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Uso de IA em filmes favoritos ao Oscar alimenta controvérsia
Vida & Arte

Uso de IA em filmes favoritos ao Oscar alimenta controvérsia

Para dar assistência às vozes, plataforma ucraniana de inteligência artificial foi usada em "O Brutalista" e "Emilia Pérez", favoritos ao Oscar 2025
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Foto: Divulgação/A24 Adrien Brody em cena de "O Brutalista"

Uma semana após a vitória de Adrien Brody como Melhor Ator em Filme de Drama no Globo de Ouro, o montador de “O Brutalista”, Dávid Jancsó, revelou que a equipe criativa do filme utilizou uma inteligência artificial (IA) para aprimorar o seu sotaque húngaro com objetivo de que ele parecesse um “falante nativo”. Revelou também que ele próprio, natural da Hungria, alimentou sua voz para treinar o modelo de IA utilizada.

Desde então, o debate sobre essa tecnologia vem ganhando um espaço ainda bastante tímido pela internet ao apontar que vários outros filmes também a utilizaram – como o musical francês “Emilia Pérez”, por exemplo, principal concorrente do Brasil na categoria internacional do Oscar. Cyril Holtz, designer de som do filme que trabalhou inclusive no brasileiro “Bacurau”, disse que a equipe utilizou uma “tecnologia de clonagem vocal” nas partes cantadas, reafirmando que esse processo não substituiu a profissão de ninguém.

De origem ucraniana, a empresa Respeecher afirma que sua equipe está “comprometida no desenvolvimento ético da clonagem de voz”. Com um longo catálogo de clientes, o site oficial da companhia apresenta alguns exemplos do seu trabalho, como a recriação digital da voz de Elvis Presley e o rejuvenescimento da voz de Mark Hamill para a aparição de Luke Skywalker em “The Mandalorian”, da Disney+.

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Na mesma entrevista, Jancsó defende que o uso de IA não deveria ser controverso, apontando que a tecnologia só torna o processo mais rápido. Para além do critério artístico, porém, a indústria americana não aparenta querer se desviar dessa discussão – a reforça, pelo contrário. Em 2023, as greves conjuntas de roteiristas e atores nos Estados Unidos teve como um dos pilares de protesto a proteção contra a substituição dos seus trabalhos por inteligências artificiais, cláusula sustentada até o fim pelos acionistas dos grandes estúdios de Hollywood.

“As performances de Adrien e Felicity são completamente suas. Eles trabalharam por meses com a treinadora de dialetos Tanera Marshall para aperfeiçoar seus sotaques. A inovadora tecnologia Respeecher foi usada apenas na edição de diálogos em húngaro, especificamente para refinar certas vogais e letras para precisão. Nenhuma língua inglesa foi alterada. Este foi um processo manual, feito por nossa equipe de som e Respeecher na pós-produção. O objetivo era preservar a autenticidade das performances de Adrien e Felicity em outro idioma, não substituí-las ou alterá-las e feito com o máximo respeito pelo ofício”, disse o diretor Brady Corbet.

Em 2024, o CEO da Disney, Bob Iger, foi assertivo quanto ao aprimoramento dessa tecnologia dentro da empresa para os próximos anos. Em um fórum online, uma pessoa questiona: “Isso afetará 'O Brutalista' e 'Emilia Pérez' na hora de vencer a corrida?”. Por enquanto, às vésperas do anúncio dos indicados ao Oscar 2025, nenhum ator ou representante do sindicato americano se pronunciou a respeito.

Paul Schrader, roteirista de clássicos renomados como “Taxi Driver”, defendeu o uso da tecnologia em uma publicação feita nesta sexta-feira, 17: "Por que os escritores devem ficar sentados por meses quando a IA pode dar uma ideia em segundos?" 

Em entrevista concedida em 2022, a diretora de arte de “O Brutalista”, Judy Becker, havia revelado que um arquiteto consultor criou imagens de edifícios com a estética brutalista com ajuda do “Midjourney”, plataforma gratuita de inteligência artificial que se tornou popular nos anos seguintes.

A criação, porém, serviu apenas de inspiração para que ilustradores pudessem criar as artes finais do projeto. Apesar disso, Jancsó confirmou ter usado “para criar pequenos detalhes” visuais que a equipe não tinha “dinheiro ou tempo para fotografar”.

Dirigido por Brady Corbet, “O Brutalista” acompanha a história fictícia de László Tóth, um arquiteto húngaro que foge da Europa pós-guerra para reconstruir seu legado na América. Está previsto para chegar aos cinemas brasileiros no dia 20 de fevereiro.

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