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Completando 80 anos, Geraldo Azevedo fala sobre planos para carreira
Vida & Arte

Completando 80 anos, Geraldo Azevedo fala sobre planos para carreira

|ENTREVISTA| Com show marcado em Fortaleza, Geraldo Azevedo reflete sobre a chegada dos 80 anos e adianta planos para a carreira
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Geraldo Azevedo comemora 80 anos com show em Fortaleza (Foto: Leo Aversa/Divulgação)
Foto: Leo Aversa/Divulgação Geraldo Azevedo comemora 80 anos com show em Fortaleza

"Durante a minha segunda prisão, fiz uma promessa a mim mesmo: se saísse vivo daquela situação iria conquistar o sucesso". Hoje realidade, a premissa parecia distante para o jovem músico Geraldo Azevedo. Há exatas cinco décadas, o cantor e compositor estava na segunda prisão pela ditadura militar - a primeira aconteceu em 1969 - e encontrou na música a redenção.

Ali, ainda durante os dias de cárcere, tomou o possível de firmeza por acreditar que iria cumprir os sonhos do menino nascido em Jatobá, no município de Petrolina, em Pernambuco. Criado por Dona Nenzainha e José Amorim, cresceu em um centro cultural que faz questão de manter enraizado em si aos 80 anos, recém completados no último sábado, 11.

Em um diálogo com a música mais recente ("Estou em Paz", lançada em novembro), diz estar sereno com as escolhas tomadas até aqui. Recebe a nova idade com lucidez, preparado para continuar o fôlego de uma carreira marcada por sucessos, celebrada em nova turnê que chega a Fortaleza no dia 17 de maio. "Estou com muita coisa represada para desaguar", adianta.

O POVO - De que maneira você recebe os 80 anos? Estas datas comemorativas causam qual tipo de reflexão?

Geraldo Azevedo - Recebo os 80 anos com a maturidade que todos esses anos me trouxeram. Estar vivo, lúcido e com disposição para levar minha arte pro público é a minha maior realização. Com certeza, são anos de muita reflexão. Envelhecer é uma dádiva, ainda mais com saúde e disposição, como é o meu caso.

OP - Você tem uma música romântica recente, lançada no final de 2024, intitulada "Em Paz". Esse sentimento de serenidade o acompanha neste momento da vida? O que permite que você se mantenha em paz com as próprias escolhas?

Geraldo - Com certeza. Sinto-me em paz com todas as minhas escolhas. Sou uma pessoa de sorte, estou chegando aos 80 com vitalidade e orgulho de estar vivendo da minha arte e tocando tantas pessoas pelo mundo afora com ela.

OP - Esta é a primeira música de uma série de singles que você pretende lançar em 2025. Qual é a proposta dos novos trabalhos? Quais elementos você busca incorporar nos próximos lançamentos?

Geraldo - Tenho muitas músicas inéditas para mostrar, que pretendo lançar nos próximos meses. Penso em alguns produtores diferentes para fazer as canções tomarem forma e chegarem ao público. Estou com muita coisa represada para desaguar. Temos também uma grande agenda comemorativa para cumprir. O objetivo é conseguir equilibrar todas as metas e realizar um ano inesquecível.

OP - No dia 29 de março, você começa uma turnê nacional para celebrar o marco. O projeto inicia com o show d'O Grande Encontro. O que a parceria com Alceu e Elba representa ao longo da sua carreira? Como você analisa a trajetória profissional de vocês, que cresceram juntos?

Geraldo - Alceu e Elba são dois amigos e parceiros fundamentais na minha vida. Crescemos e envelhecemos juntos e isso me alegra demais. Eles são como irmãos para mim. Elba é a intérprete que mais gravou músicas minhas e Alceu é um grande parceiro de composições. São tantas histórias juntos, que poderia passar uma tarde inteira contando.

OP - Falando sobre parceiros musicais, o cearense Fagner também já cantou "Dona da Minha Cabeça", sua composição com Fausto Nilo (outro cearense). Quais são suas principais memórias ao lado dos dois?

Geraldo - Fagner foi a primeira pessoa a me levar para o Ceará, no final dos anos 1970, para participar do projeto Soro. Recentemente, gravamos "Dona da Minha Cabeça" juntos para o novo disco dele. Fausto Nilo é outro parceiro importantíssimo na minha carreira. Poeta de mão cheia e meu parceiro em várias canções emblemáticas. Acabamos de fazer mais três canções novas. Tenho um carinho enorme pelo Ceará, terra onde moraram minha irmã Gracilda e meu irmão Gabriel com suas famílias e ainda tenho sobrinhos morando lá. Sempre sou muito bem recebido pelo público cearense.

OP - A circulação do filme "Ainda Estou Aqui" reviveu o debate sobre a ditadura militar, período no qual você foi preso e torturado. De que maneira a arte pode dimensionar este período? Em quais pontos sua arte também dimensiona a repressão sofrida?

Geraldo - Durante a minha segunda prisão fiz uma promessa a mim mesmo: se saísse vivo daquela situação iria conquistar o sucesso. E assim foi. A música me salvou e me encaminhou. Hoje, tudo o que sou devo à minha arte e ao meu trabalho.

OP - Voltando para o começo da entrevista, agora aos 80 anos, o que você ainda mantém do menino de Petrolina?

Geraldo - O menino Geraldo vive forte em mim, em todas as minhas memórias vividas no sertão pernambucano. Tive uma infância muito simples, mas culturalmente muito rica. Minha família sempre foi muito musical, minha casa era um pequeno centro cultural local, que recebia crianças e adultos da região. Minha mãe era professora e ensinava o povo sempre cantando. Lembro com muito carinho dela cantando e ensinando o ABC com Luiz Gonzaga.

 

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