Era por volta de 2010 quando o Maglore fez show em Fortaleza, dentro da programação da Feira da Música. Naquela ocasião, agradaram tanto o público quanto programadores de festivais e produtores que vieram conferir o evento. "Muita gente do circuito independente estava nesse show e a gente foi chamado para um monte de shows em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte. Tudo depois que a gente se apresentou na Feira da Música", reconhece Teago Oliveira, vocalista, guitarrista e compositor da banda baiana.
Depois dali, a banda veio outras vezes. Tocaram no Rock Cordel, na UFC, no Cariri, em Sousa... "Esse show (da Feira) foi bem marcante para a gente enquanto banda, por que tinha muita gente. Esse show foi bem cheio e deu para sentir que o público, principalmente o público adorou. Os agentes culturais também e mantivemos uma certa regularidade em Fortaleza até, eu acho, meados de 2013, 2014. Depois, de lá para cá, começou a ficar mais difícil, né?", lamenta o músico que retorna à Capital neste sábado, 25, para apresentação no Anfiteatro do Centro Dragão do Mar.
O show faz parte do projeto Férias no Dragão que, além do Maglore, traz a banda Edley INC., de Ubajara. Formado por Giorgio Perci (voz e guitarra), Eric Gandhi (bateria), Lucas Aragão (baixo) e Efra Quezede (guitarra), o quarteto apresenta o show "Sinestesia", que explora questões humanas como "instinto, civilização, relações e moralidade", tal qual adiantado em material enviado à imprensa. Apesar de se identificar como um grupo de "rock alternativo", eles flertam com outros estilos, como o progressivo, o rap e o pop.
O Maglore conta, além de Teago, com Lelo Brandão (guitarra e teclado), Lucas Gonçalves (baixo e voz) e Felipe Dieder (bateria). Embora se identifiquem com o rock, eles não perdem a chance de explorar o afoxé, o blues, o ijexá, o eletrônico, e outros ritmos. "Eu sou super influenciado por música estrangeira, mas eu cresci ouvindo música brasileira. Os caras (da banda) também cresceram ouvindo música brasileira. Eu gosto, por exemplo, de Ariano Suassuna e das coisas que ele dizia (citando o escritor russo Leon Tolstoi) que para ser universal é preciso pintar a própria aldeia", destaca Teago apontando entre as influências da banda nomes como Beatles, Caetano, Gal Costa e Erasmo Carlos. Esses dois últimos, inclusive, gravaram músicas dele - "Motor" e "Não há saudade no cosmos", respectivamente.
O Maglore apresenta em Fortaleza um resumo do que fizeram ao longo desses 15 anos de carreira (completados em 2024). Com seis discos lançados, o mais recente é o "V", concebido e finalizado ao longo da pandemia do Covid-19. "A gente começou esse disco em 2020.
Leia no O POVO + | Confira mais histórias e opiniões sobre música na coluna Discografia, com Marcos Sampaio
Só que o Maglore tem uma questão meio peculiar que o Lelo e Dieder moram em Salvador. E eu e Lucas moramos em São Paulo. A gente estava ainda ensaiando na casa do Luquinhas e aí chegou a pandemia. A gente deu uma esfriada e deixamos esse disco em banho-maria", conta ele que esperou dois anos até retomar o trabalho. "Foi uma grande viagem isso aí porque a gente não sabia se ia funcionar pré-produzir de longe. Tem umas limitações, realmente é um processo mais frio. Só que, quando deu uma amenizada, acho que perto da vacina, os caras vieram e passaram uns 20 dias aqui em casa. E aí foi quando o negócio andou de fato".
O resultado foi um disco que aborda a humanidade de uma forma crua e melodiosa. "A vida é uma aventura" fala dos caminhos e descaminhos do cotidiano, enquanto "Eles" aponta contra quem tem "vício em destruição". E o álbum segue falando dos deslocados do mundo ("Espírito selvagem"), dos apaixonados (Amor de verão"), insistentes ("Vira-lata"), politizados ("Revés de tudo"), desenganados ("Medianias"), nostálgicos ("Amor antigo") e outros personagens que encontramos dia e noite nas ruas.
"Essa coisa de ter feito muita coisa em casa deu muito mais tempo para maturar o disco, para não ser gravado rápido. A gente vinha num embalo de um disco num ano, uma turnê no outro. Então, a cada dois anos a gente lançava um disco e esse aí quebrou esse ciclo, por conta da pandemia. Mas acabou gerando algo positivo que foi uma lentidão necessária para o processo de maturação da obra toda, das músicas", avalia Teago.
Depois de "V", eles celebraram os 15 anos do Maglore com um projeto acústico, que nasceu por acaso. Estavam fazendo show em São Paulo quando faltou energia. Como ninguém foi embora, o jeito foi puxar os violões, iluminar com o celular e improvisar um som. Como deu certo, escolheram 12 músicas para regravar em formato desplugado. "Tudo que acontece com o Maglore é por acaso, né? Se pensar muito nas coisas, a gente não faz, entendeu?", avisa Teago, adiantando que a banda já fala sobre um disco de inéditas. "A gente está conversando sobre isso, sobre mais um disco. Não sei se lançamos esse ano ou no próximo, mas a gente já tá no pé de começar a fazer ele", encerra.
Edley INC e Maglore
Conheça a discografia da banda