“O circo é revolucionário no sentido mais amplo possível. Ele também é terapêutico, ajuda na saúde mental”. Ao falar sobre a importância do circo, o palhaço Siriguela (do ator Israel Stallin) defende a linguagem como uma arte universal, que atinge todas as idades, da criança ao idoso.
Acrobacias aéreas, ilusionismo, Globo da Morte, danças, contorcionismo, malabarismo, equilibrismo e palhaçaria são apenas algumas das possibilidades dos circos, que trabalham com o lúdico e encantam o “respeitável público”. Não é de hoje que Fortaleza recebe essas estruturas, mas, neste mês, espetáculos de circo marcam a Cidade.
Peça no Teatro Dragão do Mar e três circos de grande porte — Celestia, Kroner e Maximus — entram na programação das férias. A seguir, confira opções de circo em cartaz em Fortaleza e como ele se mantém relevante para as novas gerações, entre manutenção de aspectos tradicionais e apelo às novidades tecnológicas.
Circo Kroner
Este ano marca o retorno do Circo Kroner a Fortaleza após 25 anos. Referência em espetáculos circenses, o espetáculo - também instalado na avenida Washington Soares - tem elenco com mais de 60 artistas e duas horas de duração. Acrobacias, malabarismos, números de mágica e atrações inéditas marcam as apresentações.
Diretora do empreendimento, Evelyn Kroner resgata a última aparição do circo na Cidade e afirma que a versão atual tem uma "pegada mais moderna". Entretanto, preza também por números clássicos, como mágicas e trapézios, com "tecnologia avançada".
Ao longo de 34 anos, o Circo Kroner teve que se adaptar a mudanças e inovações no mundo do entretenimento. "Há painel de LED, banda ao vivo que acompanha os artistas em tempo real… Tentamos trazer espetáculos tradicionais, mas com muita tecnologia, para agradar todos os públicos", pontua.
Como grandes diferenças entre o período da última vinda a Fortaleza e o retorno, Evelyn Kroner cita como no início dos anos 2000 existiam poucas opções de lazer e como a internet ainda não era de fácil acesso. Assim, ir ao circo era uma atração mais procurada pela família, pois não havia concorrência de entretenimento como hoje.
Para ela, é importante levar ao público a melhor experiência possível, e isso contribui para a permanência do circo. "Trazemos muitos figurinos diferenciados, com muito brilho, para encantar o público. Gostamos de passar uma mensagem para o público que todo mundo saia com essa memória afetiva. O circo gera isso. Queremos gravar na cabeça de cada um que veio uma memória muito gostosa de um momento em família no circo", enfatiza.
Ao analisar o circo na contemporaneidade, a diretora ressalta como o circo é uma forma de entretenimento que consegue ser um passeio em família e todos se divertem, saindo das telas eletrônicas e vivendo a "adrenalina". "Acho que esse é o diferencial. O circo nunca vai morrer. É um espetáculo para a família. São poucos os espaços em que do neto ao avô todos conseguem se divertir", avalia.
Circo Celestia
Pela primeira vez no Nordeste, o Circo Celestia ocupa a avenida Washington Soares, em frente ao Centro de Eventos do Ceará. O espetáculo faz parte do Grupo Cirque Amar, dirigido pela família Stevanovich, que tem experiência circence de gerações. Mais de 200 profissionais estão envolvidos.
No repertório, combinação entre música, dança, teatro e manobras radicais, além de atrações exclusivas, como o freestyle motocross. Nessa, motos voam por cima da plateia. Jonilson Silva, piloto brasileiro campeão mundial da modalidade, está presente no circo. Números com palhaços, equilibristas, mágicos, trapezistas e o globo da morte também podem ser citados.
A promessa do espetáculo é de levar "imersão particular" ao público, como garante Bryan Stevanovich, responsável pelo empreendimento. "O público faz parte do show", afirma. Sua família, à frente do grupo Cirque Amar, tem larga experiência com circos, conhecimento passado de geração a geração.
Questionado sobre as dificuldades de se administrar circo ao longo dos anos, ele aponta para a importância de acompanhar as novidades tecnológicas, oferecendo estrutura de boa qualidade. Há empecilhos também como a localização, pois não é fácil achar um espaço que comporte adequadamente a infraestrutura, com segurança e estacionamento.
Para Bryan Stevanovich, um fator que deixa o circo atraente para novas gerações é sua resistência. "Enquanto existir uma criança o circo jamais morrerá. O circo é a mãe de todas as artes. Ele sempre vai encantar o 'respeitável público' em qualquer parte do mundo. É um show feito para a família, agrada todas as idades. O circo é mágico", descreve.
Em sua avaliação, uma das dificuldades enfrentadas pelo circo é a concorrência com diferentes opções de lazer para a família, mas ainda assim chama a atenção por sua abrangência.
Circo Só
Em janeiro, o circo também é ressaltado no Teatro Dragão do Mar, mas com o espetáculo “Circo Só”, da Companhia Tem Sim Sinhô. A obra, criada em 2005, reverencia a cultura popular brasileira. Nela, o palhaço brincante Siriguela (Israel Stallin) explora “a grandiosidade dos encontros” para, em diálogo com o público, criar um novo espetáculo.
A apresentação intercala cenas de circo com números de mágica, malabares, monociclo, perna-de-pau, bonecos, contação de histórias com brinquedos e cantigas. O espetáculo é encenado entre os dias 15 e 17. Siriguela convida aos poucos ao centro do picadeiro cada um que se dispor para, juntos, formarem uma banda.
Ao longo da peça ele apresenta brinquedos artesanais de sua avó para ressaltar a magia da brincadeira popular. “Tento trazer todo o universo que vivenciei para o picadeiro. Tem cenas de malabares, de monociclo, de pernas de pau, contação de histórias de brinquedos populares… É colocado em cena o desejo de resgatar a cultura tradicional circense”, indica Israel Stallin.
Como alternativas para a perpetuação da cultura circense no Ceará, ele aponta o apoio estadual a partir de editais. “Infelizmente não é todo lugar do Brasil que tem lugar para o circo”, afirma. Para ele, o sentimento é de que o circo está em todo lugar: na escola, na academia, no cinema, na rua e na praça.
Ele aponta como o circo contemporâneo é marcado pelas luzes e sons e ressalta que as artes do circo são as únicas nas quais os profissionais arriscam sua vida. Ao falar sobre janeiro como mês das férias, indica que é um momento propício, no qual as pessoas conseguem dedicar mais do seu tempo “à alegria e ao divertimento”.
“O circo não é só para crianças. Ele é para todas as idades”, pontua. Ele acrescenta: “O circo é revolucionário no sentindo mais amplo possível. Ele também é terapêutico, ajuda na saúde mental”.
Vem aí
Fortaleza recebe outro circo de grandes proporções em janeiro. No dia 16, o Circo Maximus chega ao estacionamento do Shopping RioMar Kennedy. O público pode conferir apresentações com palhaços, malabaristas, equilibristas, contorcionistas e globo da morte, com cinco motoqueiros. Mais informações no perfil @circomaximus_filial2 no Instagram.