Para celebrar a cultura alimentar cearense, o Mercado AlimentaCE promove neste domingo, 19, um evento para expor e discutir o trabalho de pesquisa e agroecologia realizado pelo equipamento em 2024.
Como protagonistas da programação estão os resultados dos programas "Comida, Cultura e Natureza" e "Comida, Patrimônio e Memória", que contam com feiras gastronômicas, rodas de conversa, visitas mediadas, atividades infantis e performances artísticas.
Coordenador de Pesquisa em Culturas Alimentares, Gio Frapicini explica que o programa "Comida, Patrimônio e Memória" escolheu a cajuína como objeto de pesquisa: "Pela cajuína já ter sido um bem patrimonializado no Piauí e fazer parte também da história do cearense".
A proposta é que o produto tenha uma "guarda compartilhada" entre o Ceará e Piauí, visto que as regiões possuem relação de pertencimento com a bebida, explica Silvia Gomes, que foi bolsista-mentora desta pesquisa.
O coordenador explica: "Realizamos essas pesquisas a fim de entender qual é o significado da cajuína no Ceará, se ela representa os costumes relacionados a ela, tanto na parte da produção, quanto no cultivo e comercialização do caju. Todo esse processo é muito importante".
"A gente retrata, entre outras questões, a importância do caju para os povos indígenas, pois ele sempre foi um alimento que fez parte da cultura alimentar, tanto pelo consumo da carne, quanto da castanha", complementa Silvia.
Ela também aponta que o Estado tem registros da produção da bebida desde 1906, com o farmacêutico Rodolfo Teófilo. O cearense foi responsável por adicionar o processo de cozimento à bebida de caju já filtrada. Com esse método, a cajuína adquiriu cor mais escura, devido à caramelização de seu dulçor natural.
"Um dos intuitos dele era desenvolver um substituto não alcoólico para a cachaça, a fim de que as pessoas pudessem socializar de forma saudável. Já que, na época, os índices de alcoolismo eram bem expressivos", explica Silvia.
O material completo da pesquisa inclui dados, histórias da "Fortaleza Antiga" e relatos da população. "A gente tentou muito ouvir um público bem diverso para entender a relação que a cajuína tem na memória afetiva do cearense e quais são as relações que permeiam. A gente traz muitas histórias de pessoas que foram morar fora e que, quando iam receber presente de alguém, recebiam cajuína", complementa Gio.
O segundo programa apresentado no Mercado AlimenteCE é o "Comida, Cultura e Natureza", que promoveu formações ecológicas e construção de hortas comunitárias no Complexo Cultural Estação das Artes e em quintais do Moura Brasil, objetivando envolvimento da sociedade no debate sobre cultivo, segurança alimentar e sociobiodiversidade.
Manjari Ikeda, coordenadora de Desenvolvimento do Mercado AlimentaCE, conta que houve encontros com a comunidade do Moura Brasil para conversar sobre a demanda do espaço antes de iniciar o programa.
"O projeto das hortas teve cinco bolsistas. E, entre as atividades, havia formação teórica em encontros mensais, que promoveu debates sobre educação alimentar do prato, agricultura e agroecologia", esclarece Manjari.
Ela também explica que o Moura Brasil foi escolhido para o cultivo das obras por estar no entorno da Estação das Artes e ser um local com alto índice de insegurança alimentar.
"A gente debate o tempo todo a relação dos povos tradicionais e dos ancestrais com a biodiversidade. Inclusive, o Moura Brasil era conhecido como terra de Marajaí (Terra das Palmeiras) no início da construção do espaço. Tinha árvores como macaúba e babaçu. Além de outras espécies que fazem parte da cultura alimentar, como a macaxeira, feijão e o cheiro-verde", justifica a coordenadora.
Entre as bolsistas do programa, está Lúcia Maria, de 72 anos. Ela é residente do Moura Brasil e possui um quintal de horta na frente de sua casa, onde já costumava plantar árvores.
"Fui selecionada (pelo edital) e foi um aprendizado muito grande para mim, que já gostava de plantas. O conhecimento que adquiri nesse período foi muito bom, porque aprendi como plantar, em que época você vai colher e o cuidado com o solo", narra Dona Lúcia.
A bolsista destaca que passou a cultivar hortaliças como pimentas, cenoura, cebola, erva-cidreira e ora-pro-nóbis a partir de seus aprendizados com o AlimentaCE. "Ele (o conhecimento) é importante porque posso repassar o que aprendi. Nós podemos tanto plantar no chão como em vasos pequenos", afirma com orgulho.
I Encontro de Cultura Alimentar