"Alguém ainda assiste ao Big Brother Brasil?". Esta é a pergunta que uma parcela de internautas faz anualmente diante do anúncio de uma nova edição. Numericamente, é possível comprovar que menos pessoas estão diante das telas do programa ao vivo, visto que as médias de audiência apontadas pelo Kantar Ibope foram de 48,7 (BBB 1) para 20,2 (BBB 24).
No entanto, o programa não deixou de ser o assunto "do momento" em nenhum período de exibição. A audiência da TV ainda representa dezenas de milhões de telespectadores diários, que se somam ao novo padrão de consumidores do reality show: os que acompanham e engajam a produção por meio das redes sociais.
A hashtag "#BBB" segue sendo a mais acessada durante os meses de exibição e foi usada mais de 8 milhões de vezes no Instagram, desconsiderando buscas e marcações específicas de cada edição. O efeito, na prática, é que o Big Brother Brasil ainda pauta discussões do cotidiano e impulsiona carreiras artísticas pelo País.
Novas gerações podem até não saber, mas foi o BBB que oportunizou o início da carreira de artistas como Grazi Massafera, Sabrina Sato, Juliana Alves e Kaysar Dadour. Impulsionou grandes "trends" atemporais, como a coreografia de "Onda Onda", viralizada por Kléber Bambam no BBB 1 (2002).
Também incentivou denúncias sobre relacionamentos abusivos. Como exemplo, o caso de Emilly Araújo e Marcos Harter no BBB 17. O brother foi expulso da competição por agressão e abuso psicológico. Foram criadas as hashtags "#EuViviumRelacionamentoAbusivo" e "#MeuRelacionamentoAbusivo" para denunciar casos semelhantes.
O BBB sempre lidou também com casos de racismo entre participantes que, às vezes, se manifestavam em ofensas, mas partiam geralmente em tom disfarçado de "brincadeira". Foram inúmeras situações ao longo dos anos que pessoas pretas precisaram combater, em rede nacional, o racismo estrutural. A situação aconteceu nos últimos anos com os brothers Davi Pedro, Fred Nicácio, João Luiz, Karol Conká; mas é recorrente desde as primeiras edições.
A palavra "sororidade" ganhou destaque entre o público após ter sido mencionada em fala da ex-sister Manu Gavassi (BBB 20). A diversidade cultural também ganhou espaço em diversos momentos e o exemplo mais marcante foi na edição de 2024, com a participante Isabelle Nogueira, cunhã-poranga do Boi Garantido no Festival Folclórico de Parintins, que defendeu persistentemente a cultura amazonense em rede nacional.
É destaque ainda a entrada de famosos no elenco do Big Brother Brasil. Desde 2020, o reality conta com o polêmico grupo "Camarote", que ajudou a reviver a audiência e dar oportunidades de trabalhos para artistas já consagrados no passado, como Douglas Silva e Babu Santana. Da mesma forma, muitas pessoas tiveram a carreira prejudicada por comportamentos que causaram "cancelamento" fora do programa, como foi com Karol Conká, Projota e Rodriguinho.
Tudo o que foi citado acima é uma demonstração do poder de influência do maior reality show do Brasil, acusado de ter fracassado após as diversas mudanças em seu formato.
Provas megalomaníacas de patrocinadores, dinâmicas diárias no jogo, regras de votação que mudam semanalmente e estratégias de redes sociais dos brothers fora do reality são alguns dos desagrados do público, que pedem por mais semelhança com o formato "raiz". Mas será que um Big Brother Brasil feito "no modo antigo" ainda agradaria o público?
Para pensar nisso, é importante lembrar que o BBB não foi o primeiro reality show de confinamento do Brasil, este é o mérito de "No Limite", também da Rede Globo. O modelo de programa foi um sucesso e logo vieram competições como "A Casa dos Artistas" e o próprio Big Brother, que chegou ao Brasil em 2002, mas estreou mundialmente na Holanda, em 1999.
Com o tempo, vieram os realities "A Fazenda", "Túnel do Amor", "De Férias com o Ex", "Ilhados com a Sogra", "Brincando com Fogo", "Largados e Pelados", "Estrela da Casa", entre outros que inovaram as dinâmicas em competições de confinamento.
Nas primeiras edições do BBB, o acesso à internet não era democrático o suficiente para ser o canal de votação popular, por isso, os votos aconteciam por meio de ligação ou SMS. As mudanças aconteceram devido ao rápido avanço das redes sociais e dos incontáveis programa concorrentes que surgiram no Brasil.
Apesar de concordar em relação aos exageros de dinâmicas nas novas edições, acredito que o Big Brother Brasil não haveria como não se reinventar para a nova realidade do público consumidor. Um BBB estilo "raiz", com participantes anônimos e disputas simples, não conseguiria o mesmo sucesso de 2002, já que são contextos sociais diferentes.
Mesmo com críticas intensas, o Big Brother segue consolidado como o maior reality show do Brasil, mobilizando temáticas e alavancando carreiras na arte e na internet. Os atuais ex-BBBs que vivem como influenciadores digitais já foram ex-BBBs que posaram nus em revistas para garantir sustento financeiro após o programa. Por isso, reitero: nem tudo é melhor como era antes.