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Jornaleiros de Fortaleza preservam a cultura em suas comunidades
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Jornaleiros de Fortaleza preservam a cultura em suas comunidades

Carregadas de cultura e de tradições familiares, as bancas de jornal são ferramentas que colaboram para a preservação da cultura cearense
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FORTALEZA, CEARÁ,  BRASIL- 08.01.2025: Bancas de Revistas, Banca Líder do Seu Raul, na Avenida Barão de Studart. (Foto: Aurélio Alves/Jornal O POVO) (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL- 08.01.2025: Bancas de Revistas, Banca Líder do Seu Raul, na Avenida Barão de Studart. (Foto: Aurélio Alves/Jornal O POVO)

Mapeando as bancas de jornais pela Cidade, há um sentimento que predomina: a saudade de "tempos mais simples", sem o predomínio da internet como fonte de conhecimento. Felizmente, a tendência dos internautas por momentos de "detox digital" tem aumentado a busca por entretenimento e conhecimento offline.

É isto que reforçam os jornaleiros José Raul e Francisco Pereira: as escolas passaram a incentivar as famílias a aumentar o contato das crianças com revistinhas e livros de curiosidade, a fim de diminuir o tempo de tela nas salas de aula.

Apesar de haver um pressentimento de esvaziamento das bancas com a modernidade digital, não foi este o cenário percebido enquanto as entrevistas para esta matéria aconteciam, pois, a todo momento, clientes chegavam nessas estruturas em busca de materiais impressos.

Ainda neste contexto, é possível perceber algo em comum entre os frequentadores das bancas de jornais: são clientes antigos, que já possuem história com o espaço. É o caso, por exemplo, de Roberto Castro e Silva Sales, que conheceu a Banca Riviera desde "moleque", quando estudava em uma escola particular no bairro Dionísio Torres, onde moravam sua tia Elizabeth e a mãe Silva.

"Eu frequento a banca há uns anos. Na época da escola, eu vinha para comprar uns lanches. Aqui sempre foi um lugar de gente séria, que nunca vendeu bebida para menores de idade e nem drogas", argumentou ele, que comprava itens de conveniência na loja.

Os produtos de conveniência da loja, inclusive, são o atual potencializador para o sustento dos comerciantes, pois, além de aumentar o faturamento, atraem novos clientes que comprariam apenas um doce nos espaços cheios de literatura, informação e de entretenimento. (Raquel Aquino)

FORTALEZA-CE, BRASIL, 07-01-2025: A situação das bancas de revistas e jornais, em Fortaleza. Na foto, Francisco Pereira, da Banca Riviera. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS FORTALEZA-CE, BRASIL, 07-01-2025: A situação das bancas de revistas e jornais, em Fortaleza. Na foto, Francisco Pereira, da Banca Riviera. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)

Impactos positivos da leitura proporcionada pelas bancas

"Essas revistas de caça-palavras e palavras-cruzadas são muito procuradas, pois os médicos indicam como bom para a cabeça, principalmente para os idosos. Vende bastante hoje em dia", assim contextualiza Francisco Pereira, para opinar sobre a importância das bancas de jornal. O jornaleiro, que tem 73 anos e mente mais jovem que muitos adolescentes, pontua a importância dos exercícios de raciocínio e leituras para a saúde.

A declaração de Pereira tem relação direta com o que já indicou a Organização Mundial da Saúde (OMS), que indica o hábito da leitura como forma de ter um envelhecimento saudável, visto que auxilia a manter a função cognitiva do corpo e protege contra o desenvolvimento de males da memória, como a Doença de Alzheimer.

Além de ser aconselhável para idosos, a leitura e a atividade de jogos como caça-palavras e palavras-cruzadas são fundamentais para o desenvolvimento do raciocínio lógico nas crianças. Não à toa, os gibis escritos por Maurício de Sousa nunca "saíram de moda", ganhando até inúmeras versões de filmes ao longo do tempo.

Para os jovens, estas atividades de raciocínio são uma alternativa para desenvolver foco e atenção, além de enriquecer o vocabulário do praticante em uma ocupação fora das telas.

Histórias entre o passado e o futuro

As bancas são uma porta para transacionar entre o passado e o futuro. Ao mesmo tempo que configuram espaços para as crianças, com livros interativos e de atividades, também são um "parque de diversões" para adultos. Como exemplo, o fotógrafo que acompanhou esta reportagem brilhou os olhos ao ver o "Tex Willer" na Banca Líder. "Não sabia que ainda existia!", disse Aurélio Alves ao encontrar a HQ criada em 1948.

Outra fascinação, desta vez pessoal, foi encontrar edições impressas da "National Geographic", que teve a primeira edição em 1888 e fez parte da minha casa e do lazer com a minha mãe historiadora.

Para além do que ocupa as bancas, o "quem ocupa" também faz parte da história por trás daquele espaço. No caso de José Raul, dono da Banca Líder, o empreendimento como jornaleiro é "de família".

"Nós (eu e meu irmão) começamos com uma sociedade porque não tinha dinheiro para comprar a banca, então nos juntamos", diz Raul, que colocou 12 irmãos para atuarem em bancas de jornal.

O jornaleiro afirma que veio de um cenário de vulnerabilidade com seus irmãos, em Lajes Pintadas, no Rio Grande do Norte. "Não tinha como iniciar outra coisa", diz Raul, que foi alfabetizado aos 17 anos e não frequentava bancas de jornal até comprar uma unidade. "Isso é uma coisa que não dá uma super grana, mas é um teto que dá para tirar um salário razoavelmente bom", disse aos seus irmãos na época.

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