trajetória que ali se iniciava — não à toa, já foi citado quatro vezes neste texto. Nos anos que sucederam a estreia, o ator continuou comandando o grupo, apresentando espetáculos que não se restrigiram apenas ao Ceará. É também importante informar que por alguns anos, algumas pausas eram realizadas.
Algumas peças do século passado podem ser destacadas, como "Dona Xepa" (1965), de Pedro Bloch, "As Aventuras de Pedro Malazartes" (1966), de João Bethencourt, "Soninha Toda Pura" (1969), de Ilclemar Nunes, "O Aniversário" (1976), monólogo de Ricardo Guilherme. Outro destaque é em 1990, quando o grupo se apresenta com a montagem "Como Diria Montaigne", na inauguração do Teatro Nadir Saboya.
Em 1999, um importante nome para o futuro do Teatro Novo conhece Marcus Miranda durante um espetáculo na cidade de Canidé — Sidney Malveira. Ali nascia uma parceria que, em 2001, culminaria com o ator assumindo a posição de diretor artístico do coletivo a pedido do fundador.
“Miranda havia me falado que em 2001 começaria a planejar a montagem (em comemoração) aos 50 anos de carreira que seria naquele ano. Fiquei amigo dele e falei ‘Miranda, te ajudo’. Em 2000 comecei a ajudá-lo nessa produção”, relembra.
Além da produção para celebrar a carreira do fundador nas artes cênicas, Sidney começou a se envolver em assuntos relacionados ao grupo, iniciando um processo para regularizar a documentação do coletivo, o colocando na ativa novamente. O coletivo voltava a ver a luz e o artista se conectava mais com os fios da trajetória.
Infelizmente, meses após o espetáculo e a regularização da situação do Teatro Novo, Marcus Miranda morreu, em outubro de 2001. “Fiquei com a documentação do coletivo, mas não havia passado pela minha cabeça dar continuidade”, afirma.
É o pedido de Antonieta Noronha, em 2002, para que o ator dirija um trabalho com ela como protagonista de uma montagem que motiva o retorno do grupo. “Resolvi assumir o Teatro Novo como (uma forma) de preservar essa memória, porque ela poderia ficar engavetada. E como um cara que gosta de história, achei digno manter viva essa chama do grupo que tinha uma trajetória”, sustenta.
Os anos seguintes foram cheios de momentos para que a memória do coletivo não se perdesse no tempo, adotando uma postura de homenagear atores mais velhos que já não eram vistos em tantas obras. A dama do teatro cearense foi uma delas, retornando aos palcos após 7 anos e rebendo seu primeiro papel como protagonista.
Em 2010, um dos outros fundadores, Aderbal Freire Filho, foi o escolhido para ser homenageado na comemoração dos 45 anos do grupo. Quatro anos antes, o espetáculo “Annonimos”, monólogo de Sidney, estreava — ali era o ano zero de uma trajetória que segue ativa, somando já 18 anos.
Várias outras obras poderiam ser citadas dessa nova geração que iniciou e continuou o trabalho iniciado em 1965, como “Eu Ando, Tu Andas, Eles... Observam.” (2006), “Na Contramão do Tempo” (2011), “Na Corda Bamba” (2012), “A Raposa das Tetas Inchadas” (2015) e a mais recente “João e Maria”.
Uma bagagem cheia de histórias (reais e fictícias) desembarca em 2025, um novo ano que marca a chegada da sexta década do Teatro Novo. Muitos planos estão previstos para os próximos 12 meses, mas Sidney prefere não revelá-los por enquanto. Os anseios, no entanto, são os melhores:
“Teatro Novo está mais vivo do que nunca e sempre fazendo acontecer como ele vê o mundo, as pessoas, os artistas; cativando cada nova plateia e descentralizando, e levando onde a arte pode chegar. O grupo é uma chama que não pode parar, e deve ser cultivado cada vez mais. Espero (que dure), 70, 80, 90, 100 anos e que venham novas gerações”, arremata Sidney.