Saindo de carro de Fortaleza, em 1h30min você chega até a praia de Barra Nova, localizada no município de Cascavel. Um belo lugar, onde se pode observar o encontro do Rio Choró com o Oceano Atlântico. Durante 11 minutos e 38 segundos, o curta-metragem animado "Barra Nova", nome que homenageia o local, preenche a tela com takes que flutuam entre fauna e flora a partir do ponto de vista de uma garotinha. Após um circuito entre festivais nacionais e internacionais, entre 2023 e 2024, a produção chegou ao YouTube e, em pouco mais de um mês, alcançou 17 mil visualizações.
O roteiro de Diego Maia, que também anima e dirige o filme, e Natália Parente, leva a pequena criança aventureira a explorar todos os pontos possíveis do lugar, seja no mar ou na mata, com dois amigos feitos pelo caminho. Na mão, uma concha colhida da praia — momento no qual o sorriso se fez presente com a lembrança de fazer o mesmo na infância.
Na verdade, toda a trajetória da animação é delicada e sensível, trazendo a quem assiste, ou pelo menos a esta repórter, a sensação de conforto. Foi como um afago na bochecha e um acalento ao coração enxergar as cercas de arame quase entrelaçadas com galhos de plantas, e recordar por segundos memórias acolhedoras da infância.
Quando Diego começou a desenvolver o rascunho do curta, ele buscava um tema específico para destinar sua atenção. Foi em conversa com a companheira, Natália, que caminhou até a praia, usando como bússola as memórias da infância dela.
"(Ela contava) como é que era lá, como interagia com as crianças do lugar, e achei bonito este cenário. Tivemos a ideia de ir até lá para fazer uma pesquisa e já fui filmando tudo, já pensando (na animação)", explica.
Apesar da base ter iniciado com as memórias de Natália, Diego garante que não se trata de uma obra biográfica. É uma mistura de lembranças da infância dela com o que foi achado na nova viagem até a orla, além de conter impressões gravadas na mente do animador.
O retorno para a capital cearense foi marcado com o início do lockdown devido a pandemia da Covid-19. O período foi tirado para rever e analisar o material coletado, montando uma narrativa a partir dele e dando início ao processo de desenhar.
"No começo, a ideia era como se fosse um exercício, a minha intenção era até fazer tudo sozinho, como (também) a parte de som, mas foi crescendo. Acabei passando dois anos animando e quando vi que estava ganhando outra proporção, mesmo sem incentivo de edital, falei com uns amigos e banquei a finalização de som — dublagem e trilha sonora", elabora.
Além de enaltecer por meio da animação o local, o curta traz em sua trama o quanto uma criança pode vivenciar, em apenas um dia, uma experiência extraordinária. "Às vezes achamos que não aconteceu nada. Quando fui fazer a pesquisa lá, tive a impressão: 'ah, nada acontece'. Mas comecei a observar a praia, os detalhes. Então, paramos aqui e observamos uma coisa, tem uns símbolos que você vai identificando — me apoio muito neles", aponta.
E continua: "como é que o pequeno e ordinário consegue ter força também? Não é uma história de alguém salvando o mundo ou algo grandioso nesse sentido, mas é (acompanhando) uma criança, que um dia aprende muita coisa. É sobre a experiência dela na Barra Nova".
Foi o primeiro curta animado de Diego. Ilustrador, trabalhando com publicidade e games, já teve a experiência de produzir clipes animados, colaborando com artistas como Mateus Fazeno Rock. O mais recente vídeo de uma parceria entre os artistas foi para a música "Madrugada", lançado há quatro meses.
Ele não saberia definir um período que começou a gostar de desenhar, mas lembra que começou a trabalhar com quadrinhos em 2002. No ano de 2005, quando foi para São Paulo, marcou a entrada na arte 3D. Apesar dos cursos feitos ao longo da carreira — o cearense não chegou a completar a graduação de Artes Visuais —, ele considera que sua apresentação "foi meio autodidata" e contou com a "ajuda de amigos que deram dicas".
Aos 41 anos, Diego começou com o pé direito no cenário dos curtas. A produção teve sua estreia fora do Brasil no 69º International Short Film Festival Oberhausen, na mostra competitiva "Children's and Youth Film", ocorrida em maio de 2023. Também participou de festivais na Itália e na Croácia.
No Brasil, participou de mostras como o 33º Cine Ceará, 15º Lobo Fest e 14º Festival Internacional de Animação de Pernambuco (Animage). Foi também eleito o "Melhor Curta-Metragem Cearense", no Prêmio Aceccine (Associação Cearense de Críticos de Cinema).
O sucesso incentivou Diego. Ele já trabalha no roteiro do próximo curta, no qual pretende tentar conseguir recursos em um edital, porém já com planos futuros. "A ideia é que depois dele, entrar na produção de um longa — também tenho ideias de roteiros que tenho desenvolvido. O foco é o longa-metragem para (daqui) cinco anos", projeta.
Onde acompanhar
Instagram: @miragemmaia (artista) e @barranova.estudio (curta)